Jornal de Angola

A hora eventualme­nte chegou, nove anos depois

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Gerhard Schröder, membro do partido SPD e antecessor de Merkel no cargo de chanceler, foi rápido na crítica e descreveu o desempenho da, na altura, ministra do Ambiente de “lamentável”. Numa entrevista pouco depois com o jornalista Herlinde Koelbl, Merkel respondeu: “Vou colocá-lo num canto, assim como ele fez comigo. Ainda preciso de tempo, mas um dia chegará a hora. Já estou ansiosa”.

Em 1998, o mandato de Kohl como chanceler chegava ao fim, ao mesmo tempo que Merkel subia na hierarquia do partido. Em Novembro de 1998, foi eleita secretária­geral da CDU e, mais tarde naquele ano, casou-se com o químico quântico Joachim Sauer, marido de longa data.

Mas o tempo de provação chegou no mês de Novembro de 1999, quando o C.D.U. foi abalroado por um escândalo de financiame­nto de campanha, com acusações de doações em dinheiro e contas bancárias secretas. Helmut Kohl e o seu sucessor como presidente do partido, Wolfgang Schäuble, estavam ambos implicados. Porém, Kohl era tão admirado que ninguém no partido ousou criticá-lo. Merkel viu uma oportunida­de.

O jornalista Karl Feldmeyer recebeu um telefonema. Do outro lado, Merkel afirmava que queria fazer alguns comentário­s para o jornal Frankfurte­r Allgemeine.

“Sabe o que quer dizer?”, perguntou Feldmeyer. “Sim, tenho escrito”, respondeu Angela Merkel antes de o jornalista sugerir que ela escrevesse, em vez, um artigo de opinião. Cinco minutos depois, um fax chegava e o patricídio começava. Merkel apelava ao partido que abandonass­e o líder de longa data, em benefício de um futuro mais transparen­te.

“O Partido deve aprender a caminhar agora e ousar enfrentar futuras batalhas com os seus oponentes políticos sem o seu velho cavalo de guerra, como Kohl sempre gostou de se definir. Nós, que agora somos responsáve­is pelo partido, e não tanto Helmut Kohl, decidiremo­s como abordar esta nova era”, escreveu Merkel num artigo publicado sem o conhecimen­to de Schäuble, o presidente do partido.

A “menina” libertava-se do pai numa tentativa de tomar o seu lugar na história. Poucos meses depois, conseguiu-o. Merkel foi eleita presidente do C.D.U e Helmut Kohl remetido ao afastament­o da vida política. “Colocou-lhe uma faca nas costas - e girou duas vezes”, disse Feldmeyer, numa entrevista ao New Yorker, destacando que, nesse momento, muitos alemães começaram a prestar atenção a Angela Merkel. Anos depois, o jornalista e socialdemo­crata Michael Naumann sentou-se ao lado de Kohl durante um jantar e perguntou-lhe: “Herr Kohl, o que quer ela exactament­e?”

“Poder”, respondeu em poucas palavras Kohl. “Trouxe a minha assassina, coloquei a cobra no meu braço.” Depois de Schäuble pedir a demissão, Merkel teve o caminho livre para se tornar líder do partido. Em Abril, foi eleita com 895 dos 937 votos, tornando-se a primeira mulher a ocupar o cargo. Os primeiros anos de Merkel como líder do partido não foram fáceis, no entanto. A recém-eleita viu-se a travar uma luta com Edmund Stoiber, presidente do partido associado da CDU na Baviera, a União Social Cristã (CSU).

Naquele que estará certamente no Top 10 de pequeno-almoços mais famosos do mundo, em Wolfratsha­usen - cidade natal de Stoiber -, Merkel decidiu retirar a sua candidatur­a para ser a líder conjunta dos dois partidos numa nomeação a chanceler em favor de Stoiber. Mas, aquilo que poderia ser visto como uma derrota, acabou por funcionar a longo prazo. Stoiber perdeu as eleições gerais, ficando mais enfraqueci­do na aliança com a CDU.

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