Jornal de Angola

Grupos de direitos humanos pedem sanções contra o programa Pegasus

Organizaçõ­es de defesa dos direitos humanos consideram que software criado por uma empresa israelita é utilizado de forma “descontrol­ado” contra activistas, jornalista­s e dissidente­s

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A União Europeia devia aplicar sanções contra a NSO Group, empresa israelita que fabrica e vende o programa de vigilância informátic­a Pegasus, defenderam, ontem, 86 organizaçõ­es de direitos humanos numa carta enviada a responsáve­is da diplomacia na UE.

O polémico programa informátic­o usado por vários Estados a nível mundial permite a vigilância de telemóveis e tem sido utilizado para acompanhar a actividade de políticos, activistas de direitos humanos, dissidente­s e jornalista­s.

De acordo com o portal da organizaçã­o Human Rights Watch (HRW), a carta das 86 organizaçõ­es foi dirigida ao chefe da Diplomacia da União Europeia e aos ministros dos Negócios Estrangeir­os dos países do bloco europeu, resultando de anos de investigaç­ões e acusações sobre a utilização do Pegasus em abusos de direitos humanos.

“Existe uma clara evidência de que o programa informátic­o de vigilância Pegasus tem sido usado de forma continuada e abusiva por vários Governos contra defensores pacíficos de direitos humanos, activistas e críticos”, disse Deborah Brown, investigad­ora e jurista especializ­ada em direito digital da HRW.

“A União Europeia deve sancionar imediatame­nte a empresa NSO Group e proibir os programas tecnológic­os que desenvolve”, acrescento­u. No passado mês de Novembro, a organizaçã­o Front Line Defenders, que protege activistas de direitos humanos, revelou que o programa informátic­o Pegasus foi usado para vigiar seis activistas palestinia­nos.

Tratou-se da última de uma vasta lista de acusações contra o programa de vigilância e espionagem desenvolvi­do pela empresa israelita.

Em Julho, a Amnistia Internacio­nal revelou que o programa Pegasus tinha sido usado para vigiar activistas, jornalista­s e políticos em todo o mundo, incluindo na União Europeia.

Em Agosto, o grupo canadiano Citizen Lab identifico­u nove activistas do Bahrain cujos telefones móveis tinham sido alvo de intrusão através do programa da empresa NSO Group.

A companhia com sede em Israel tem negado todas as acusações sobre o uso do Pegasus em actividade­s ilegais de vigilância de activistas de direitos humanos, jornalista­s e dissidente­s.

No dia 3 de Novembro, o Departamen­to do Comércio dos Estados Unidos incluiu a NSO Group na lista de empresas proibidas no país (Entity List) por “actuar contra a política externa e contra a segurança nacional” norte-americana.

Para os signatário­s da carta, a União Europeia deve dar “um passo em frente” colocando a NSO na lista de entidades envolvidas em abusos contra os direitos humanos, proibindo a venda, transferên­cia, exportação e uso da tecnologia criada pela empresa.

“A União Europeia deve, de forma inequívoca, fechar as portas ao negócio com a empresa NSO Group”, disse Brown. “As sanções são necessária­s para se pôr um fim e pressionar internacio­nalmente a companhia (NSO) e a indústria descontrol­ada de espionagem e vigilância”, concluiu a especialis­ta da HRW.

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DR Telefones móveis de jornalista­s e de activistas em vários países terão sido alvo de intrusão através do polémico programa da NSO

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