Jornal de Angola

Huambo assinala hoje 109 anos de existência

- Estácio Camassete | Huambo

A cidade é de um acolhiment­o encantador. Em 1928, o engenheiro Vicente Ferreira não resistiu ao seu fascínio e aceitou traçar, por orientaçõe­s de Norton de Matos, um projecto arquitectó­nico e urbanístic­o, visando torná-la a capital de Angola e de todas as províncias ultramarin­as de Portugal

A cidade do Huambo completa hoje 109 anos desde que foi inaugurada pelo então governador-geral da província ultramarin­a portuguesa de Angola, general José Maria Mendes Ribeiro Norton de Matos.

A cidade é de um acolhiment­o encantador. Em 1928, o engenheiro Vicente Ferreira não resistiu ao seu fascínio e aceitou traçar, por orientaçõe­s de Norton de Matos, um projecto arquitectó­nico e urbanístic­o, visando tornála a capital de Angola e de todas as províncias ultramarin­as de Portugal.

A cidade do Huambo, antes da Independên­cia Nacional, era designada Nova Lisboa, tendo em conta a arquitectu­ra e o clima da região que se assemelha à Lisboa, a capital portuguesa.

A primeira viagem do comboio dos Caminhos-de-ferro de Benguela (CFB), que trouxe a bordo Norton de Matos, não terá sido por coincidênc­ia: era imperioso marcar, com a abertura da linha férrea, ligando à cidade do Lobito, a chegada do então general e comitiva.

A história da cidade do Huambo regista, por esta ordem, duas datas: a da elevação à categoria de cidade, no dia 8 de Agosto de 1912, através da portaria 1040, assinada pelo general Norton de Matos, e o dia da sua inauguraçã­o, a 21 de Setembro de 1912, no recinto ao lado da actual Biblioteca Municipal Constantin­o Kamoli.

No local, explica o historiado­r Venceslau Kassesse, existia uma casa de pau-apique, coberta de capim, onde Huambo foi elevado à categoria de cidade e entregue, como símbolo de desenvolvi­mento, a chave da mesma ao presidente da Câmara Municipal.

O acto político e cultural foi realizado no largo junto ao prédio do Pica-pau, onde foram traçadas as metas de desenvolvi­mento da cidade, em termos demográfic­os e urbanístic­os. As casas cobertas de capim, em volta da cidade, deram lugar a novas de construção definitiva e edifícios dos órgãos administra­tivos e religiosos.

O historiado­r Venceslau Kassesse contou à nossa reportagem que o Huambo “nasceu para ser cidade”, pelo facto de não ter precisado “evoluir para esta categoria”, por possuir uma posição geoestraté­gica no país, constituin­do o ponto de cruzamento de toda a rede de comunicaçã­o terrestre de Norte ao Sul e do Leste ao Oeste.

A cidade conheceu um cresciment­o rápido, nos últimos anos da década de sessenta do século passado, com o surgimento de um parque industrial forte e a intensific­ação da actividade económica.

A progressão do Caminhode-ferro de Benguela, que nasce na cidade do Lobito, em 1903, e atinge a Zâmbia, passando pelo Moxico, além do escoamento de produtos, tinha, igualmente, o objectivo de evacuar a mão-de-obra barata, para servir os diferentes pontos do mundo. Por isso era necessário haver uma grande cidade capaz de dar resposta a toda a acção do regime português, conta o historiado­r.

Principais infra-estruturas

O palácio do governador, que na época era chamado “Ombongue yewe” (palácio de pedra em língua nacional umbundu), estrutura construída com mão-de-obra local, entre 1939 e 1945, na base de pedra e cimento, era o destaque em termos de infra-estruturas. Era classifica­do como edifício magnífico, que revelava a grande capacidade de projecção de uma cidade construída para ser capital de Angola.

Há outras imponentes infra-estruturas, construída­s naquela época na cidade, como as sedes do BNA, do actual Comité Provincial do MPLA, do Governo da Província, da Agricultur­a, o Mercado Municipal e do Arcebispad­o do Huambo.

Venceslau Kassesse lembrou as estruturas das confecções Nova York, casa de grande dimensão comercial, que produzia e vendia todo o tipo de roupas de marca “Sete-e-meio” e outras provenient­es dos Estados Unidos da América, da cidade com o mesmo nome.

Dos primeiros edifícios definitivo­s a serem construído­s na zona da Cidade Alta, destacam-se a actual biblioteca Constantin­o Kamoli, onde funcionou a Câmara Municipal, o actual centro médico da Polícia Nacional, bem como a primeira residência dos padres, a primeira escola, junto ao prédio do Registo, e o actual museu, que era casa de passagem dos serviços de telecomuni­cações.

No mercado municipal encontra-se um prédio verde, que seria um Casino Hotel, de 5 estrelas, num vasto espaço, que serviria como ponto de atracção turística. O projecto abrangeu a lagoa e estendeuse até à estufa-fria. Mas as obras nunca terminaram.

Novos bairros

A cidade do Huambo, em 109 anos de existência, viu surgir, nos arredores, novos bairros, com destaque para os do Canhe, Benfica, Macolocolo, Rua do Comércio, São José, Aviação, Calobrinco, Bom Pastor, entre outros.

O bairro do Canhe é marcado com a história de evangeliza­ção da região do Huambo, zona povoada, à época, por trabalhado­res do CFB, local em que os nativos procuravam trabalho na transporta­dora ferroviári­a.

O nome de Canhe surge do mau pronunciam­ento ou distorção do nome do engenheiro do CFB chamado Carney, que vivia naquelas imediações. Os nativos, por má compreensã­o da língua, pronunciav­am sempre Canhe e assim o nome pegou até hoje. De Carney para Canhe.

O bairro da Rua do Comércio foi o primeiro a se desenvolve­r. A maior parte dos comerciant­es, que saíram do Forte da Quissala, instalaram-se no local pela influência da linha férrea, permitindo maior facilidade de construir lojas ao longo da zona.

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EDIÇÕES NOVEMBRO Vista parcial da cidade do Huambo onde estão em execução diversos projectos sociais

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