CARTAS DOS LEITORES
O presente dilema, com o qual nos confrontamos todos, nesta altura em que se dividem as opiniões relativamente ao confinamento ou o inverso, tem a ver precisamente com este assunto fracturante. Hoje, a sociedade parece dividida entre aqueles que entusiasticamente defendem a necessidade de se abrir já todos os serviços, eventualmente proclamar como não obrigatório o uso da máscara e outras que defendem a continuação das restrições actuais. As autoridades, pelos vistos, ponderam bastante na hora de emitirem novos decretos, despachos ou orientações relacionadas com o esperado levantamento das restrições, e tomam decisões em função da realidade concreta e pareceres do sector da Saúde. Nos últimos dias, nota-se alguma apreensão por parte das pessoas que encaram com muitas reservas a perspectiva do levantamento das restrições, como sucedeu há dias com a cerca sanitária que vigorava em Luanda e a perspectiva de se autorizarem a abertura das praias.
No fundo, todas as medidas que as autoridades tomarem nunca serão encaradas por todos, de forma unânime, como a melhor adoptada, a mais consentânea com as expectativas das pessoas. Existirão sempre aqueles que vão encarar como medidas extemporâneas, desnecessárias e eventualmente perigosas para a actual conjuntura da Covid-19. Há pessoas que, na verdade, defendiam que a cerca sanitária em Luanda não fazia qualquer sentido e que as autoridades tinham que a levantar, com urgência. Hoje, olhando para a perspectiva de contágio, pelos números que apontam para as mortes e infecções, algumas daquelas pessoas que defendiam o levantamento da cerca sanitária em Luanda são hoje de opinião de que a mesma foi levantada muito cedo. É possível que com a praia e as aglomerações festivas acontecerá a mesma situação, relacionada com o apoio inicial para depois acabar contestada pelas mesmas pessoas. As pessoas atacam as autoridades por fazer e não fazer, uma realidade compreensível à luz das crescentes expectativas, mas não aceitável sobretudo quando se descarta e se desvaloriza o que se faz, ainda que pouco.
Diz-se que mais do exigir mais, normal e expectável nas sociedades actuais, deve-se reconhecer o que se faz, ainda que menos, nas condições em que se faz. Os esforços que as autoridades hoje fazem para, por um lado, preservar os ganhos na luta contra a Covid-19 para garantir que os hospitais e unidades sanitárias continuem com alguma capacidade de resposta, deviam ser reconhecidos até pelos mais cépticos. É verdade que nem tudo está a correr como seria desejável, mas exigir só restrições por força da Covid-19 negligenciando o impacto profundamente negativo sobre a economia não é sensato. Do mesmo modo exigir o levantamento de todas as restrições, em nome das liberdades e outros motivos, não é por si só sensato. Parece que é na moderação que se cncontra as melhores respostas.
Para terminar, endereço as minhas modestas palavras de felicitação às autoridades angolanas pelo esforço permanente que fazem para assegurar maior cobertura com as vacinas, garantir maior capacidade de resposta dos hospitais e unidades sanitárias, realidades que precisamos todos de reconhecer e encorajar. Viva Angola.