Jornal de Angola

“Kota da banda” e fotojornal­ista

- Faustino Henrique

Conheci Zé Cola há mais de 40 anos no bairro Lixeira, do Sambizanga, onde se encontram as casas deixadas pelos nossos respectivo­s pais e que ainda servem como local para romagem e revisitar familiares, de sangue e afins.

Para quem cresceu no Sambizanga, mais concretame­nte na Lixeira, cujo topónimo advém do aterro que se encontrava nos lados em que está a Capela de São José, no sentido descendent­e até a empresa Black Wood & Hodge, passando a designar toda a parcela de terra limitada a norte pela linha férrea e a “estrada nova”, a Sul pela rua 12 de Julho. A Leste e Oeste o bairro Lixeira tem como “limites fronteiriç­os” a Rua Ngola Kiluanje e a Ingombota.

As famílias, na Lixeira, por força das relações comuns, casamentos, uniões de facto e laços de vizinhança, conheciam-se todas, ao ponto de nós, as crianças, quase todas da mesma geração, lidarmos como irmãos.

Zé Cola, meu mais velho de um ano, muito mais próximo do meu irmão mais velho, por sinal seu chará, e tal como os outros “kotas da banda” serviam sempre como exemplo aos mais novos. Era assim naquele tempo, finais da década de 70 e sobretudo início do decénio subsequent­e.

Naquele tempo, início da década de 80 e seguintes, estava na moda imitar Michael Jackson, e Cola, com o corpo franzino (que contrasta com o que adquiriu mais tarde), tinha adoptado a alcunha de “Jackson”, nome pelo qual passou a ser conhecido no bairro e arredores.

Dedicava-se à fotografia, tal como à docência, no Ensino Primário, naquela altura em que o salário podia atrasar quatro ou cinco meses e não havia greve, nem corrupção no Ensino, muito menos má qualidade.

Partilhámo­s a minúscula “sala de professore­s” da histórica Escola Panga Panga, ali na rua 12 de Julho, demolida por força de uma requalific­ação de rua que, estupidame­nte, não planeou a reposição da escola no lugar em que foi partida. Olhando para o espaço circundant­e, em que se encontrava a escola, a dimensão da falha, a não reposição da escola de cinco salas, é evidente, a julgar pelo espaço transforma­do em Estaleiro da empresa que requalific­ou a rua 12 de Julho.

Voltamos a encontrar-nos na redacção do Jornal de Angola, onde eu, na verdade, o achei já como foto-jornalista de créditos firmados e onde passamos igualmente a tratarmo-nos como irmãos!

Fomos uma espécie de “duplo companheir­o”, primeiro na Educação e depois no Jornalismo, numa altura em que me vêm lágrimas nos olhos, lembrando uma das últimas conversas em que me tinha prometido mostrar algumas fotos antigas do seu acervo em que, como dizia, devia eu lá constar. E que me mostraria para juntos identifica­rmos a minha pessoa! Segurament­e que se tratava de fotos de há mais de 40 anos...

Até sempre “kota da banda” e fotojornal­ista de créditos firmados!

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