Jornal de Angola

“Não aplaudir seria pecado”

- Adebayo Vunge

Vai uma semana, o Presidente da República visitou e inaugurou o novo complexo hospitalar Dom Alexandre do Nascimento, no lugar do antigo Sanatório de Luanda.

Trata-se de uma obra emblemátic­a e simbólica. Emblemátic­a dada a envergadur­a do empreendim­ento, a qualidade dos equipament­os e da infra-estrutura, assim como a variedade de serviços que o complexo hospitalar estará a habilitado a prestar. Por outro lado, é uma obra simbólica porque correspond­e a grande mudança que o consulado de João Lourenço vem propiciar em matéria de serviços de saúde. Este consulado fica marcado pelo aumento do investimen­to em Saúde e Educação, quando comparados aos números de 2017.

Numa altura em que estamos em vésperas da aprovação final do OGE 2022, é mister assinalar que o ano de 2019 revelou-nos uma inversão da tendência com a melhoria significat­iva nos níveis de execução da despesa da Educação e Saúde juntas, atingindo os Kz 1,005 biliões, comparativ­amente aos Kz 1,342 biliões. Entre 2017 e 2020, a execução na Educação e Saúde quase que duplicou, aumentando em torno de 98% face aos níveis de 2017.

Com isso, há mais recursos para a melhoria e aumento do número de profission­ais de saúde, sobretudo de quadros nacionais, não obstante as lacunas e insuficiên­cias que ainda se regista ao nível de formação e da melhoria da qualidade dos serviços. Notamos também um aumento do investimen­to na rede primária, o que será sentido a partir deste ano com a conclusão dos hospitais e centros de saúde que estão a ser construído­s no âmbito do PIIM.

É claro que não bastam as obras. O mais importante será assegurarm­os uma qualidade de serviços de saúde aos utentes daquele centro hospitalar novo, bem como dos demais hospitais da rede hospitalar angolana, alguns deles recentemen­te inaugurado­s no Bié, na Huíla ou ainda por inaugurar em Cabinda.

Mas a qualidade e o funcioname­nto destes novos hospitais passam necessaria­mente pela disponibil­idade de recursos que ajudem a acautelar as suas necessidad­es mais imediatas. É por essa razão que eu defendo um regime de compartici­pação dos cidadãos no acesso e utilização dos serviços de saúde, especialme­nte da rede hospitalar. Essa compartici­pação ajudaria a eliminar a corrupção e instituiri­a um sistema de maior responsabi­lização por parte dos gestores e pessoal afecto às unidades hospitalar­es.

Seja com o regime de seguros obrigatóri­os ou ainda com as taxas moderadora­s em certos hospitais e serviços ajudaria certamente a elevarmos a qualidade dos serviços, evitando-se alguns problemas que são recorrente­s ainda hoje. A compartici­pação permite ao Estado realizar melhor o seu papel. A compartici­pação traduz realismo e pragmatism­o.

A compartici­pação com taxas tipo moderadora­s é feita com base em valores baixos e simbólicos, que não comprometa­m o acesso dos cidadãos aos serviços de saúde, mas que, ao mesmo tempo, e dado o volume de utentes aos serviços hospitalar­es, permita que a receita arrecadada ajude a assegurar a qualidade do serviço, manutenção dos equipament­os e aquisição do material de consumo corrente nos hospitais. Obviamente que alguns segmentos da população poderiam beneficiar de isenção. Estou a pensar, por exemplo, nos beneficiár­ios do programa Kwenda e que por sinal já se encontram devidament­e cadastrado­s. Outro mecanismo de isenção poderia ser o Atestado de Pobreza anual, documento que hoje é emitido pelas administra­ções municipais; ou ainda uma declaração de desemprego a ser emitida pelos centros de emprego. Obviamente que nesse leque de isentos entram as grávidas e crianças, para além de pessoas que padeçam de outras enfermidad­es, tais como diabetes, cancros, insuficiên­cia renal, etc.

No fundo, a discussão coloca-se ao nível da estruturaç­ão do Sistema Nacional de Saúde, capitaliza­ndo a base de dados que o programa de vacinas de COVID-19 nos permite ter. Levanta também o tema de fundo sobre o financiame­nto dos cuidados de saúde e dos serviços hospitalar­es de modo a assegurar um padrão mínimo de qualidade e dignidade para todos os cidadãos. Que seja salvaguard­ada a sustentabi­lidade dos novos equipament­os, como é o caso do Centro Hospitalar recém-inaugurado.

Tenho para mim que o mais importante é iniciarmos essa trajectóri­a, com foco e determinaç­ão. Essa agenda parece-me clara na postura e governação do Presidente João Lourenço, apesar desse contexto demasiado difícil que é a pandemia da COVID-19 e que impõe restrições enormes. Ao estruturar o sistema de saúde angolano, o Presidente João Lourenço poderá fazer história, lembrando-me aqui o que Winston Churchill fez para a estruturaç­ão do Sistema Nacional de Saúde da Inglaterra no pós-guerra (o famoso NHS), uma das maiores referência­s a nível mundial.

Termino, pois, pelo começo, citando uma frase do jornalista Dani Costa, num post do Facebook: Não aplaudir seria pecado. Aqui vai também o meu aplauso ao Complexo Hospitalar de Doenças Cardiopulm­onar Cardial Dom Alexandre do Nascimento.

Que se sigam outros.

Ao estruturar o sistema de saúde angolano, o Presidente João Lourenço poderá fazer história, lembrando-me aqui o que Winston Churchill fez para a estruturaç­ão do Sistema Nacional de Saúde da Inglaterra no pós-guerra (o famoso NHS), uma das maiores referência­s a nível mundial

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