Dedicação à arte e patriotismo
De acordo com José Mena Abrantes, em “Para uma História do Cinema Angolano”, página 13, “o momento (1975/76) era de grande convulsão política e de intensa mobilização popular. Por essa razão, nada mais natural que essas primeiras produções sejam em forma de ‘cinema directo’ e se limitem a registar e a acompanhar, de uma forma um tanto ou quanto dispersa, as actividades político-militares e o clima de festa e de luta que marcou essa fase de transição”.
A euforia das pessoas por uma Angola independente, antes da chegada do Presidente António Agostinho Neto a Luanda, as visitas de Neto efectuadas nas diversas províncias fizeram o auge dos primeiros filmes de Angola independente, na sua maioria realizados por Carlos de Sousa e Costa, um dos poucos cineastas que captou a transição de Angola colonial para Angola independente. Dessa fase de transição, destacam-se os documentários “Independência”, “Agostinho Neto em Cabinda”, “Caxito I”, e “Caxito II”, todos de autoria de Carlos Sousa e Costa, e “Resistência Popular em Benguela”, de António Ole, obras reveladoras do nascimento de um novo país em África, em Novembro de 1975.
Durante esse período áureo do cinema angolano, dezenas de expatriados portugueses, com realce dos operadores de câmara Beto Moura Pires, que assina o clássico documentário “Caçulinhas da Bola” (1982), e Leonel Efe, autor de “Reconstrução Nacional na Agricultura” (1982), naquela altura eram chamados por “cooperantes”, contribuíram, também, ou seja, trabalharam em conjunto com os angolanos na produção de filmes de pendor patriótico, em que vingasse o sonho anti-colonial, ao longo da primeira década da jovem República Popular de Angola, pois impunha-se a criação de um pensamento novo no seio dos angolanos independentes: construir Angola!
Por essa razão, o cinema angolano nasce paralelamente à imperiosa necessidade de afirmação política. Não produziam somente obras cinematográficas, não, os cineastas (incluindo técnicos), trabalhavam revestidos de uma linha ideológica para complemento das acções políticas. Aliás, impossível seria por que Angola vivia o regime monopartidário e socialista, daí o cinema, sendo um meio de formação de opinião de massa, estar totalmente comprometido com os ideiais políticos vivenciados no momento para o cimentar da identidade política, que arrasta em si outras identidades: cultural, económica, religiosa, etc.
Na frente de filmes de natureza política e militar, seguem-se os realizadores Carlos de Sousa e Costa, Afonso Salgado Costa, os irmãos Henriques (Carlos, Victor e Francisco), António Ole e Rui Duarte de Carvalho, esses dois últimos depois enveredaram para filmes de índole social e cultural.
No campo da paisagem natural e filmes de cariz económico, sobretudo agropecuária, Leonel Efe destaca-se entre os seus colegas, enquanto Beto Moura Pires assume filmes desportivos.
Por sua vez, Asdrúbal Rebelo, cineasta ainda hoje no activo, sempre preocupouse com questões sociais à volta das crianças, quer as que participaram na segunda luta armada de libertação nacional, quer as que viviam nas ruas de Luanda, sem deixar de abordar temas de natureza artística e cultural.
Portanto, podemos constatar que os filmes produzidos durante os dez primeiros anos de Angola independente estão revestidos de cunho totalmente patriótico, um compromisso assumido pela primeira geração, que em nada pecou sobre os padrões de estética e gramática cinematográfica universal, tão pouco à função naturalista de uma obra de arte.
Portanto, podemos constatar que os filmes produzidos durante os dez primeiros anos de Angola independente estão revestidos de cunho totalmente patriótico, um compromisso assumido pela primeira geração, que em nada pecou sobre os padrões de estética e gramática cinematográfica universal, tão pouco à função naturalista de uma obra de arte