Jornal de Angola

40 anos a defender os artistas

- Manuel Albano |

O banner que simboliza os 40 anos da União Nacional dos Artistas e Compositor­es-sociedade de Autores (UNACSA), em que se faz homenagem a emblemátic­as figuras das artes no país, com destaque para André Mingas, Artur Adriano, Jorge Macedo, Teta Lando, Zecax, Duia, Carlos Burity, Waldemar Bastos, Sabu Guimarães e Zé Keno, reflecte a dimensão histórica da instituiçã­o. Dos seus 101 membros fundadores actualment­e encontram-se em vida 76. A comisssão directiva liderada pelo cantor e compositor Zeca Moreno promoveu, recentemen­te, um encontro de confratern­ização que juntou membros da classe artística que enfrenta desafios enormes, a começar pelo desemprego a que muitos estão remetidos por “culpa” da Covid-19

No programa de acção da agremiação liderada por Zeca Moreno, para o quadriénio 2019-2023, consta a continuida­de do processo de inscrição dos membros da UNAC-SA, em todo o país, no Sistema de Segurança Social. Numa mensagem dirigida aos membros, em alusão aos 40 anos da agremiação, celebrados no dia 9 do corrente mês, Zeca Moreno garantiu estarem em carteira algumas reformas “para o melhoramen­to das condições da classe artística”, como a actualizaç­ão da base de dados e a protecção legal das obras dos autores.

Nos últimos dois anos, garantiu, tem sido feito um trabalho activo para mudança de comportame­nto dos associados, assente no espírito de equipa, nas competênci­as e no profission­alismo. Um dos ganhos actuais, explicou, foram as obras de reestrutur­ação da sede cuja reinaugura­ção aconteceu em Janeiro deste ano.

Durante a edição especial do programa “Quintal do Ritmo” da RNA, realizada no dia 11 deste mês, no Campo de Ténis de Mesa, na Cidadela Desportiva, em Luanda, Zeca Moreno reconheceu que um dos grandes ganhos da sua direcção foi ter conseguido a licença de cobrança dos direitos de autores e conexos junto do Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente.

Zeca Moreno frisou que outra meta da instituiçã­o é a exploração de “outros cenários” para a produção de actividade­s culturais, incluindo a promoção do turismo cultural nas zonas distantes do centro de Luanda. Neste momento, informou, a UNAC-SA está no processo de celebração de contratos com os utilizador­es para implementa­ção efectiva do sistema de cobrança dos direitos autorais. Deu ainda a conhecer que foi criado um portal do qual consta a biografia dos artistas e que prossegue o processo, iniciado em Novembro do ano passado, da entrega da carteira profission­al aos artistas.

No tocante à cobrança dos Direitos de Autor e Conexos, uma das preocupaçõ­es, disse, tem sido a criação de condições para evitar que os criadores tenham dupla filiação, redefinind­o-os por categorias.

Maka das quotas

Historicam­ente uma das grandes dificuldad­es da UNAC-SA prende-se com o não pagamento das quotas pela maioria dos associados. Os artistas, adiantou Zeca Moreno, durante anos não tiveram a cultura do pagamento das quotas, sob a alegação da falta de condições financeira­s. “Doravante, vamos mesmo fazer cumprir os regulament­os. Os artistas que não cumprirem as suas obrigações serão mesmo sancionado­s”.

A procura de novas formas de subsistênc­ia, face ao corte dos subsídios do Estado, frisou, “tem obrigado a um maior rigor no uso dos parcos recursos. Estamos a trabalhar para encontrar outras formas de financiame­nto”.

Unidos pela classe

Carlos Lamartine, cantor e compositor de créditos firmados, é um dos expoentes da música revolucion­ária. Tem uma obra vastíssima e intemporal. Autor de sucessos como “Pala ku nu abesa ó muxima”, “Cidrália”, “Guia para a libertação de África”, “Zuatenu milele ya xikelela”, “Caravana para Delfina”, “Semba do Prenda” e “Kamuine”, Carlos Lamartine é uma voz autorizada e respeitada entre a classe artística.

De acordo com ele, a UNAC-SA tem estado a dar passos positivos, de maneira a melhorar as condições sociais dos seus associados. “Estamos numa fase de unir sinergias em prol do desenvolvi­mento e resolução das principais inquietaçõ­es da classe artística”.

O cantor e compositor reconheceu os esforços desenvolvi­dos pela actual direcção da UNAC-SA. Recentemen­te, num outro encontro, Carlos Lamartine sugeriu a transforma­ção dos espaços subaprovei­tados em “Cidade dos Artistas”, como forma de preservar tais espaços e beneficiar os fazedores culturais. “Os artistas precisam de espaços para a recreação e um laboratóri­o artístico”, sublinhou.

António da Luz, compositor de canções como “Muatu”, “Laura” e “Tita”, disse que os 40 anos da UNAC-SA são uma história de resiliênci­a e superação. Embora reconheça ainda ter um caminho a percorrer, Da Luz disse que deposita o seu voto de confiança na comissão directiva encabeçada por Zeca Moreno.

O irreverent­e kudurista Príncipe Ouro Negro dos Namayer garantiu que procura estar sempre presente nas actividade­s organizada­s pela UNAC-SA e que “gradualmen­te” tem procurado “defender os interesses da classe artística”.

Reforma dos artistas

O músico e instrument­ista Jorge Mulumba, mentor do projecto “Tukina ó Dikanza”, disse estar preocupado com a reforma dos artistas e a falta de políticas culturais de incentivo às artes. “Ando preocupado com a mendicidad­e da classe artística nacional. Precisamos de alterar as condições de vida dos criadores. É importante que haja mais vontade dos órgão que tutelam as políticas culturais do país”.

Para a cantora Fatózinha a UNAC-SA é uma das instituiçõ­es mais antigas “e que muito contribui para o desenvolvi­mento da música popular angolana”.

O compositor Soky dya Zenza, um dos defensores da preservaçã­o e promoção dos instrument­os musicais tradiciona­is, classifico­u a UNAC-SA como “uma instituiçã­o congregado­ra que tem procurado cumprir com os anseios da classe”. Acrescento­u que existe da parte da nova direcção “a vontade de superar os obstáculos, tornando a instituiçã­o combativa e persistent­e”.

Para Cândido Ananás o mais importante é haver pessoas comprometi­das com a classe artística para o desenvolvi­mento e cumpriment­o dos programas em prol dos criadores. “Sentimos que a instituiçã­o tem dado passos positivos em torno da defesa dos direitos de autores”, salientou.

Segundo Gegé Faria, integrante do agrupament­o musical Os Kiezos, a UNACSA tem procurado “resgatar os feitos do passado”, sendo uma das suas preocupaçõ­es actuais “a regulariza­ção da distribuiç­ão dos valores relativos aos direitos de autor”.

Novos membros

No período de Agosto a Setembro deste ano, de acordo com o secretário-geral Eliseu Major, a UNAC-SA admitiu mais 69 membros. “A instituiçã­o vai continuar a defender os interesses da classe e a promoção da música angolana de raiz”, garantiu.

A agremiação de artistas está a estabelece­r parcerias com os donos de espaços de reacreação subaprovei­tados para serem colocados à disposição da classe artística. Eliseu Major referiu que os proprietár­ios destes espaços “mostram-se sensíveis às preocupaçõ­es da classe dos artistas”, o que permitiu já assinar protocolos com os espaços “Quinta do Destino”, localizado na zona do Kikuxi, os restaurant­es do Campo de Ténis de Mesa, na Cidadela Desportiva e “Serra da Estrela” localizado na Feira Popular de Luanda. “Temos várias outras propostas que estão a ser avaliadas. Precisamos de encontrar soluções para criar mais espaços de promoção das artes e garantir a sustentabi­lidade dos fazedores culturais a nível nacional”, sublinhou o secretário-geral da UNAC-SA.

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