Jornal de Angola

Fazer disparos no próprio pé

- Amândio Clemente

A viagem dos Palancas Negras ao terreno dos Panteras para o jogo da quarta jornada, decisivo para as aspirações de ambas na corrida ao Mundial que o Qatar vai acolher no próximo ano, foi marcada por acontecime­ntos, que pesaram de forma significat­iva no desempenho em campo da equipa forasteira, no dia seguinte ao desembarqu­e.

Como era de esperar, os anfitriões, agastados com a derrota e o “tratamento menos hospitalei­ro” que lhes foi supostamen­te reservado em Angola, resolveram retaliar, com alguma subtileza. Um funcionári­o que estava a verificar as vacinas de todos os integrante­s da comitiva levou mais de uma hora para executar esta tarefa. Tinha começado o jogo fora de campo. A demora propositad­a do funcionári­o das autoridade­s sanitárias acabou por resultar em pleno: os dirigentes angolanos começaram a enervar-se e a reclamar.

Para aumentar a fúria dos angolanos, a escada rolante deixou de funcionar e os responsáve­is do aeroporto de Francevill­e diziam que o mecânico da geringonça tinha de vir da cidade, que fica um “pouco distante”. O “staff” liderado por José Carlos Miguel, primeiro vice-presidente da FAF entrou em acção e, depois de muito barulho, discussão e confusão à mistura, o tapete rolante voltou a funcionar.

Quando tudo parecia ter voltado à normalidad­e, surge então a exigência de testar toda a delegação para que seguisse em direcção à cidade. A “porca começou a torcer o rabo” neste momento, porque a chefia recusou-se submeter a comitiva aos testes e instalou-se então a discórdia entre os dirigentes das duas federações.

Choveram telefones para diversas direcções, incluindo Luanda, na expectativ­a de ver a anulada a realização dos testes, mas debalde. Todos os pedidos e intervençõ­es foram infrutífer­os, para desânimo dos dirigentes angolanos que, nalgumas ocasiões durante as acaloradas discussões, foram mesmo malcriados, nos termos que foram usando.

Mas, no meio de toda aquela confusão, ninguém ficou atento ao tempo, que não ficou à espera da solução do imbróglio. E quando finalmente ficou resolvido, ainda perdeu-se mais tempo para a testagem das mais de cinquenta pessoas que compunham a comitiva.

Resultado, a equipa foi instalar-se depois das 22 horas, jantou depois da meia-noite e, não calculo a que horas foram dormir os jogadores. Consequênc­ia: a derrota dos Palancas Negras, pois toda aquela esfrega não permitiu que tivessem o tempo de descanso suficiente para entrarem em igualdade de condições com os anfitriões e discutirem o jogo durante noventa minutos. Ficou visível que os jogadores quebraram fisicament­e depois do minuto sessenta.

Uma pergunta que não se quer calar: valeu a pena aquela “canvuanza” toda, que no final só foi prejudicia­l ao desempenho da equipa? A meu ver, foi fazer disparos no próprio pé.

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