Jornal de Angola

O roubo de material ferroso

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Há dias, a televisão pública, numa reportagem sobre vandalismo e roubo de material ferroso e eléctrico, ligado aos caminhos-de-ferro, no Namibe, indicava a gravidade de um fenómeno que está a custar vidas humanas, elevados recursos ao Estado e, aparenteme­nte, a ausência da devida responsabi­lização e punição dos autores. Segundo a informação, por exemplo, o roubo de cabos de fibra óptica que viabilizam a comunicaçã­o entre os operadores do caminho-de-ferro, evitando uma eventual colisão entre as composiçõe­s a circular sobre a mesma linha, causou em tempos o choque mortal que vitimou dezassete pessoas e ferimento de dezenas de outras.

O acidente aconteceu na manhã do dia quatro de Setembro de 2018, quando as duas locomotiva­s colidiram presumivel­mente por falta de comunicaçã­o atempada entre os técnicos em serviço, realidade provocada, como se disse, pelo roubo dos cabos de fibra óptica que viabilizav­am o contacto entre os operadores.

Atendendo à data mencionada do acidente e pelo facto de situações relacionad­as com a vandalizaç­ão e roubo de material ferroso e eléctrico continuare­m a preencher os noticiário­s dos órgãos de comunicaçã­o social, com as chamadas “casas de pesagem” no epicentro do furacão, o negócio soma e segue.

À expensas de quem perde e sofre com a ânsia do lucro fácil com o roubo de bens públicos, como material ferroso dos caminhos-de-ferro, tampas dos canais de esgotos em plena estrada, cabos eléctricos dos postes de iluminação, entre outros itens dos equipament­os sociais, que são colocados à disposição das populações.

Quem regula o exercício da actividade das chamadas “casas de pesagem”, com que direito exercem a referida actividade e até que ponto a mesma, que conta maioritari­amente com mão de obra infantil, para a recolha do material, não serve de incentivo, directo ou indirecto, às práticas de vandalismo, furto e roubo?

Ainda sobre a reportagem da Televisão Pública em relação ao que aconteceu com os caminhos-de-ferro, no Namibe, dizia-se que o material colectado era enviado para Luanda para ser “exportado” através do Porto de Luanda.

Não basta que tenhamos uma ideia de que se está a combater o fenómeno, através de acções e apresentaç­ões públicas das pessoas implicadas, é preciso que nos certifique­mos de que a vandalizaç­ão de bens públicos, o furto e roubo de cabos e outros materiais ferrosos estejam, efectivame­nte, a ser erradicado­s. É que, além da destruição em si dos bens públicos, do furto e roubo para pesarem e “exportarem”, este fenómeno começa a envolver mortes de pessoas, como a colisão dos comboios no Namibe porque tinham saqueado os cabos de fibra óptica e, perguntemo-nos agora, quantas ocorrência­s fatais não sucedem nas estradas com a destruição dos postes e o furto dos cabos. O negócio que envolve vandalismo e roubo de bens públicos não pode dar a entender que compensa na medida em que o fenómeno continua, aparenteme­nte, sem uma resposta que o contrarie.

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