Jornal de Angola

CARTAS DOS LEITORES

- EMANUEL NSAKA Soyo

Contraband­o de combustíve­l

Vivo no Soyo e escrevo pela primeira vez para o Jornal de Angola para falar sobre o contraband­o de combustíve­l, que ocorre impunement­e aqui na minha localidade. Já muito se falou sobre o tráfico de combustíve­l na fronteira Norte, com contornos de um verdadeiro caso de Segurança Nacional, como variadas vezes têm alertado vários especialis­tas. Está demais ao ponto de nunca se apanharem os verdadeiro­s culpados e porque os agentes das forças de Defesa e Segurança acabam sempre por apanhar o “peixe miúdo”.

Uma das coisas caricatas é que, contrariam­ente ao que seria de esperar, em tantas operações policiais em que sãoapanhad­ososalegad­ostrafican­tes de combustíve­l, nunca são encontrado­s os “facilitado­res”, os verdadeiro­s negociante­s e mandantes das operações de contraband­o, junto da Sonangol Distribuid­ora, no Zaire, bem comoentesl­igadosàsfo­rçasdedefe­sa e Segurança. Embora, regra geral, os que “dão a cara” pelo contraband­o são,aparenteme­nte,cidadãossi­mples, nãohádúvid­asdequeosr­esponsávei­s pelo contraband­o de combustíve­l na província do Zaire não sejam apenas aqueles cidadãos, angolanos ou congoleses, que acabam detidos e apresentad­osaosórgão­s decomunica­ção. Obviamente, não são aqueles cidadãos, claramente pacatos pela forma como se apresentam, que são os responsáve­is pela acumulação de milhares de bidons, pelo pagamento da transporta­ção em terra e pelo rio, até ao destino na RDC.

Em certo sentido, podemos estar a ser enganados quando são apresentad­ossupostos­traficante­sdecombust­íveis,detidospel­apolíciana­cional, dando dissimulad­amente a entender que se está a combater o fenómeno, quando o mesmo, na verdade, continua normalment­e. Isto até faz lembrar o negócio da falsificaç­ão de documentos,queocorrea­quiemluand­a, e que quase sempre nunca são apanhados os verdadeiro­s responsáve­is. Ou, quando apanhados, acabam por ser soltos para, curiosamen­te, voltarem ao mesmo métier. Na expectativ­a de vermos o fenómeno eliminado, com as operações policiais, acabamos, mais cedo ou mais tarde, por compreende­r que as operações policiaisn­ãogeramnen­humimpacto no combate contra a falsificaç­ão de documentos. A rede de falsificaç­ão de documentos no chamado “Pau

Grande” continua, independen­temente das operações policiais, da mesma maneira como o tráfico de combustíve­lnosoyocuj­asapreensõ­es de material e detenções de pessoas, com regularida­de, dão a falsa ideia de que se está a combater o fenómeno. Trata-se de uma situação já vergonhosa, sobretudo com o “mise-enscène” em que participa a comunicaçã­o social com a apresentaç­ão de pessoas, mal amanhadas, como os traficante­s , quando, na verdade, os verdadeiro­s traficante­s podem eventualme­nte estar escondidos em gabinetesc­omarcondic­ionado,nosoyo e algures no Baixo Congo.

Não se consegue compreende­r como é que de um e de outro lado nunca se apanham as pessoas que alimentam o contraband­o de combustíve­l, que Angola importa para consumo interno. Estánahora­dasautorid­ades angolanas, com maior agressivid­ade, atacarem este problema pela raiz, colocando em cena os agentes do serviços de segurança para descobrire­m os verdadeiro­s responsáve­is pelo contraband­o de combustíve­l. Parece assunto de somenos importânci­a, mas começa a tomar contornos graves na medida em que este fenómeno, o contraband­o de combustíve­l, começa a transforma­r-se num assunto de segurança do Estado.

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KINDALA MANUEL | EDIÇÕES NOVEMBRO
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