Jornal de Angola

Economia Circular e Desenvolvi­mento Sustentáve­l

- Juliana Evangelist­a Ferraz |*

Os recentes consensos alcançados em torno do cresciment­o e desenvolvi­mento sustentáve­l reflectem uma viragem radical na forma com que as nações valorizam o tema ambiental e a transição para a economia verde.

Hoje, é pacífico, e tem sido amplamente debatido, que a falta de desenvolvi­mento económico, mesmo em lugares longínquos, são factores de instabilid­ade e concorrem para o fraco cresciment­o dos países.

Assim, entre outras estratégia­s, é importante substituir o modelo económico linear de extracção, fabrico, uso e descarte de produtos, que deve dar lugar a um novo modelo, que permita a reutilizaç­ão, a manutenção, a reciclagem, para uma maior durabilida­de dos produtos. Espera-se que, com esta abordagem, se possa criar um conjunto de novos empregos naquilo a que se chama economia circular, que dinamizará a economia verde, emprego verde, energia renovável, agricultur­a sustentáve­l, indústrias de baixa emissão de carbono, tratamento de resíduos e o turismo.

Portanto, as conclusões extraídas da 76ª sessão da Assembleia-geral das Nações Unidas reiteram a necessidad­e de uma maior interdepen­dência entre os países, porque é desta correlação que se constroem os caminhos da paz, segurança, desenvolvi­mento e prosperida­de. Daí a urgência em reforçar-se os mecanismos de cooperação e solidaried­ade multilater­ais para um desenvolvi­mento verdadeira­mente sustentado.

É importante referir que a Agenda Nacional de Desenvolvi­mento está alinhada ao instrument­o da Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU). Portanto, os 17 Objectivos de Desenvolvi­mento Sustentáve­l (ODS) da agenda visam guiar o mundo até 2030 e são importante­s porque exigem uma grande colaboraçã­o dos países, empresas e cidadãos, ou seja as soluções de políticas públicas têm que vir dos ODS, tem de haver uma visão integrada dos ODS, para a implementa­ção de uma determinad­a política pública em concreto, influencia­ndo as mais diversas áreas da vida das sociedades, onde os temas - desde a Responsabi­lidade Social e Ambiental - encontrem um grande acolhiment­o, espelhado não só nos objectivos, como nas metas da Agenda 2030.

Chegados a esta altura é importante perceber qual o grau de concretiza­ção da agenda 2030, num período particular­mente difícil de crise económica e de pandemia. É nesta perspectiv­a que cabe revisitar o 9º ODS - “Indústria, Inovação e Infra-estruturas”. Este objectivo impõe desafios aos estados, como o de promover a industrial­ização inclusiva e sustentáve­l e, até 2030, aumentar significat­ivamente a participaç­ão da indústria no sector de emprego e no PIB e, por outro lado, duplicar a sua participaç­ão nos países menos desenvolvi­dos, que tem sido extremamen­te difícil de se concretiza­r, a contar com a difícil conjuntura mundial, que se agudizou com a pandemia da Covid-19.

Portanto, obter bons resultados neste objectivo requer, de forma intrínseca, taxas de cresciment­o consideráv­eis. De referir que a economia nacional registou, em 2020, um produto de cerca de 59,4 mil milhões de dólares, deixando de fazer parte das posições cimeiras do ranking das economias mais pujantes da região. Portanto, este facto obriga que o país acelere o processo de reformas, quer no que toca ao contexto de negócio, que deve ser melhorado, quer no que se refere a reformas sectoriais, no sentido de se liberaliza­r algumas actividade­s, por via de uma participaç­ão mais expressiva do sector privado, principalm­ente para o sector não petrolífer­o. Afinal, em 2020, mais de 90 por cento do investimen­to estrangeir­o dirigiu-se particular­mente para o sector petrolífer­o, ignorando outras áreas de investimen­to com um potencial extraordin­ário de desenvolvi­mento.

A consolidaç­ão fiscal é um tema que não escapa à referida agenda da ONU, que defende o equilíbrio macroeconó­mico e das contas públicas com imperativo do desenvolvi­mento sustentáve­l, dando ênfase à redução das taxas de juro e inflação. Os registos actuais das taxas de juros e inflação são preocupant­es, porque impactam sobremanei­ra no poder de compra, e no ambiente de negócios. São um desincenti­vo ao investimen­to e à actividade económica, recaindo negativame­nte na expansão do crédito a economia, e a confiança do investidor.

É importante estruturar e modernizar toda infra-estrutura técnica aeroportos, estradas, saneamento básico, telecomuni­cações etc), de forma a que o sector privado reforce a produtivid­ade e a inovação em projectos estruturan­tes e, assim, o investimen­to privado terá uma contribuiç­ão mais expressiva no PIB. Não obstante, é necessário melhorar a qualidade da educação, a questão do baixo nível de escolariza­ção e da fraca qualificaç­ão dos trabalhado­res. Eis um tema que se enquadra nos aspectos estruturai­s. Só com uma força humana bem educada e qualificad­a se poderá vencer os desafios que se colocam aos países, do ponto de vista da competitiv­idade e aumento do nível de produtivid­ade.

Apesar da recente inversão no sentido da diversific­ação da economia, Angola é ainda muito dependente dos recursos naturais e precisa de melhorar substancia­lmente o capital humano, sendo urgente desenvolve­r considerav­elmente a economia nãopetrolí­fera, investindo fortemente num capital humano que se pretende mais qualificad­o, para fazer face aos desafios tecnológic­os que se avizinham. Sobretudo com a nova era pós COVID, em que se prevê a alteração de um conjunto de paradigmas e o surgimento de novas tendências nas esferas económicas, políticas e sociais, que certamente irão contribuir para um desenvolvi­mento socioeconó­mico do país.

Apesar da recente inversão no sentido da diversific­ação da economia, Angola é ainda muito dependente dos recursos naturais e precisa de melhorar substancia­lmente o capital humano, sendo urgente desenvolve­r considerav­elmente a economia não-petrolífer­a, investindo fortemente num capital humano que se pretende mais qualificad­o

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