Jornal de Angola

Vicissitud­es e conquistas de um lutador

- Vasco Guiwho |

Armindo Sovo Bondo ficou órfão de pai e mãe aos sete anos. Por conta disso, viveu imensas adversidad­es. Mas não baixou a guarda, lutou contra tudo que pudesse inviabiliz­ar os seus sonhos, sendo um deles atingir o nível superior em termos de formação académica. Hoje com 49 anos, Armindo Sovo Bondo é licenciado em Engenharia Geográfica pela Faculdade de Engenharia da Universida­de Agostinho Neto

Depois de anos a estudar e a vender no mercado da Xawanda, na cidade de Malanje, para o sustento da família, Armindo Sovo Bondo é hoje um exemplo de superação. Ele nunca pensou em abandonar os estudos.

Nascido na aldeia Kabisso, no município de Kunda-dia-baze, província de Malanje, Armindo Sovo Bondo é o segundo filho, dos quatro, do senhor Sovo Bondo e da senhora Muhongo Mendonça.

Com os irmãos, Armindo Sovo Bondo teve uma infância e adolescênc­ia agitadas, dadas as dificuldad­es existentes, na época, na região natal, aliado à morte prematura dos pais. Tudo isso levou-o a comprar bombó e jinguba no mercado de Xawanda para revender na cidade depois das aulas, no período da manhã. Os rendimento­s deste pequeno negócio serviam-lhe para fazer face às despesas da casa e comprar material escolar e roupas.

“A vida não perdoa, foi muito difícil. Ainda criança, aos 7 anos, tivemos de aprender a fazer tudo o que se faz no campo, sem esquecer os trabalhos domésticos, visto que não tinha outra pessoa para fazer isso por nós”, recordou Armindo Sovo Bondo.

Após o faleciment­o dos pais, em 1979, o pequeno Armindo Bondo foi viver com o seu tio Job Mendonça no bairro Campo de Aviação, na cidade de Malanje. Frequentav­a então o ensino primário, que teve de interrompe­r, na escola Deolinda Rodrigues, no bairro Kabisso.

Em 1984 retomou os estudos, tendo feito a 3ª e a 4ª classes na escola Augusto Ngangula. Era o mais inteligent­e da sala. Fruto disso, na ausência do professor, incumbiam-no a missão de dar aulas aos colegas. Fez a 5ª classe na escola Hoji-ya-henda, também em Malanje. Em 1988 as dificuldad­es aumentaram e a vida se complicou ainda mais, o que forçou Armindo Bondo a abandonar a terra natal, rumando então para a cidade de Luanda, a procura das condições de vida que lhe permitisse­m prosseguir os estudos e realizar o sonho de alcançar a formação superior. Em Luanda foi acolhido na casa de um primo, Albano Quissama, no Bairro Curtume, município do Cazenga.

Posteriorm­ente saiu do Cazenga para o São Pedro da Barra, onde passou a viver com os primos Luciano e Alberto. Armindo Bondo já tinha experiênci­a de empreended­orismo e logo pelas manhãs o seu destino era o mercado “Roque Santeiro”, onde adquiria roupas interiores para homens e mulheres, que ia revender na baixa da cidade, na companhia do primo Simão e do tio Job Mendonça.

Os potenciais clientes eram funcionári­os do Porto de Luanda, Hotel Presidente-meridien, Banco Nacional de Angola, Sonangol, Secil Marítima, Bivaque, ENSA, Ministério das Finanças e da Edições Novembro. Eram clientes “confiados” e honestos, a quem entregava os artigos a kilapi para recolher o dinheiro no final do mês. Tinha muitos clientes. As vendas iniciavam as 8 horas e, muitas vezes, até as 10 horas os produtos esgotavam. Regressava ao mercado “Roque Santeiro” para fazer outras compras e continuar com a venda na baixa. O negócio ia de vento em popa até que 1994 a doença deixou-o acamado. Armindo Bondo era um consumidor, acima da moderação, de bebidas alcoólicas e cigarros. Na doença foi acolhido por uns primos no Bairro Curtume.

Durante o período em que esteve doente conheceu uma senhora da igreja “Bom Deus”, que o convidou e o convenceu a aceitar a Deus como seu salvador e de toda a humanidade. Deixou de consumir bebidas alcoólicas e cigarros e ficou sarado. A serva de Deus não parou por aí. Deu dinheiro para Armindo Bondo recomeçar os seus negócios. Foi assim que este se deslocou para a Lunda-norte, onde conseguiu angariar um montante financeiro significat­ivo, com o qual, assim que regressou a Luanda, construiu uma segunda casa, no Cazenga, ao mesmo tempo que deu continuida­de aos estudos, frequentan­do, entre 1995 e 1997, a 7ª e a 8ª classes na escola número 39. Lá foi colega de turma do actual jornalista e director da TPA Cabingano Manuel. Naquela altura fez também uma formação em Gestão de Stocks no Ministério da Indústria.

De 2001 a 2003 fez o ensino médio no Instituto Médio Normal de Educação António Jacinto, no Cazenga. Fez o curso superior de Engenharia Geográfica na Universida­de Agostinho Neto, no período pós-laboral, tendo sido delegado de turma no primeiro e segundo anos. Este não foi o curso dos seus sonhos. “No nosso país as coisas não dependem das escolhas, mas das oportunida­des que surgem”, reconheceu, para logo a seguir desabafar: “também sou bom em matemática. Pena é que este curso não é valorizado, tem pouca saída”.

Depois da licenciatu­ra pensa fazer um mestrado em gestão empresaria­l.

Em termos profission­ais Armindo Bondo trabalhou na TCUL em 2011, na área de bate-chapa e serralhari­a. Mais tarde esteve empregado numa empresa proprietár­ia de um carrossel, no Morro Bento, como chefe da área de Contabilid­ade e Finanças, até ao momento em que a referida empresa declarou falência.

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