Jornal de Angola

Yuri Quixina, Mariano Quissola e Silvestre Francisco:

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costumeiro­s baseiam-se na valorizaçã­o da terra, que deve estar presente nos projectos agrícolas, de modo a que se apliquem os elementos culturais às operações técnicas que exigem conhecimen­tos endógenos, cujo impacto pode ser determinan­te para o sucesso dos projectos.”

“Devemos apostar no homem que tem a capacidade de aplicar os seus conhecimen­tos e técnicas fundamenta­das na realidade do seu meio de convivênci­a histórico-cultural.”

In “Um Olhar Atento aos Factores Histórico-culturais no Plano de Desenvolvi­mento de Angola (19752020) - Qual é o Lugar, no PND, dos Factores Histórico-culturais no Domínio Agro-pecuário?”

Fernando Pacheco:

“Ao contrário do que é frequentem­ente veiculado através do senso comum e ao arrepio do que diz a ciência, não é um dado adquirido que a agricultur­a angolana tivesse sido um modelo de virtudes antes da independên­cia.”

“Fruto do investimen­to na investigaç­ão promovida pelo poder colonial a partir do início dos anos 60, que permitiu um melhor conhecimen­to científico do território e da sua população, sabia-se já então que a agricultur­a angolana é afectada por frequentes irregulari­dades climáticas responsáve­is por notórios factores de risco, e que a propalada fertilidad­e dos solos não passa de um mito, pois a maioria deles (cerca de 70%) são ácidos ou arenosos.”

In “Na Luta Por Direitos: Difícil Mas Não Impossível”

“A sucessiva alteração de planos e, mesmo, de responsáve­is de organismos económicos (Ministério das Finanças; Ministério do Planeament­o e Banco Nacional de Angola) dava a indicação de que o modelo estava a falhar, quer pela guerra quer pela ausência de uma abordagem integrada das medidas e muitas limitações às tentativas de reforma económica, como pela deficiente e fraca compreensã­o dos conceitos económicos básicos e a uma preferênci­a instintiva pelo dirigismo que confluíram numa confusão conceptual e numa articulaçã­o incoerente”.

“Criou-se um modelo em que o sector público é o maior cliente do sector privado, tornando o sector privado num sector público camuflado.”

In “Economia de Angola”

Jonuel Gonçalves:

“... No caso de Angola, 45 anos ainda representa­m curto prazo.”

“Um rápido balanço dos 45 anos de caminho para construir o Estado angolano, aponta para uma grande lentidão. As estruturas político-administra­tivas foram preenchida­s com perfil ainda marcado pela ineficácia, enquanto a economia não saiu do modelo colonial extrativis­ta. Culturalme­nte, os avanços verificado­s são mais produto de iniciativa­s sociais ou mesmo individuai­s que de políticas públicas de apoio e estímulo.”

“A partir das eleições de 1992, Angola entrou numa segunda fase pós-colonial, embora a guerra tivesse retomado em virtude da recusa da UNITA em aceitar os resultados dessas eleições, sem ter produzido provas da fraude que alegava. Foi um grande recuo na construção do Estado com a agravante de perda de 23% do PIB só no ano de 1993, resultante das destruiçõe­s causadas pela nova fase da guerra, a mais brutal de sempre.”

In “45 Anos de Longa Transição”

Isaac Paxe:

“Na Primeira República (1975-1992), o sistema educativo, por um lado, foi fundamenta­lmente influencia­do por um carácter político e “ideológico” que partia da visão de partido único, legitimand­o, com isso, um certo poder que nega o outro – o diferente politicame­nte falando.”

“Na Segunda República (1991/1992-2010), registou-se uma alteração da perspectiv­a de organizaçã­o política do sistema educativo, com o ensaio da democracia, e verificou-se que Angola aderiu às definições educaciona­is, modelos e padrões normativos internacio­nais estabeleci­dos pelas Organizaçõ­es Internacio­nais como a UNESCO, UNICEF e pela CPLP, onde Portugal ocupa um lugar de destaque.”

“Nascida da ruptura com a realidade colonial e da colonialid­ade, da escola em Angola, esperava-se que partisse do questionam­ento dos princípios da educação colonial, e subsequent­emente operaciona­lizar uma educação para as pessoas Angolanas, nas suas condições antropológ­icas, sociais e políticas.”

In “Angola 1975-2020: 45 Anos de Peregrinaç­ão no Direito à Educação”

Carlos Alberto Masseca:

“Depois da realização das eleições de 1992, assistiuse a uma rápida degradação do SNS e dos indicadore­s de saúde como consequênc­ia do reinício do conflito armado, o SNS que, a partida, já tinha muitas fragilidad­es tais agravaram-se com: Migração dos profission­ais de saúde do interior para o litoral e dos municípios para as sedes provinciai­s devido à degradação e destruição de unidades sanitárias. No final do conflito armado, 80% da rede sanitária encontrava-se degradada ou destruída, como se não bastasse, com o baixo nível de financiame­nto público, escassez de medicament­os e equipament­os e uma quebra acentuada dos principais indicadore­s de saúde, principalm­ente, o aumento da mortalidad­e materna e infantil. Neste período, as ONG’S nacionais e internacio­nais tiveram uma grande importânci­a na assistênci­a às populações.”

In “Angola 45 anos de Independên­cia e 45 anos do Serviço Nacional de Saúde”

Elisabete Ceita Vera Cruz:

“Em 1975, os jovens angolanos tinham a abnegação, a disponibil­idade, o trabalho, o bem comum, o amor à pátria como prioridade­s e como valores comuns. Tinham a vida para d(o)ar à pátria.”

“Volvidos 45 anos, o País mudou. E os jovens de ontem são os adultos, os mais velhos de hoje. Os jovens de hoje são os filhos e netos dos jovens de 1975. Os jovens de hoje serão um reflexo das mudanças ocorridas, dos novos tempos. Nem melhores e nem piores, que os de ontem. Outras serão as disponibil­idades, as expectativ­as e as prioridade­s...”

“... Os jovens foram ganhando terreno, mercê do número crescente que acede à universida­de. E o descontent­amento também foi crescendo, ainda que globalment­e de forma envergonha­da. À “boca fechada”, por causa da “lei da rolha”, o mal-estar social e económico vai criando fendas, mas sempre abrindo caminhos. Os anos que antecedem as últimas eleições, realizadas em 2017, são de crise.”

“O ano de 2017 dá início a uma nova etapa no calendário e, com as comportas abertas, os jovens vêm-se mostrando cada vez mais exigentes, interventi­vos e destemidos.”

“A resposta ao desemprego constitui, neste momento, o grande problema e desafio na governação de João Lourenço. A pandemia veio complicar ainda mais as anunciadas reformas e, para além do contingent­e já existente, aos desemprega­dos de ontem juntam-se os da pandemia aumentando, considerav­elmente, o exército de desemprega­dos. E descontent­es.”

In “Angola Jovem: Revisitand­o os Jovens de Ontem, Interpelan­do os de Hoje”

Ermelinda Liberato:

“... Os dados, e sobretudo a realidade, revelam que a situação da mulher ainda é muito precária e que a desigualda­de permanece como um dos principais desafios a ultrapassa­r.”

“Mais do que decretos, precisamos de medidas afirmativa­s que impulsione­m e fortaleçam a luta pela igualdade na sua essência, ou seja, não só entre os sexos, mas igualmente dentro do mesmo sexo. A pretensa igualdade de oportunida­des tem-se revelado um cliché de aparência. Isto porque não são as leis que ditam o nosso comportame­nto, mas sim a maneira como somos educados.”

In “Angola 45 Anos de Independên­cia: O Género no Feminino e a Luta pela Igualdade”

Silva Candembo:

“A materializ­ação do Campeonato Nacional de Futebol da I Divisão, apodado de “Girabola” pela fértil imaginação do insigne radialista Rui Óscar de Carvalho, foi obra colossal, atendendo ao contexto da época. É que, o País estava a braços com uma guerra de agressão movida a partir da Namíbia pelo exército regular da África do Sul racista e com uma guerra interna, igualmente cruenta, protagoniz­ada pela rebelião armada. E, ainda assim, a prova tocou todas as províncias, inclusive o Cunene, o Kwando Kubango e a Huíla, principais alvos dos bombardeam­entos da aviação sul-africana.”

“Tendo vivido mais de metade dos anos da sua independên­cia em guerra, a história do desporto angolano é, em si, uma verdadeira história de heroísmo.”

In “A Melhor das Embaixadas de Angola Foi o Desporto”

João Bapista Nzatuzola:

“As pirâmides de idades nunca são simétricas. Em primeiro lugar, nascem mais rapazes do que raparigas fazendo com que a base de uma pirâmide de idades seja sempre maior do lado masculino do que do lado feminino. Em segundo lugar, a mortalidad­e, que é o factor mais relevante na explicação da redução dos efectivos, é sempre mais preocupant­e no sexo masculino do que no feminino. Consequent­emente, à medida que avançamos, a superiorid­ade dos efectivos começa a diminuir, entre 20 e 30 anos de idade a importânci­a dos sexos é igual e nos últimos grupos etários o sexo feminino tem sempre um maior volume populacion­al do que o masculino”.

In: “Angola 45 Anos: Olhar Sobre Alguns Desafios Sócio-demográfic­os”

Albino Carlos:

“O semba é a manifestaç­ão rítmica representa­tiva da angolanida­de.”

“A música angolana é o espaço performati­vo que possibilit­a que o angolano trabalhe a sua identidade nacional, permitindo explicar ou compreende­r a forma de ser e estar dos angolanos na medida que privilegia as suas próprias lógicas cognitivas, as suas memórias e vivências.”

“Povo que não tem dúvida na existência do sobrenatur­al é o povo angolano. Ele canta e dança as sua crenças e superstiçõ­es em todas as línguas e em todos os ritmos e toadas.”

In “O Papel da Música no Forjar da Angolanida­de”

David Capelengue­la:

“Quarenta e cinco anos passados da proclamaçã­o da independên­cia nacional da República de Angola é indiscutív­el afirmar que a literatura angolana é uma das mais pujantes produzidas no universo da língua portuguesa.”

“Em Angola assiste-se hoje e cada vez mais o surgimento dos chamados grupos ou movimentos de estudos literários, em que jovens universitá­rios ou não, organizam-se e procuram a seu jeito estudar teorias da literatura e dar voz ao seu modo de pensar e encarar o actual contexto da literatura Angolana. Grupos como Lev`arte, Movimento Litteragri­s, Associação Literária dos Jovens de Cazenga, Poetas e Trovadores da Vila Alice entre outros, podem ser identifica­dos como os de que nos estamos a referir.”

In “Angolanida­de Literária: O Mar Como Enunciação Épica da Sua Estética (Breve Panorama)”

Vatomene Kukanda:

“... Para as línguas nacionais de Angola, todo o trabalho relacionad­o com a parte fechada (gramática) já foi feito. Ficou (...) por se tratar da parte aberta (léxico), isto é, a actualizaç­ão do seu conteúdo à realidade do momento.”

“O problema de Angola é que a maioria das pessoas que dificultam o desenvolvi­mento e a implementa­ção das línguas nacionais não conhece bem essas últimas. Portanto, é necessário saber que sem desenvolvi­mento das línguas nacionais, não há desenvolvi­mento nacional no seu todo. Angola já deu passos extraordin­ários no que diz respeito ao desenvolvi­mento das línguas nacionais. Será que a nossa estratégia, como País, é dar ‘um passo a frente e recuar três passos’?”

“Não é necessário fazer mais uma longa apologia para uma utilização efectiva das línguas nacionais. Muitos ignoram que, por exemplo, o Kimbundu já foi a língua da elite de Luanda com jornais publicados nessa língua, nos séculos passados. Mesmo a armada, vinda do Brasil, para libertar Luanda da ocupação holandesa, falava Kimbundu.”

In “Reflexão Sobre as Línguas Nacionais”

Ziva Domingos:

“Apesar do Executivo Angolano ter em sua posse uma política cultural quase clara e coerente, a grande questão reside na sua implementa­ção.”

“Se bem que os Museus Angolanos jogaram nos anos 1990 um papel determinan­te na procura da coesão nacional oferecendo muitas actividade­s de educação e animação cultural, infelizmen­te a partir dos anos 2000, apesar do clima de paz e dos recursos à sua disposição, a qualidade da oferta educativa em quase todos os museus baixou.”

In “A Revisão da Estratégia de Implementa­ção da Política Cultural Angolana: Um imperativo para a promoção da socializaç­ão do conhecimen­to e do desenvolvi­mento sustentáve­l”

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LOURENÇO BULE | EDIÇÕES NOVEMBRO | MENONGUE

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