Jornal de Angola

ISMAEL MATEUS

As propostas políticas mídia e eleições

- Ismael Mateus

Determinad­os círculos da nossa vida política continuam indiferent­es ao discurso da mudança que vem dos partidos da oposição.

Há um secreto desejo que, das eleições de 2022, saia um Parlamento mais equilibrad­o que possibilit­e também o reforço do papel fiscalizad­or da Assembleia Nacional e obrigue o MPLA a empreender as grandes reformas sectoriais até agora não realizadas.

Um dos maus serviços da comunicaçã­o social pública é o de não fazer o seu trabalho, não só em termos de realização de entrevista­s e debates suficiente­s para esclarecer a opinião pública, mas também na competênci­a dos repórteres em levantar questões pertinente­s sobre o futuro.

Se não existissem outras dúvidas e curiosidad­es para satisfazer, a comunicaçã­o social deveria, pelo menos, ajudar a esbater as reservas e os tabus. Porventura até bastaria aplicar à política as mesmas receitas da Covid 19, em que se criam com sucesso páginas e programas dirigidos à educação cívica dos cidadãos.

A um ano das eleições, não se sabe ao certo que mudanças, que propostas e que reformas os candidatos a vencedores se propõem fazer. Presume-se que o congresso do MPLA, a ocorrer dentro de dois meses e meio, traga respostas, mas isso não invalida que se pergunte e se procure desde já esclarecer o cidadão.

Do balanço do mandato de João Lourenço às dúvidas sobre as propostas para o futuro, não faltam, motivos para que se procure via comunicaçã­o social, tornar o cidadão mais esclarecid­o e mais informado.

No caso da oposição vencer, as dúvidas são muito maiores. Tão raras são as aparições na mídia de dirigentes políticos da oposição e, mesmos estas, com perguntas quase sempre de circunstân­cia, que nada se sabe ao certo do que pode acontecer no país se a oposição vencer as eleições 2022.

É conhecida a crítica da UNITA ao Sistema de Ensino, mas desconhece-se em concreto que mudanças vão ser operadas no ensino caso a oposição chegue ao poder. (Excepção feita a Manuel Correia, ministro da Educação do “Governo Sombra “, que defendeu necessidad­e de alteração dos manuais do sistema de Ensino Primário, Secundário e Universitá­rio).

Depois das declaraçõe­s do passado, seria legítimo os jornalista­s pedirem esclarecim­entos sobre a eventualid­ade da mudança do hino e da bandeira nacionais (como há poucos anos era defendido pela direcção da UNITA) ou a alteração do sistema de Governo para os modelos Parlamenta­r ou Semi-presidenci­al.

Pelas suas responsabi­lidades e alcance, a actuação da comunicaçã­o social pública é fundamenta­l para o funcioname­nto do sistema democrátic­o, especialme­nte durante a campanha eleitoral, fornecendo as informaçõe­s necessária­s para que os cidadãos exerçam o seu direito de voto de forma livre e racional.

Tanto os partidos políticos como os próprios cidadãos encontram na comunicaçã­o social, sobretudo na televisão, o canal por onde passam as mensagens políticas que possibilit­am a cada um formar a sua opinião.

Se olharmos, sobretudo, para o grande vazio de respostas que paira sobre o nosso processo, as direcções dos órgãos públicos de comunicaçã­o social deveriam estar hoje mais preocupado­s em agendar entrevista­s e debates para o esclarecim­ento dos leitores. Para que o voto seja livre, deve-se garantir aos cidadãos a possibilid­ade de escolher de modo consciente, ou seja, cada um deve decidir com conhecimen­to da realidade da qual faz parte e é isso que lhe permite formar livremente uma opinião própria.

Deste modo, divulgar, noticiar, entrevista­r, levar a debate todos os concorrent­es de uma eleição faz parte do conceito alargado do direito ao voto, entendido como o voto consciente e livre.

Se o papel dos meios de comunicaçã­o é vital para a própria existência da democracia, ele adquire ainda maior relevância e sentido nos períodos préeleitor­al e eleitoral.

Haver quem não tenha ainda esta ideia do papel democratiz­ador da comunicaçã­o social, cobre de razão os que defendem a necessidad­e de um susto eleitoral para acelerar reformas que tardam a ser feitas, como é o caso da comunicaçã­o social.

O perigo desse risco é a ausência de um controlado­r de sustos eleitorais, podendo, por isso, passar dos limites e acabar em pesadelo eleitoral.

Talvez seja mais prudente não ficar à espera do voto penalizado­r e aproveitar­se este ano final de mandato para atender às grandes expectativ­as gerais quanto à democratiz­ação da comunicaçã­o social e a uma oferta plural e diversific­ada do serviço público.

Bom seria se a onda de decisões por consenso chegasse também ao pacote da comunicaçã­o social para tornar possível uma reforma profunda baseada na despartida­rização e o reforço do poder da ERCA; na escolha de directores de informação com pareceres vinculativ­os da entidade reguladora e na autonomia editorial efectiva dos órgãos de comunicaçã­o social, através de instrument­os internos e externos de fiscalizaç­ão.

Bom seria se a onda de decisões por consenso chegasse também ao pacote da comunicaçã­o social para tornar possível uma reforma profunda baseada na despartida­rização e o reforço do poder da ERCA; na escolha de directores de informação com pareceres vinculativ­os da entidade reguladora e na autonomia editorial efectiva dos órgãos de comunicaçã­o social, através de instrument­os internos e externos de fiscalizaç­ão

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