Relatório denuncia maus-tratos e abusos
Os talibãs no Afeganistão “estão a desmantelar sistematicamente os avanços em termos de direitos humanos conseguidos nos últimos 20 anos”, denunciam três Organizações Não Governamental , num relatório divulgado, ontem, onde apontam maustratos e abusos ocorridos desde meados de Agosto.
Os talibãs tentaram convencer o mundo que iam respeitar os direitos humanos, mas as informações do terreno mostram uma outra realidade”, diz o documento realizado pela Amnistia Internacional (AI), a Federação Internacional de Direitos Humanos (FIGH) e a Organização Mundial Contra a Tortura (OMCT).
O relatório documenta uma série de violações dos direitos humanos: intimidação e repressão das mulheres e dos defensores dos direitos humanos, represálias contra funcionários do antigo Governo, ataques contra a liberdade de expressão.
Baseado nomeadamente numa dezena de testemunhos directos, o relatório cobre o período entre 15 de Agosto, data da queda de Cabul nas mãos dos talibãs, e 12 de Setembro.
“A vida de milhares de mulheres e de homens que arriscaram a vida para defender os direitos humanos está por um fio”, indica o texto, que cita um defensor dos direitos humanos que conseguiu fugir do país e que descreve o “clima de medo” mantido pelo movimento fundamentalista e como dois colegas seus foram chicoteados.
Assim como duas jornalistas de Cabul que, após ameaças e intimidações, abandonaram a capital, tendo uma delas deixado o país.
“Devido ao clima de medo criado pela tomada de poder pelos talibãs, numerosas afegãs agora usam a burca, abstêm-se de sair sem um tutor masculino e abandonaram algumas actividades para evitar violência e represálias”, assinala o relatório.
O texto documenta igualmente as dificuldades de quem tenta fugir do país. “Alguns foram torturados ou maltratados”, nomeadamente nas duas semanas a seguir à queda de Cabul, quando milhares tentaram alcançar o aeroporto da capital para arranjar lugar nos voos organizados para a retirada de pessoas.
As organizações não-governamentais pedem ao Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas que estabeleça um mecanismo de investigação independente para identificar esses abusos e lutar contra a impunidade.