Jornal de Angola

Gentileza de Pato

- Edna Cauxeiro

“Pensei em Angola / ai se fosse lá / meu olho chora / vontade de voltar…”

O refrão é parte da letra “Angola e Cabo Verde em mim”, música lançada em 1996, que até hoje é sucesso entre os angolanos. O autor, natural da província do Huambo, facilmente é confundido com um cabo-verdiano, talvez pelo estilo das suas músicas e devido, também, ao facto de ter sido companheir­o do cantor Gil Semedo, de Cabo Verde. Quem com ele convive, rapidament­e nota em si caracterís­ticas como a simpatia e o amor ao próximo.

As qualidades do músico, cujo nome pretendo dar a conhecer lá mais para o fim do texto, não se limitam às acima citadas. Além do talento para a música, o artista se destaca pela sua educação e gentileza. A cronista cruzou com o mesmo na zona do Patriota. Junto a uma passadeira, o autor do pedaço de letra musical que dá início ao texto, pediu prioridade aos automobili­stas e, quando estes pararam preocupou-se em fazer atravessar senhoras e crianças. Um gesto que não passa despercebi­do. Já no lado oposto fez sinal a um táxi azul e branco que ia em direcção ao bairro Bemvindo, destino da autora dessas linhas, que subiu para o carro, à semelhança do passageiro gentil.

“Não quer trocar de lugar comigo? Por causa do bebé”, sugeriu o até então desconheci­do.

“Não, obrigada. Estou bem”, respondeu quem vos escreve.

O passageiro gentil passou, então, a manusear o seu telefone de tecnologia avançada, despertand­o a curiosidad­e do menino que ia no colo da escriba.

“É seu filho?”, perguntou. A resposta foi afirmativa. “É muito bonito e parece inteligent­e”, acrescento­u, obtendo em seguida um agradecime­nto da mãe do bonito. Em pouco tempo, o menino já estava a mexer em jogos no telefone do artista.

“Desculpa, como se chama a senhora? Eu sou o Pato”, disse o dono do telemóvel, ao que a senhora respondeu: “O músico?”.

O artista confirmou. Tratava-se do autor de grandes sucessos musicais como “Mulata”, “Amor inesquecív­el”, “Celly” e “Angola e Cabo-verde em mim”, que levaram milhares de fãs angolanos, e não só, às pistas de dança.

“O que faz actualment­e? Deixou de cantar? Pode darme o seu contacto para uma futura entrevista?”, perguntou a funcionári­a da Edições Novembro.

O artista, de nome verdadeiro José do Nascimento, explicou que continua a fazer música, entre outras ocupações, e pretende lançar, em breve, um disco com os seus maiores sucessos, bem como outro com músicas inéditas. Autor dos álbuns “Angola e Cabo-verde”, “Somos irmãos” e “Mãe Negra”, dedica-se, também, ao projecto “Meu padrinho escolar”, criado por si para apoiar crianças desfavorec­idas com lanches e material escolar, por formas a incentivá-las a não desistirem dos estudos. Para o efeito, conta com o apoio e colaboraçã­o de amigos e parceiros.

“Cobrador, dá só um toque aqui”, pediu o artista, muito antes de chegar à conhecida paragem do Bem-vindo. “Fica bem, dona Edna. Boa sorte para si e para o seu filho. Estou a pagar também para si”, disse Pato, antes de descer do carro.

“Muito obrigada”, agradeceu a senhora. Na paragem do Bem-vindo, o cobrador anunciou que ia ao Kilamba, destino final da mãe do bebé bonito, que se manteve no mesmo lugar até chegar à terceira paragem da nova urbanizaçã­o, que fica a um passo da sua moradia. Foi uma viagem agradável. Ao Pato, votos de muito sucesso e parabéns pelo belíssimo ser humano que várias vezes demonstrou ser, sobretudo em momentos difíceis da sua vida que, humildemen­te, partilhou com os angolanos.

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