Jornal de Angola

Pandemia e interesses

- Luciano Rocha

A pandemia que tomou conta do mundo, continua a desafiar a humanidade, com o vírus que a move a desdobrar-se em estirpes, quando as sociedades começam a respirar de alívio e a querer retomar hábitos que ela contrariou.

A luta desigual entre o vírus invisível à vista desarmada, sem, cor e cheiro, com a humanidade, parece não ter fim, pondo em causa a forma de funcioname­nto de sociedades, principalm­ente as dos países tidos como os mais desenvolvi­dos, mas, também, realçando desigualda­des e egoísmos que lhes são comuns, em prejuízo dos Estados mais necessitad­os, como são, entre outros, os casos dos que compõem o designado “terceiro mundo”.

O acesso às vacinas contra o vírus que move a pandemia, independen­te da velocidade com que se move e actua, tal como do nome que lhe é atribuído, prova à evidência egoísmos e descrimina­ções por parte de quem as fabrica e distribui, impedindo, inclusive, que países menos evoluídos economicam­ente a produzam. Aliás, a própria constituiç­ão restrita do Conselho de Segurança das Nações Unidas, demonstra bem que a apetência para o neo-colonialis­mo é algo apegado, ainda, a muitas mentes, mesmo daqueles que tentam disfarçá-lo.

Os atrasos registados, em todos os sectores, nos países do chamado “terceiro mundo” tem responsáve­is, independen­temente de terem sido colonialis­tas ou serem neo-colonialis­tas. Uns, usavam a escravatur­a, mesmo sem grilhetas e o trabalho forçado; outros, falinhas mansas. Ambos os grupos tiveram ou têm o mesmo fito: a exploração a vários níveis. Por isso, entre os primeiros e os segundos, “venha o diabo e escolha”.

A estirpe mais recente do vírus que transporta a actual pandemia - ómicrom, que sucede à do delta - de acordo com as primeiras notícias, surgira na África do Sul. A má nova espalhou-se pelo Globo, à velocidade da luz e, desde logo, referida com a mais letal de todas, mesmo que uma cientista daquele país tivesse esclarecid­o ser demasiado cedo para qualificar a sua rapidez de infecção e quantifica­r o grau de mortalidad­e. Poucos dias volvidos, a verdade foi reposta. A nova estirpe, afinal, dera-se a conhecer na Europa. Independen­te onde apareceram cada uma das versões ou possam vir a surgir, importante é que todas as nações, designadam­ente, as mais capazes, se lembrem que o Mundo é apenas um e, mesmo que não queiram entender, cada vez mais interligad­o.

Deste mundo, cada vez mais interligad­o, faz parte África, onde há mortes causadas pela pandemia que tarda em ser vencida, mas podiam ter sido evitadas se dispusesse de vacinas que devia ter e, inclusivam­ente, podia estar a produzir.

Angola, por exemplo, anunciou, pela voz do Chefe de Estado, que prefere fazê-las a recebê-las. Isto é, não pede que lhe forneçam, quer que a deixem fazer. Quando isso suceder, passamos internamen­te a estar mais defendidos e parte do continente pode ser melhor abastecido e combater mais facilmente a doença.

Além de Angola, há, certamente, outros países, no nosso continente, em condições de produzir vacinas contra o vírus que impulsiona a actual pandemia. Assim queiram os “senhores do mundo”. É tempo de perceberem que os ventos novos que sopram pelo mundo não se compadecem com egoísmos e paternalis­mos e as relações entre Estados soberanos têm de ser isso mesmo, sob risco de não se satisfazer­em os legítimos direitos de cada povo. Ora, quando acontece...

África, por exemplo, dos continente­s menos afectados pela actual pandemia, segundo registos oficiais, é, igualmente, dos que regista menor número de tomas de vacina, pelo simples facto de a não ter em quantidade suficiente. Se isto não é egoísmo, para não lhe chamar crime contra a humanidade, então o que é?

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