Daqui a 1 e daqui a 4
Que dívida terão contraído os líderes e governantes do pós-independência (e todas as elites nacionais) para com o povo deste nosso país, ao cabo dos 50 anos que se completarão em 2025? O que dirão à meia-noite da segunda para terça-feira, 10 para 11 de Novembro do ano que marca o fim do primeiro quarto do Século XXI?
Se na praça, em 1975(à mesma hora de uma noite que separou exactamente os mesmos dias de semana!) se celebrava uma realidade que havia sido sonho durante décadas – a Independência... – que teremos para comemorar dentro de quatro anos? Proclamaremos, sem demagogia, diante da África e do Mundo terse conseguido uma aceitável justiça e bem estar para os angolanos?
Aos 50 anos um país está na sua infância. Seria bom que em 2025 nos pudéssemos orgulhar com melhores resultados – mesmo que ainda em construção – no sentido de mais justiça na distribuição da riqueza, de um bom funcionamento das instituições do Estado,de um bem estar social – pelo menos em educação e saúde – e de uma maturidade cultural que beneficiasse a todos...
Estando a tão pouco tempo de chegar aos 50e sabendo que apenas se colhe o que se semeia, estamos no dever de perguntarmo-nos, como país: - o que temos andado a colher e debulhar até hoje, para sabermos como rectificar a sementeira para as melhores colheitas do futuro?
Se não estamos bem, o que podemos fazer para melhorar...? Arranjar coragem para identificar objectivamente os erros e o seu porquê,e de reconhecer que a capacidade humana de bem governar (responsabilidade de todos) e de tornar eficientes as instituições de que carecemos, é o fundamental!
Não dispõe o país – mesmo dentro do partido que tem sido até hoje o exclusivo governante – de cidadãos honestos e trabalhadores, preparados, e ainda motivados para romper com o conformismo e re-cultivar o chão pátrio…? Com novas sementes que germinem para dar às crianças que aceleradamente vão nascendo (a uma taxa de 1,2 milhões por ano - uma das 20 maiores do mundo!) e aos jovens, a educação e a formação que merecem e que precisam?
Para trás não podemos voltar, mas decidirmo-nos a ser diferentes e melhorar daqui para a frente... é possível e só depende de nós.
Quantos países em África dispõem de um orçamento semelhante ao do Estado angolano? O que nos impede de usar devidamente esses recursos e capacidade financeira para o que precisamos de rectificar e melhorar…?
Daqui a 1 ano eleger-se-ão os partidos que – no parlamento e no governo – conduzirão o país, durante 4 anos, ao termo dos 50 anos de Independência.
A democracia não é o desfecho de umas únicas eleições, mas um ciclo que se repete e aperfeiçoa… E é necesário que cada episódio desse ciclo seja satisfatório e aceite por todos para que ela se consolide e se torne irreversível.
Tudo devemos fazer para que as eleições de 2022 permitam melhorar a nossa capacidade de governar... e por isso é absolutamente indispensável que o processo eleitoral seja conduzido de forma a tornar possível um real balanço do que foi feito, uma disputa das ideias (permitindo que se exprimam e sejam avaliadas pelo seu real valor)e que o trabalho das instituições que regulam o processo – desde o recenseamento até ao apuramento de resultados – reforce a sua credibilidade.
A exigência sobre a aplicação da lei e sobre o papel isento que é de esperar das instituições públicas no processo eleitoral nunca foi tão importante.
Urge usar de outra forma a energia e os meios que estão a ser gastos com manobras políticas, visando a simples vitória eleitoral. Construir consensos para salvar o país, para nos podermos felicitar por estarmos então a fazer, colectivamente, o que é mais honesto e mais justo pela nação e pelos seus cidadãos...
E ainda que seja importante apresentar e discutir propostas de medidas políticas, económicas, sociais e culturais, o que mais faz falta é outra coisa: -um verdadeiro patriotismo, despojado da vaidade pueril e da pretensão de sermos “melhores” do que nunca fomos, que leve à tolerância, ao diálogo e ao bom senso de que tanto precisamos.
Não há milagres, há opções, e a maneira de encontrar as melhores opções será adoptar uma visão e postura políticas diferentes das que actualmente presenciamos com demasiada frequência (em que os partidos se digladiam pelo simples poder e os benefícios ultrajantes que este tem proporcionado), onde o Estado, a pátria, o país e o povo devem ser mais importantes que as ambições, as afiliações e os programas partidários...
Poderão os dirigentes partidários actuais aceitar sentar-se e convergir? Trazer os cidadãos apartidários e a “sociedade civil” à discussão das formas de resolver, em nome de um melhor país que podemos ser, e de alcançar – em 2025 – o sentimento colectivo de orgulho e de patriotismo que, então, poderemos celebrar?
*Académico angolano independente
Tudo devemos fazer para que as eleições de 2022 permitam melhorar a nossa capacidade de governar... e por isso é absolutamente indispensável que o processo eleitoral seja conduzido de forma a tornar possível um real balanço do que foi feito, uma disputa das ideias (permitindo que se exprimam e sejam avaliadas pelo seu real valor) e que o trabalho das instituições que regulam o processo – desde o recenseamento até ao apuramento de resultados – reforce a sua credibilidade