Pandemia e interesses
A pandemia que tomou conta do mundo, continua a desafiar a humanidade, com o vírus que a move a desdobrar-se em estirpes, quando as sociedades começam a respirar de alívio e a querer retomar hábitos que ela contrariou.
A luta desigual entre o vírus invisível à vista desarmada, sem, cor e cheiro, com a humanidade, parece não ter fim, pondo em causa a forma de funcionamento de sociedades, principalmente as dos países tidos como os mais desenvolvidos, mas, também, realçando desigualdades e egoísmos que lhes são comuns, em prejuízo dos Estados mais necessitados, como são, entre outros, os casos dos que compõem o designado “terceiro mundo”.
O acesso às vacinas contra o vírus que move a pandemia, independente da velocidade com que se move e actua, tal como do nome que lhe é atribuído, prova à evidência egoísmos e descriminações por parte de quem as fabrica e distribui, impedindo, inclusive, que países menos evoluídos economicamente a produzam. Aliás, a própria constituição restrita do Conselho de Segurança das Nações Unidas, demonstra bem que a apetência para o neo-colonialismo é algo apegado, ainda, a muitas mentes, mesmo daqueles que tentam disfarçá-lo.
Os atrasos registados, em todos os sectores, nos países do chamado “terceiro mundo” tem responsáveis, independentemente de terem sido colonialistas ou serem neo-colonialistas. Uns, usavam a escravatura, mesmo sem grilhetas e o trabalho forçado; outros, falinhas mansas. Ambos os grupos tiveram ou têm o mesmo fito: a exploração a vários níveis. Por isso, entre os primeiros e os segundos, “venha o diabo e escolha”.
A estirpe mais recente do vírus que transporta a actual pandemia - ómicrom, que sucede à do delta - de acordo com as primeiras notícias, surgira na África do Sul. A má nova espalhou-se pelo Globo, à velocidade da luz e, desde logo, referida com a mais letal de todas, mesmo que uma cientista daquele país tivesse esclarecido ser demasiado cedo para qualificar a sua rapidez de infecção e quantificar o grau de mortalidade. Poucos dias volvidos, a verdade foi reposta. A nova estirpe, afinal, dera-se a conhecer na Europa. Independente onde apareceram cada uma das versões ou possam vir a surgir, importante é que todas as nações, designadamente, as mais capazes, se lembrem que o Mundo é apenas um e, mesmo que não queiram entender, cada vez mais interligado.
Deste mundo, cada vez mais interligado, faz parte África, onde há mortes causadas pela pandemia que tarda em ser vencida, mas podiam ter sido evitadas se dispusesse de vacinas que devia ter e, inclusivamente, podia estar a produzir.
Angola, por exemplo, anunciou, pela voz do Chefe de Estado, que prefere fazê-las a recebê-las. Isto é, não pede que lhe forneçam, quer que a deixem fazer. Quando isso suceder, passamos internamente a estar mais defendidos e parte do continente pode ser melhor abastecido e combater mais facilmente a doença.
Além de Angola, há, certamente, outros países, no nosso continente, em condições de produzir vacinas contra o vírus que impulsiona a actual pandemia. Assim queiram os “senhores do mundo”. É tempo de perceberem que os ventos novos que sopram pelo mundo não se compadecem com egoísmos e paternalismos e as relações entre Estados soberanos têm de ser isso mesmo, sob risco de não se satisfazerem os legítimos direitos de cada povo. Ora, quando acontece...
África, por exemplo, dos continentes menos afectados pela actual pandemia, segundo registos oficiais, é, igualmente, dos que regista menor número de tomas de vacina, pelo simples facto de a não ter em quantidade suficiente. Se isto não é egoísmo, para não lhe chamar crime contra a humanidade, então o que é?