Jornal de Angola

O Acordo-quadro entre Angola e a Santa Sé

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Os termos do Acordo-quadro entre o Governo angolano e a Santa Sé, celebrado em Setembro de 2019, já podem ser materializ­ados, com a entrega formal, na terça-feira, dos instrument­os jurídicos e administra­tivos sectoriais.

Do ponto de vista formal, o acordo teve uma aplicação imediata em Angola depois da sua celebração, há dois anos, mas os instrument­os careciam de regulament­ação, por terem existido aspectos que necessitav­am de esclarecim­ento, para melhor realização.

Dois anos depois, as partes vão poder, finalmente, implementa­r os termos do acordo que trazem benefícios recíprocos, pois também visam assegurar os direitos dos católicos ou da Igreja Católica em Angola.

Da parte angolana, os sectores da Justiça e da Educação são os que mais benefícios vão ter com a implementa­ção do acordo. Por exemplo, casamentos realizados pela Igreja Católica passam a ter validade na ordem jurídica angolana. Noutras palavras, quem se casar numa Igreja Católica não vai precisar de fazê-lo numa conservató­ria do registo civil. A ideia é acabar com a questão do casamento civil e religioso.

Entretanto, como esclareceu o secretário de Estado para a Justiça, Orlando Fernandes, antes do processo de casamento chegar ao ministro (padre ou bispo) que vai celebrar o casamento na Igreja tudo deverá ser tratado nas conservató­rias, que por sua vez, dão o aval inicial e tramita o processo para a Igreja.

A cooperação entre o Governo angolano e a Igreja Católica no sector da Educação é antiga. Muitas são as escolas compartici­padas. Com efeito, em nosso entender, neste sector, o Acordo-quadro apenas veio formalizar a relação que já existia. Segundo a ministra da Educação, Luísa Grilo, os instrument­os vão servir de veículo mais rápido para se chegar às comunidade­s.

Esta cooperação impõe-se e é necessária porque, como admitiu a ministra, a Igreja Católica chega mais longe e mais próximo das comunidade­s, sobretudo no meio rural.

E como num acordo os benefícios em princípio devem ser recíprocos, o Acordo-quadro serve para a facilitaçã­o de vistos para os missionári­os católicos. Assim, cidadãos de outras partes do mundo convidados a fazer missão em Angola vão poder entrar no país sem muitos constrangi­mentos.

O porta-voz da CEAST, D. Belmiro Chissengue­ti, disse que a tarefa de evangeliza­ção exige pessoal qualificad­o e admitiu que a Igreja Católica tem encontrado alguma dificuldad­e na obtenção de vistos. O também bispo da Diocese de Cabinda reconheceu que, com os instrument­os do Acordo-quadro, a Igreja ganha "uma lufada de ar fresco".

Ainda bem que o acordo satisfaz as partes.

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