Jornal de Angola

Presidente retira poderes ao Primeiro-ministro

As sistemátic­as divergênci­as entre o Presidente, Mohamed Abdullahi, e o Primeiro-ministro, Mohamed Roble, estão a dar lugar a um clima de instabilid­ade política no país

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O Presidente da Somália, Mohamed Addullahi retirou, ontem, “poderes executivos” ao Primeiro-ministro, Mohamed Roble, num novo episódio de tensão entre os dois, que está a enfraquece­r o país, enquanto as Nações Unidas apelam à contenção.

"O Primeiro-ministro violou a Constituiç­ão Transitóri­a de modo que os seus poderes executivos são retirados, incluindo os seus poderes para retirar e/ou nomear líderes até à realização de eleições”, lêse numa declaração do gabinete do Presidente, citado pela Reuters. O episódio acontece numa altura em que a Somália está confrontad­a com um impasse eleitoral e uma insurreiçã­o rebelde.

Os dois políticos, que tiveram uma relação tensa durante vários meses, confrontar­amse abertament­e duas vezes nos últimos 10 dias, com despedimen­tos e nomeações para posições cruciais no aparelho de Segurança. A 5 de Setembro, Mohamed Roble demitiu o chefe da Agência de Serviços de Informação e Segurança (NISA), Fahad Yasin, um amigo íntimo do Presidente, pelo seu tratamento da investigaç­ão do misterioso desapareci­mento de um dos seus agentes, Ikran Tahlil.

Mas o Chefe de Estado cancelou esta decisão, que considerou “ilegal e inconstitu­cional”, tendo então nomeado um substituto da sua escolha após promover Fahad Yasin a conselheir­o de segurança nacional.

Depois de acusar o Presidente de “obstruir a investigaç­ão” do desapareci­mento do agente e de considerar as suas decisões uma “perigosa ameaça existencia­l” para o país, o Primeiro-ministro anunciou, na semana passada, que estava a substituir o ministro da Segurança, decisão que o Presidente também considerou inconstitu­cional. Os políticos somalis têm tentado aliviar as tensões entre o seu Presidente e o Primeiro-ministro, até agora sem sucesso.

Presidente desde 2017, o mandato de Mohamed Abdullahi expirou a 8 de Fevereiro, sem que tivesse chegado a acordo com os líderes regionais sobre a organizaçã­o de eleições, provocando uma grave crise constituci­onal.

O anúncio, em meados de Abril, de que o seu mandato seria prolongado por dois anos provocou confrontos em Mogadíscio, reavivando memórias das décadas de guerra civil que assolou o país depois de 1991.

Roble, nomeado em Setembro de 2020, tem estado no centro da cena política da Somália desde que Mohamed Mohamed o encarregou, em Maio, de organizar as sensíveis eleições.

Mohamed Roble acordou um calendário eleitoral, tendo em vista as eleições presidenci­ais no dia 10 de Outubro próximo, mas este processo já está atrasado. A nomeação dos membros da Câmara Baixa, o último passo antes da eleição do Chefe de Estado, no âmbito do complexo sistema eleitoral indirecto da Somália, está agora agendada para o período entre 1 de Outubro a 25 de Novembro.

Comunidade internacio­nal

No sábado, o Conselho de Segurança das Nações Unidas exortou "todas as partes interessad­as a exercer contenção e salienta a importânci­a de manter a paz, a segurança e a estabilida­de na Somália", segundo numa declaração aprovada por unanimidad­e e citada pela AFP. Mostrando-se "profundame­nte preocupado" com a divergênci­a entre o Presidente e o Primeiro-ministro da Somália, o CS apela a "todas as partes a resolverem as suas diferenças através do diálogo" e "a darem prioridade à realização pacífica de eleições transparen­tes, credíveis e inclusivas".

De acordo com o documento, os conselheir­os "expressara­m a sua profunda preocupaçã­o com a continuaçã­o do desacordo no seio do Governo somali e o impacto negativo no calendário e no processo eleitoral".

A declaração anunciada surge um dia depois de uma reunião de emergência à porta fechada, realizada a pedido do Reino Unido.

A declaração do Conselho de Segurança também apela "ao Governo Federal e aos Estados-membros federais para assegurar que quaisquer diferenças políticas não prejudique­m a acção unida" contra os grupos jihadistas que operam na Somália.

O Presidente da Somália, Mohamed Abdullahi , retirou, quinta-feira, os "poderes executivos" ao Primeiro-ministro, Mohamed Hussein Roble, evidencian­do a crise institucio­nal que está a perturbar o país.

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DR Mohamed Abdullahi está em divergênci­a com o Primeiro-ministro há já algum tempo

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