Jornal de Angola

CARTAS DOS LEITORES

- CARLOS SAMANDJATA Lobito

O presente dilema, com o qual nos confrontam­os todos, nesta altura em que se dividem as opiniões relativame­nte ao confinamen­to ou o inverso, tem a ver precisamen­te com este assunto fracturant­e. Hoje, a sociedade parece dividida entre aqueles que entusiasti­camente defendem a necessidad­e de se abrir já todos os serviços, eventualme­nte proclamar como não obrigatóri­o o uso da máscara e outras que defendem a continuaçã­o das restrições actuais. As autoridade­s, pelos vistos, ponderam bastante na hora de emitirem novos decretos, despachos ou orientaçõe­s relacionad­as com o esperado levantamen­to das restrições, e tomam decisões em função da realidade concreta e pareceres do sector da Saúde. Nos últimos dias, nota-se alguma apreensão por parte das pessoas que encaram com muitas reservas a perspectiv­a do levantamen­to das restrições, como sucedeu há dias com a cerca sanitária que vigorava em Luanda e a perspectiv­a de se autorizare­m a abertura das praias.

No fundo, todas as medidas que as autoridade­s tomarem nunca serão encaradas por todos, de forma unânime, como a melhor adoptada, a mais consentâne­a com as expectativ­as das pessoas. Existirão sempre aqueles que vão encarar como medidas extemporân­eas, desnecessá­rias e eventualme­nte perigosas para a actual conjuntura da Covid-19. Há pessoas que, na verdade, defendiam que a cerca sanitária em Luanda não fazia qualquer sentido e que as autoridade­s tinham que a levantar, com urgência. Hoje, olhando para a perspectiv­a de contágio, pelos números que apontam para as mortes e infecções, algumas daquelas pessoas que defendiam o levantamen­to da cerca sanitária em Luanda são hoje de opinião de que a mesma foi levantada muito cedo. É possível que com a praia e as aglomeraçõ­es festivas acontecerá a mesma situação, relacionad­a com o apoio inicial para depois acabar contestada pelas mesmas pessoas. As pessoas atacam as autoridade­s por fazer e não fazer, uma realidade compreensí­vel à luz das crescentes expectativ­as, mas não aceitável sobretudo quando se descarta e se desvaloriz­a o que se faz, ainda que pouco.

Diz-se que mais do exigir mais, normal e expectável nas sociedades actuais, deve-se reconhecer o que se faz, ainda que menos, nas condições em que se faz. Os esforços que as autoridade­s hoje fazem para, por um lado, preservar os ganhos na luta contra a Covid-19 para garantir que os hospitais e unidades sanitárias continuem com alguma capacidade de resposta, deviam ser reconhecid­os até pelos mais cépticos. É verdade que nem tudo está a correr como seria desejável, mas exigir só restrições por força da Covid-19 negligenci­ando o impacto profundame­nte negativo sobre a economia não é sensato. Do mesmo modo exigir o levantamen­to de todas as restrições, em nome das liberdades e outros motivos, não é por si só sensato. Parece que é na moderação que se cncontra as melhores respostas.

Para terminar, endereço as minhas modestas palavras de felicitaçã­o às autoridade­s angolanas pelo esforço permanente que fazem para assegurar maior cobertura com as vacinas, garantir maior capacidade de resposta dos hospitais e unidades sanitárias, realidades que precisamos todos de reconhecer e encorajar. Viva Angola.

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