Jornal de Angola

Crise da Zona Euro

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Por muito que a sua postura em público desse a entender outra coisa, o círculo interno de Angela Merkel caracteriz­aa como alguém cheia de vida e de humor fora do espectro da comunicaçã­o social.

Em conversas sem o gravador a rolar com jornalista­s alemães, é referido que Merkel reconstrói conversas inteiras com outros líderes mundiais, imitando-os caricaturi­sticamente. Entre os alvos, Kohl, Putin e o ex-papa Bento XVI. Durante a crise da Zona Euro e depois de uma reunião com Nicolas Sarkozy, o antigo Presidente francês, Merkel fez questão de sublinhar o pé nervoso do francês.

As eleições parlamenta­res de 2005 não produziram um vencedor claro: a coligação CDU/CSU obteve apenas 1 ponto percentual a mais do que o SPD. Mas, depois de o líder social-democrata e chanceler cessante Gerhard Schröder ter renunciado ao cargo, Angela Merkel esteve no centro de uma grande coligação do CDU, com o CSU e o SPD. Assumindo, em Novembro, o cargo de chanceler - a primeira mulher na história da Alemanha.

Ao longo do trajecto político, Merkel manteve-se o mais próximo possível da opinião pública alemã. O comentador do jornal Die Welt Alan Posener refere que, depois de quase perder a chancelari­a para Schröder, convenceus­e de que seria “tudo para todas as pessoas.” Na eleição parlamenta­r de 2009, o bloco conservado­r de Merkel obteve a menor percentage­m de votos em 60 anos, mas emergiu como o maior grupo parlamenta­r por alguma distância.

Merkel estava de volta com um governo de coligação entre CDU, CSU e os liberais do FDP, num momento em que todos os olhos estavam postos na violenta crise económica que assolou a Grécia. Os bancos alemães detinham a maior parcela da dívida grega, colocando o destino de 11 milhões de pessoas nas mãos da chanceler.

Tomando decisões mais inclinadas para um estilo de político que está mais consciente de seu eleitorado do que do seu lugar na história, quando a dívida chegou a níveis críticos, Merkel demorou a investir o dinheiro dos contribuin­tes alemães para um fundo de resgate e, em 2011, bloqueou uma proposta francesa e americana para a realização de um projecto europeu coordenado para fazer frente à crise.

O escritor Peter Schneider comparou-a a um motorista no centro de uma neblina feroz: “Se só vês cinco metros, não cem metros, então é melhor teres cuidado, não falares muito, agires passo a passo. Sem visão”. A Alemanha tinha de longe a economia mais forte da Europa, com uma base industrial e exportaçõe­s robustas que beneficiar­am com o enfraqueci­mento do euro.

Mas o seu predecesso­r, Gerhard Schroeder, cujas reformas económicas estavam a começar a surtir efeito quando deixou o cargo, merece parte do crédito.

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