Os Zangos em ebulição
Quem vive hoje nos subúrbios, nos musseques ou, simplesmente, nos bairros periféricos da “cidade de Luanda antiga”-, aquela cujo centro continua a ser a zona da Mutamba -, e deseja crescer praticamente a partir do nada, junta as poucas economias que tiver, pede reforço aos familiares e aos amigos, negoceia com um proprietário ansioso por desfazer-se de uma residência ou com um intermediário avisado e sempre sedento por ganhar umas coroas e vai instalar-se em qualquer uma das suas novas zonas em expansão.
Os Zangos são uma dessas zonas para onde a cidade de Luanda antiga parece se ter espreguiçado: nela, o instinto de "supervivência", a necessidade de ter uma vivenda maior melhorando as condições tanto de vida como de habitabilidade, incluindo, muitas vezes, a procura de um ambiente, simultaneamente, de devassidão e de vitalidade se conjugam para fazer vibrar a zona. As pessoas, que para lá vão, aceitaram o desafio de viver uns anos em condições que ainda não são óptimas, mas que têm potencial de, um dia, serem.
A zona dos Zangos está subdividida por áreas. Existem várias que se encontram enumeradas e vai do zero aos cinco mil: dentro e a volta de um núcleo de vivendas de baixa renda (mas que o proprietário pode reabilitar ao seu gosto) se vão encaixando uma série de serviços vários dos quais tendencialmente lucrativos, que vão dos supermercados, a venda a retalho de produtos diversos às hospedarias, negócios mais ou menos discretos como espaços de lazer e de liberdade.
Muita gente jovem, e outra nem tanto, optaram por ir viver, preferencialmente em casa própria, nesta área de espaços mais abertos, sem ser compacta como a centralidade do Kilamba e que, apesar de parecer desorganizada, em rigor, funciona com a flexibilidade de uma harmónica. Como sucede um pouco por todas as partes, a sua dinâmica varia em dependência do dia da semana e do horário do dia, mas ao situar-se numa zona contígua ao Kikuxi, no Perímetro Irrigado de Viana, as frutas e as verduras, a galinha e os ovos parecem custar mais barato que noutras zonas da cidade, pelo que o baixo custo de vida a torna ainda mais atractiva.
A zona dos Zangos é animada, mas também com muita insegurança e riscos vários: quase sem nenhuma passadeira à vista, nem semáforos nas avenidas e ruas, com gente a atravessar a toda hora e a todo o momento, com pessoas a gritarem e os carros a passarem mais céleres quando há menos trânsito e mais lentos com a fila de carros mover-se como se fosse uma jibóia repleta e a rastejar. A oferta de serviços sociais (escolas, institutos pré-universitários, centro médicos ou hospitais) com um mínimo de qualidade é escassa ou até mesmo inexistente: é frequente vermos templos e igrejas implantadas na área.
De repente, nos últimos três anos a densidade populacional da zona aumentou consideravelmente e com ela, tudo de bom e, também, tudo de mau. Para quem acede aos Zangos por via da Avenida Fidel Castro ao chegar, no nó rodoviário em que está a sua primeira entrada vai contando do zero aos cinco mil: para quem não vive na zona fica difícil saber onde começa um determinado zango e onde termina o outro.
Pela cor da areia não é possível distinguir uns Zangos de outros, porque em todos ela abunda: distintos supermercados já se instalaram na zona. Para ir ao Calumbo, por essa via, tens que passar por todos eles. Na zona, os grandes eixos rodoviários estão bem delineados e as ruas secundárias ajudam a descongestionar o trânsito: há até grandes avenidas que, não fosse a falta de limpeza e os montes de areia, de lixo, de sacos e garrafas de plástico, nas suas bermas, até pareceriam Boulevard. É frequente ver pessoas a queixarem-se da intensidade do Sol, na zona, onde falta sombra: a escassa arborização, a ausência de zonas verdes e de jardins fazem da aridez, que até poderia ser mitigada, uma característica da zona.
Nos Zangos, há zonas que têm cheiros, sobretudo de churrasco ou a cabrité, outras destacam-se pela proximidade de algum mercado ou, simplesmente, pelas vendedoras de frutas e de legumes a beira das estradas ou pelas muitas paragens de autocarros ou de candongueiros: à volta abundam as tascas e tem até uma rua que chamam dos quiosques, onde vícios, excessos e alegrias foram lá reunir-se para criar espaços de ebriedade e de libertinagem, de prazer e de aventuras, para desanuviar ou afogar frustrações, a maior prova da efervescência dos Zangos, uma forma de descompressão social.
Nos Zangos, há zonas que têm cheiros, sobretudo de churrasco ou a cabrité, outras destacam-se pela proximidade de algum mercado ou, simplesmente, pelas vendedoras de frutas e de legumes a beira das estradas ou pelas muitas paragens de autocarros ou de candongueiros: à volta abundam as tascas