Caminhos das apostas desportivas
Ao longo da semana, os meus caminhos tiveram um só destino, o prognóstico e registo dos jogos que tive inscritos nas oito fichas em minha posse. As apostas desportivas, com o futebol a encabeçar a lista, são da preferência do grosso de jovens que aderiram ao novo esquema da sorte, um passatempo escolhido para alimentar a esperança por resultados em conformidade para obter mais algum para os bolsos e distribuir sorrisos; muito porque os ventos da sorte apontam que dois jovens conseguiram ganhos, nomeadamente na ordem dos 45 milhões de kwanzas o primeiro e 70 milhões o segundo. Tudo aconteceu no princípio do ano.
Jogar para conseguir um feito idêntico é já uma espécie de chamariz que persegue muita gente. Por Cacuaco e arredores, a chave para as apostas desportivas múltiplas são fichas com emparceiramentos de jogos de diferentes campeonatos espalhados pelo mundo. Centenas de jovens formam o grosso dos principais apostadores. São igualmente os mais destemidos, os que dão a cara, preferindo fichas com apostas; quando nos bastidores um sem número de cotas de barba grisalha rija, que empregam acima dos cinco mil kwanzas por ficha de apenas quatro jogos, ficam na sombra à espera do melhor.
Confiante, com os índices de ansiedade elevados, dirigi-me ao registo dos meus números, na esperança de bons resultados, afinal o futebol é o desporto-rei e cada um de nós, mesmo um aselha como eu, que se gaba de ter dado uns poucos pontapés na bola, tem prognósticos que por intuição considera dos mais acertados quanto a jogos.
Numa das filas em que me dirigi ao longo da semana, ouvi imensos relatos de sonhos cor de rosa sobre os destinos a dar ao cumbú em caso de vitória nas apostas. O caso não está para menos, as apostas em direcção aos pretensos milhares de kwanzas criaram já sociedades mútuas. Grupos de três a quatro apostadores juntamse para em conjunto pagar algumas fichas. Na senda apontam prognósticos, possíveis resultados em golos antes ou pós intervalo, para que as apostas sejam mais consistentes e rendam mais. Há inclusive experts, qual treinadores de bancada, que dizem que possuem um sexto sentido (apurado) e juram a pés juntos que detêm, sem margens de erros, os resultados finais de cada partida. Os seus serviços são quase sempre subestimados, mas, vezes sem conta, dão para o torto com resultados contrários.
Em Cacuaco, os apostadores estão já na calha do vício. Muitos não conseguem ficar sem participar do “pão nosso de cada dia”. Em múltiplos locais, do Kicolo a Boa Esperança, da sede municipal a Vidrul e Kifangondo; quando se deparar com apinhados de jovens são sinais inequívocos de que as apostas estão em agenda. Papéis e esferográficas nas mãos, olhos nos telemóveis são as formas mais simples de identificálos de segunda a segunda. Eles ficam horas a fio agrupados a debater jogos, fichas, mercado de jogadores, os que estão em forma desportiva, hipóteses de sorte, azar…
Enfim. A magia das apostas é de tal monta que muitos escudam-se no factor sorte e no maldito azar para justificar resultados finais. Contudo apenas uma ínfima parte tem motivos para sorrisos; a maioria lamenta a perda dos kwanzas e, acto contínuo, jogam as “fichas que não entraram” para o lixo. No final do dia resta o consolo de que amanhã é outro dia, mais um, para mais uma tentativa de esperança.