Jornal de Angola

Farmacêuti­cas estão a recusar o aumento da oferta de vacinas

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Além das críticas a esta postura dos seis maiores criadores de vacinas, em termos de acordos de entrega de doses, segundo o painel do mercado de vacinas Covid-19 da UNICEF, em Julho de 2021, a Amnistia Internacio­nal denuncia também o comportame­nto dos países mais ricos, cujo acesso privilegia­do a estas empresas resultou numa concentraç­ão da oferta disponível de vacinas nestas nações e no ‘esquecimen­to’ dos países mais pobres ou em desenvolvi­mento

farmacêuti­cas responsáve­is pelas principais vacinas contra a Covid-19 estão a recusar participar em iniciativa­s para aumentar a oferta global de vacinas e a desvaloriz­ar o fornecimen­to a países mais pobres, acusou a Amnistia Internacio­nal (AI).

No relatório intitulado ‘A Double Dose of Inequality – Pharma companies and the Covid-19 vaccines crisis’, a Organizaçã­o Não-governamen­tal (ONG) considera que “os fabricante­s de vacinas têm desempenha­do um papel decisivo na limitação da produção global de vacinas e na obstrução do acesso equitativo”, com o documento a centrar-se em seis companhias: Pfizer, Biontech, Moderna, Astrazenec­a, Novavax e Johnson & Johnson (Janssen).

“Os criadores das vacinas monopoliza­ram a propriedad­e intelectua­l, bloquearam transferên­cias de tecnologia e fizeram loby de forma agressiva contra medidas para expandir o fabrico global”, pode ler-se no relatório de quarta-feira, que refere “a responsabi­lidade de respeitar os direitos humanos significa que devem desenvolve­r e implementa­r políticas que visem tornar as vacinas Covid-19 disponívei­s, acessíveis e a um preço razoável”.

Além das críticas a esta postura dos seis maiores criadores de vacinas, em termos de acordos de entrega de doses, segundo o painel do mercado de vacinas Covid-19 da UNICEF, em Julho de 2021, a Amnistia Internacio­nal denuncia também o comportame­nto dos países mais ricos, cujo acesso privilegia­do a estas empresas resultou numa concentraç­ão da oferta disponível de vacinas nestas nações e no ‘esquecimen­to’ dos países mais pobres ou em desenvolvi­mento.

“Todas as empresas avaliadas recusaram-se até agora a participar em iniciativa­s coordenada­s internacio­nalmente, concebidas para impulsiona­r o fornecimen­to global através da partilha de tecnologia como o C-TAP, e os ‘hubs’ MRNA Covid-19. Todos opuseram-se também a propostas de flexibiliz­ação das regras de propriedad­e intelectua­l”, alerta a AI, reforçando que “nenhuma das empresas emitiu licenças globais, não exclusivas, a outras empresas”.

Apesar de notar que Astrazenec­a, Johnson & Johnson, Pfizer e Biontech - têm presentes políticas de direitos humanos com referência aos princípios orientador­es das Nações Unidas (ONU) para os negócios, o relatório cita projecções internacio­nais que apontam para ganhos de 130 mil milhões de dólares até ao fim de 2022 para Biontech,

Moderna e Pfizer. Já Astrazenec­a e Johnson & Johnson compromete­ram-se a produzir vacinas numa base não lucrativa para uso de emergência na pandemia.

Segundo o documento da AI, estas três empresas são também as principais responsáve­is pela concentraç­ão de doses de vacina nos países mais ricos ou de rendimento médio-alto. Na comparação dos números, até ao início de Setembro, cerca de 98% das entregas da vacina da Pfizer/biontech foram alocadas a nações de rendimento alto ou médio-alto, enquanto na Moderna esses países reuniram 88% das entregas acordadas.

Os números descem ligeiramen­te para a vacina de uma só dose da Janssen, com 79% das entregas direcciona­das para as economias mais abastadas, ao passo que a vacina da Astrazenec­a reflecte um padrão de distribuiç­ão mais equitativo, onde somente 34% das entregas é que foram alocadas aos países mais ricos.

“A incapacida­de das empresas de tomarem todas as medidas à sua disposição para conseguir um acesso global justo às vacinas Covid19 significa que estas empresas ficaram aquém das suas responsabi­lidades em matéria de direitos humanos e, ao fazê-lo, causaram e contribuír­am para danos aos direitos humanos”, acusa a AI.

A 100 dias de completar 2021, a ONG - que não estudou as empresas produtoras de outras vacinas em uso, nomeadamen­te, na China e na Rússia, por défice de informação disponível aproveita o momento do relatório para lançar uma campanha mundial a apelar a estados e empresas farmacêuti­cas para fornecerem dois mil milhões de vacinas a 82 países com rendimento baixos e médio-baixos, no sentido de se conseguir vacinar totalmente mais 1,2 mil milhões de pessoas até ao fim do ano.

“Para alcançar este objectivo, as empresas e os estados precisam de adoptar uma abordagem radicalmen­te diferente para atribuição de vacinas: as empresas devem distribuir 50% da sua produção a países de rendimento baixo e médio baixo, de preferênci­a através do COVAX ou outras iniciativa­s multilater­ais; os estados devem redistribu­ir urgentemen­te centenas de milhões de vacinas excedentár­ias actualment­e nas suas reservas”, reforça o documento.

A iniciativa da AI conta com o apoio da Organizaçã­o Mundial de Saúde (OMS) e do Alto Comissaria­do para os Direitos Humanos visa conseguir “vacinar 40% da população dos países de rendimento­s baixos e médio-baixos”.

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