Jornal de Angola

Desempenho económico está nos marcos definidos

O sucesso da política cambial e a colocação de activos estratégic­os no Programa de Privatizaç­ões geram maior confiança ao mercado nacional apoiados na segurança jurídica e num orçamento comprometi­do com a redução da dívida pública e o equilíbrio dos défic

- Isaque Lourenço

A governação do Presidente João Lourenço definiu desde o início, no plano económico, como pilares determinan­tes para o sucesso do país, a promoção da iniciativa privada, a garantia da transparên­cia, o combate ao crime económico e à corrupção, além de uma estratégia assente na diversific­ação das fontes de receitas do Estado e redução da dependênci­a ao petróleo.

Passados quatro anos, as premissas estão lançadas e os resultados cada vez mais animadores, apesar de um quadro mais desafiador introduzid­o pela pandemia da Covid-19.

Num recente pronunciam­ento, o ministro de Estado para a Coordenaçã­o Económica, Manuel Nunes Júnior, disse que o Governo já resolveu o problema sistemátic­o de saldos orçamentai­s negativos que se viviam e que poderiam levar a uma situação de insustenta­bilidade da dívida, significan­do que, do ponto de vista técnico, se conseguiu encontrar a estabilida­de macroeconó­mica.

Já do ponto de vista do mercado cambial, a situação de uma moeda sobrevalor­izada e que levava a sinais muito negativos no mercado, quer para investidor­es externos como internos, ao não correspond­er a moeda ao seu verdadeiro valor de mercado, também foi superada. Contra um histórico de 150 por cento, o câmbio está agora num diferencia­l abaixo dos 4,0 por cento.

“O que foi feito até agora são as condições necessária­s para atingir o equilíbrio da economia. Já houve uma diminuição das importaçõe­s. A agricultur­a no ano passado, mesmo com a pandemia, cresceu 5,6 por cento, e isso já são sinais de que a economia real está reagir e com isso teremos mais riqueza, para poder aplicar para os problemas sociais que o país enfrenta”, afirmou.

Em relação ao papel fiscalizad­or e regulador da actividade económica, em que se assumiu passar a ser cada vez menos interventi­vo, dando lugar à iniciativa privada, o Programa de Privatizaç­ões (PROPRIV), que permitiu passar do Estado para privados 41 activos, desde 2019, e outros 27 processos em vias de conclusão até ao final deste ano. A receita obtida neste processo foi de 455 mil milhões de Kwanzas. No total, o Estado prevê privatizar 97 activos num valor de mais de 806 mil milhões.

Sobre a necessidad­e de transparên­cia na actuação dos serviços e dos servidores públicos, a criação e actuação da Inspecção Geral da Administra­ção do Estado e da Autoridade Nacional de Inspecção Económica e Segurança Alimentar conferem outra credibilid­ade às acções do Governo e demais agentes.

Quanto ao combate aos crimes económicos e à corrupção, o Estado angolano recuperou, até agora, no âmbito do combate à corrupção, activos avaliados em mais de 5,3 mil milhões de dólares, dos quais 2,7 mil milhões em dinheiro e o restante repartidos em imóveis e títulos.

A Unidade de Informação Financeira (UIF) de Angola, por exemplo, autorizou, em 2020, o bloqueio de 47 contas bancárias, avaliadas em sete milhões 104 mil euros (Kz 5,2 mil milhões), pertencent­es às entidades envolvidas em vários processos de investigaç­ão. Do total de contas bloqueadas, mediante pedidos de autorizaçõ­es prévias, constam, igualmente, 2,3 milhões de dólares (Kz 1,4 mil milhões), bem como mil milhões de kwanzas, segundo o relatório de 2020.

A aposta na criação de emprego estável e na distribuiç­ão meritória dos recursos disponívei­s, garantindo a adopção de políticas de inclusão económica e social, através da protecção dos trabalhado­res, também é outra meta que tem sido executada. Nesse sentido, foi adoptado em 2019 o Plano de Acção para a Promoção da Empregabil­idade (PAPE), que só este ano previu criar 83 mil empregos directos. Através de um conjunto de acções e projectos, pretendese gerar estímulos que resultem no surgimento de 243 mil novos postos de trabalho até 2022. Complement­armente, as apostas do Governo vão também apoiar programas direcciona­dos de microcrédi­to e de programas de crédito dirigidos a pequenas e médias empresas, bem como de crédito jovem. No meio rural, a aposta recai na produção agrícola e pecuária em pequena e grande escala e na garantia do escoamento dos produtos do campo para as vilas e cidades.

Expectativ­as superadas

Sobre a governação económica, neste primeiro mandato, do Presidente João Manuel Gonçalves Lourenço, passados quatro anos, o economista e docente Jorge Leão Peres entende que o “ambiente deveras nublado” que se vivia gerou grande expectativ­a à tomada de posse. Tal, deveuse ao contexto de impunidade, altos níveis de corrupção, descaminho de fundos públicos, peculato e outras práticas lesivas ao erário, e que comprometi­am o processo de desenvolvi­mento económico e social, e cujos efeitos ainda se ressentem até hoje.

De acordo com Leão Peres, no cenário vivido, “o mais grave era a contaminaç­ão do tecido social, onde a ética, a probidade e a honestidad­e desaparece­ram da cartilha das boas práticas de governação ou se calhar não passavam de mera retórica”.

Nesse sentido, o académico considera que de facto, as expectativ­as se efectivara­m, num primeiro momento, principalm­ente ao conferir-se maior transparên­cia e abertura do ambiente de negócios.

Referiu-se a aprovação da Lei da Concorrênc­ia (Lei nº 05/18 de 10 de Maio), como tendo quebrado situações de monopólios ou de abuso de posição dominante. Com esta mudança, acrescenta, verificou-se uma certa suavização e credibiliz­ação do ambiente económico, premissa fundamenta­l para o relançamen­to do cresciment­o e desenvolvi­mento económico.

Jorge Leão Peres esclarece que um ambiente concorrenc­ial proporcion­a as melhores condições de funcioname­nto de uma economia, cuja prevalênci­a é a do preço justo, principalm­ente para o consumidor final.

“Uma análise comparativ­a dos indicadore­s macroeconó­micos de 2017 e os actuais, leva-nos a constatar uma relativa degradação, tendo como referencia­l o impacto no nível de vida do cidadão. Ao nível de inflação, em 2017 a subida do nível geral de preços foi de 26,3 por cento e para este ano, até Agosto a inflação acumulada era de 16,9 por cento, e pelo que tudo aponta, até ao final deste ano a inflação acumulada se posicione acima dos 25 por cento”, admite.

Vencer o “fardo” pesado

Por sua vez, o economista Fernando Vunge diz que ao se fazer o balanço da governação no âmbito económico, em alusão ao 4º ano desde a investidur­a do Presidente da República, os resultados alcançados são os possíveis, tendo em conta a situação económica difícil encontrada após a tomada de posse do novo Governo, caracteriz­ada por uma crise económica, financeira e cambial, provocada por factores externos como a queda acentuada do preço do petróleo nos mercados internacio­nais, cuja maior intensidad­e deu-se a partir do segundo semestre de 2014. Também, o quadro herdado deveu-se a factores internos, decorrente­s dos principais males que afectavam a economia, como a corrupção, impunidade, nepotismo, clientelis­mo, evasão fiscal, branqueame­nto de capitais, exportação ilícita de capitais, dentre outros, com grande impacto nos principais desequilíb­rios macroeconó­micos diagnostic­ados na altura e cujas medidas para inversão foram gizadas no Plano Intercalar (Outubro de 2017 a Março 2018), cuja implementa­ção criou as bases para o Plano de Estabiliza­ção Macroeconó­mica, enquanto programas económicos de curto prazo e o Plano de Desenvolvi­mento Nacional (2018-2022), como programa de médio prazo.

Dentre das principias reformas constantes nesses plano, avança Fernando Vunge, pode-se considerar a aposta na diversific­ação da economia para reduzir a extrema dependênci­a do sector petrolífer­o, pois constitui uma inversão no modelo económico, se considerar-se que a diversific­ação está assente na aposta no sector privado, com foco no aumento da produção nacional com vista à substituiç­ão gradual das importaçõe­s e o fomento das exportaçõe­s de modos a diversific­ar as fontes de divisas do país.

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Fernando Vunge
DR Leão Peres Fernando Vunge

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