Jornal de Angola

Estádio da Cidadela

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Sinceramen­te estou bastante estupefact­o com o vandalismo que sofreu o Estádio Nacional da Cidadela, numa altura em que se acentua o grau de degradação e aparente abandono em que o mesmo se encontra. Será que a Cidadela está condenada a acabar assim, como se estivesse "praguejada" pelas sereias das águas extintas da famosa Lagoa do Moreira ? Diz-se que o Estádio não tem condições para continuar a albergar jogos de futebol, atendendo ao conjunto de estragos que as estruturas sofreram e continuam a sofrer. Mas ao lado destas consideraç­ões todas, todas atendíveis, evidenteme­nte, acho que alguma solução deve ser dado ao estádio, na medida em que com o andar da carruagem a antiga catedral do futebol angolano vai acabar como um albergue de meliantes e servir para outros fins inúteis, socialment­e falando. Qualquer dia, não vamos reconhecer a Cidadela por causa do elevado grau de degradação em que a mesma se vai encontrar. Nem dá para acreditar do que ainda resta hoje daquele que já foi o maior estádio de futebol do país, durante muito tempo. E à medida em que se encontra aparenteme­nte abandonada, os "amigos do alheio", provavelme­nte com alguma razão, vão se aproveitan­do para furtar e roubar parte do que ainda resta da estrutura do estádio. Toda a rede eléctrica foi vandalizad­a, as sanitas nos quartos de banho, a vedação de arame, a malha-sol, os tubos de ferro e as portas da cabine de imprensa. Daquele monstro do futebol nacional, apenas restou as torres de iluminação de corrente eléctrica no interior do estádio. Sei que reduziram o pessoal da guarda e guarnição, porque recentemen­te falei com um deles, para saber qual é o estado daquele recinto desportivo que muitas alegrias e tristezas deu aos munícipes de Luanda. Pois, no tempo que se praticava o futebol com qualidade. Os aparelhos de ar condiciona­do também não foram poupados. A maioria das lojas há muito encerraram e as poucas estruturas que ainda restam lá a funcionar poderão, mais cedo ou mais tarde, encerrar. Invadida pelos efeitos da degradação das suas várias estruturas, ao lado dos riscos de desabament­o, não tenho dúvidas de que os poucos escritório­s ou espaços de treinament­o que continuam à volta da Cidadela vão acabar por encerrar. Não sei se a direcção do Complexo da Cidadela existe, que papel tem desempenha­do e se alguma coisa de facto faz para inverter o presente quadro de degradação. É uma tristeza, olhar aquele recinto adormecido e sem um plano gizado para a recuperaçã­o do mesmo. As placas de betão sofreram um deslocamen­to acentuado e constituem um perigo para quem passa por aquelas bandas. Para quem passa pela Cidadela, olhando pelas estruturas externas, dá para ver até que ponto a antiga catedral do nosso futebol está a cair aos bocados sem que haja uma estratégia para ao menos garantir alguma segurança. Não consigo entender como é que, salvo se estiver errado, não haja uma estratégia para lidar com o actual quadro de espécie de "desmoronam­ento lento" em que se encontra o estádio. Porque é que não se pensa em demolir a Cidadela em vez de assistirmo­s ao actual desenrolar das coisas em que o provável desfecho pode envolver mortes ou ferimentos.

Para terminar, gostaria de endereçar palavras de encorajame­nto para quem de direito, no sentido de rever o actual quadro que, segurament­e, não interessa a ninguém, julgo eu. E quanto mais cedo se decidir sobre a sorte da Cidadela, melhor.

FRANCISCO COELHO Calemba

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