Jovem das leis empresta talento ao som do violino
Teresa sempre preocupou-se com a sorte das crianças pobres, daí ter integrado a obra filantrópica da Orquestra Camunga. Hoje, frequenta o quarto ano de Direito
Nkiayi Teresa Garcia David, filha de Ngombo David e de Ndembo Maria Garcia,é natural do bairro da Samba, em Luanda, onde nasceu a 30 de Maio de 1998. É irmã de outras cinco raparigas.
A frequentar o 4º ano do curso de Direito, na Universidade Independente de Angola (Unia), Nkiayi Teresa Garcia David é uma exímia instrumentista de violino na Orquestra Sinfónica Juvenil Camunga, para a qual entrou como aprendiz em Maio de 2016.
A orquestra, que completa dez anos em Novembro, tem estado a resgatar jovens e crianças do mundo da delinquência, ensinando-os como viver e lidar com a sociedade.
“O esforço do maestro calou fundo no meu coração, as injustiças que sofreu por ajudar jovens tão carenciados a aprender música deixaramme muito triste”.
Observando todos os instrumentos, ouvindo falar de diversos tipos e tamanhos, Nkiayi David só chorava de alegria. “Os meus pais ficaram encantados com a minha atitude, algumas pessoas apoiavam-me, outras achavam isso uma idiotice”.
Os olhos de Nkiayi David brilharam quando o maestro lhe apresentou o seu instrumento, um violino antigo (já usado), mas perfeito para ela.
E perplexa, a jovem começou a tocar, embora receosa de estragar o equipamento.
“Fui eleita a melhor aluna em 2018 e 2019, numa altura em que muitos que haviam começado comigo desistiram. Falaram-me mal por algum tempo, por não desistir”, conta.
Nkiayi David foi forte, apesar de enfrentar dificuldades extremas para ingressar no ensino superior e, ao mesmo tempo, não desistir de aprender a tocar. “Permaneci, fui escolhida para fazer parte do grupo A (grupo principal) e sentia-me incapaz, achando que ainda não tinha capacidade para lá estar, mas o maestro Camunga motivou-me”.
Nkiayi David chorava e, ao mesmo tempo, agradecia pela oportunidade, pedia a Deus que fosse o Seu guia, até que foi eleita delegada geral da Orquestra Sinfónica Camunga.
“Não acreditava no que estavaaacontecercomigo”. A jovem tinha isso como um grande combate, por ter que lidar com crianças dediferentesfamílias,bairros,crençasreligiosas,com grandes dificuldades nas suas vidas diárias, mas iam aprender a tocar.
Hoje, Nkiayi David é subdirectora da Orquestra Camunga. Mas, outros sonhos estão, ainda, por realizar. Por isso, decidiu formar-se em Direito, ao considerar uma área de actuação bastante ampla, o que é um atractivo diante da flexibilidade que proporciona.
Mas, sublinha, nunca lhe saiu da cabeça o grave problema da delinquência no bairro Rocha Pinto. “Eu devo ajudar esses meninos”.
Nkiayi David sentese feliz quando recorda a sua infância. Apesar das vicissitudes por que passou no seu quotidiano, ela prefere dar relevo aos momentos de aprendizagem, a extrema alegria, porque é um tempo que jamais voltará.
Sobre o Rocha Pinto, bairro pobre de Luanda, onde nasceu, a jovem diz guardar coisas boas e más. “Não foi fácil aguentar toda aquela turbulência de ver jovens e crianças ao nosso redor, tornando-se delinquentes. Falar pode ser fácil, mas viver aquele dia-a-dia de delinquência, ver crianças desamparadas é duro”.
Nkiayi diz ter sido sempre uma pessoa reservada, controlada, calada e quieta, mas observando o comportamento dos outros, como as pessoas agem. “Gosto mais de apreciar as suas atitudes, gestos, olhares, maneira de pensar e de agir. É algo que guardo da educação que eu tive dos meu pais”.
Às vezes, Nkiayi David imagina-se a exercer a profissão no ramo do Direito. Mas, o sonho de menina era outro. “Quando me perguntassem o que queria fazer quando crescesse, eu respondia que queria viajar pelo mundo. Sonhava ser aeromoça”.
Mas, Nkiayi Teresa Garcia David cresceu a ouvir que, para ser alguém, era preciso formar-se. “E, hoje, estou na faculdade, independentemente de qual fosse o curso. Essa crença, por vezes, assombrou-me, fez-me duvidar de alguns sonhos”.