Poema dedicado aos heróis do povo angolano
Quando voltei as casuarinas tinham desaparecido da cidade
E também tu
Amigo Liceu voz consoladora dos ritmos quentes da farra nas noites dos sábados infalíveis
Também tu harmonia sagrada e ancestral ressuscitada nos aromas sagrados do Ngola Ritmos
Também tu tinhas desaparecido e contigo os Intelectuais a Liga o Farolim as reuniões das Ingombotas a consciência dos que traíram sem amor
Cheguei no momento do cataclismo matinal em que o embrião rompe a terra humedecida pela chuva erguendo a planta resplandecente de cor e juventude
Cheguei para ver a ressurreição da semente a sinfonia dinâmica do crescimento da alegria nos homens
E o sangue e o sofrimento eram uma corrente tormentosa que dividia a cidade
Quando eu voltei o dia estava escolhido e chegava a hora
Até o riso das crianças tinha desaparecido e também vós meus bons amigos meus irmãos
Benge, Joaquim, Gaspar, Ilídio, Manuel e quem mais?
– centenas, milhares, de vós amigos alguns desaparecidos para sempre para sempre vitoriosos na sua morte pela vida
Quando eu voltei qualquer coisa gigantesca se movia na terra os homens nos celeiros guardavam mais os alunos nas escolas estudavam mais o sol brilhava mais e havia juventude calma nos velhos mais do que esperança era certeza mais do que bondade era amor
Os braços dos homens a coragem dos soldados os suspiros dos poetas
Tudo todos tentavam erguer bem alto Acima das lembranças dos heróis Ngola Kiluanji
Rainha Ginga
Todos tentavam erguer bem alto a bandeira da independência
Cadeia do Aljube em Lisboa Agosto de 1960