O transporte ferroviário
A retoma do transporte de gás butano em vagões, através do Caminhode-ferro de Luanda, para Malanje, 30 anos depois, constitui uma grande novidade para aquela última e, de uma maneira geral, para todo o Leste do país.
O impacto da notícia não radica apenas no hiato temporal que acaba agora por ser encerrado, mas fundamentalmente na dimensão económica e ambiental do problema ligado ao gás de cozinha. Afinal, à medida que os metros cúbicos de gás butano chegarem ao Centro-norte e Leste de Angola, muitas das actividades empresariais, por exemplo ao nível da restauração, ao lado das necessidades domésticas para com o referido produto, conhecerão uma espécie de reviravolta.
Esperemos que as famílias e pessoas singulares que ficaram, de alguma forma, prejudicadas com a falta de gás, cujo transporte acaba agora por ser retomado, consigam recuperar o tempo perdido e relançar as bases em que assentam os seus negócios.
Do ponto de vista ambiental, o papel do gás de cozinha nos espaços urbanos e rurais vai acabar por minimizar os crimes contra o meio, protagonizados por pessoas dedicadas à produção de carvão. Não é segredo para ninguém o papel quase que insubstituível, em muitas comunidades rurais, da lenha como substituto do gás em numerosas cozinhas ou espaços de confecção de comida. Caso as famílias, mesmo a partir das zonas mais recônditas de Angola, consigam ter acesso alargado ao uso de gás butano, não há dúvidas de que essa realidade influenciará na forma como as pessoas acedem aos vegetais para efeitos de combustível lenhoso.
A circulação normal do comboio, particularmente com a retoma do transporte de gás para Malanje, vai, seguramente, beneficiar as outras províncias, no caso as circunvizinhas, cujas preocupações relacionadas com a depauperação acelerada dos recursos florestais, usados como combustível, poderão conhecer alguma desaceleração.
Por outro, esperemos que esta experiência com a retoma do transporte de gás, 30 anos depois, represente um passo na direcção do reaproveitamento de outras capacidades dos Caminhos-de-ferro para o transporte de outras mercadorias.
Na verdade, esperamos que o Caminho-de-ferro de Luanda aumente a frequência, ao longo de todo o seu ramal, e, mais importante, ajude na transportação, com celeridade, facilidade de acesso e competitividade nos preços, de produtos diversos. Falamos essencialmente daqueles produtos do campo cujos agricultores, ali onde seja possível escoar pela via férrea, se queixam reiteradas vezes da falta de transporte para os grandes centros de consumo. O que se inicia agora na linha Luandamalanje, 30 anos depois, deverá servir para incentivar igualmente as outras linhas férreas, no Centro e Sul do país, a reinventarem-se para o transporte de produtos diversos para os locais de comercialização e consumo. Esperemos que, com a retoma do transporte de gás butano para Malanje cubra o longo e largo vazio que este importante serviço fazia para as comunidades, agora servidas com o relevante produto.