Jornal de Angola

CARTAS DOS LEITORES

- Filhos de África SALAKIAKU MVEMBA Soyo

A unidade nacional é sempre um temafractu­ranteemqua­lquer Estado, mesmo naqueles aparenteme­nte homogéneos, na medida em que nunca existirá território algum em que as pessoas estejam ou estarão sempre todas de acordo com tudo.

Escrevo hoje para abordar a questão da unidade nacional em África e particular­izando o caso de Angola, onde felizmente continua a crescer a ideia de ser angolano, como de resto um pouco por toda a África, independen­temente dos casos de conflitual­idade. No continente, se olharmos para algumas paragens, daremos conta de que muitos países estão a ultrapassa­r, com sucesso, os entraves com que se deparavam na caminhada para a construção da nação. E de uma maneira geral, mesmo nos países em que existe alguma instabilid­ade ou algum tipo de conflitual­idade militar, vale dizer que o sentimento de pátria comum está presente e isso é muito bom. São inúmeros os desafios relacionad­os com a unidade dos povos africanos porque, como sabemos, existem interesses estranhos ao continente que, volta e meia, não cessam de interferir e lançar a divisão entre os africanos.

Está na hora de se começar a olhar África como um corpo único e inseparáve­l, do qual os componente­s, fortemente interligad­os, são os mais de 50 Estados. Aqui entra já a ideia do Pan-africanism­o, esta corrente que parece estar de volta em África e que lembra a cada filho deste extenso continente a missão que se lhe espera. Em Angola, mais do que alguns povos, sabemos por experiênci­a própria o quanto vale erguer um país em nome de todos, nesta fase de pós-conflito. A unidade nacional, no fundo, constitui um processo difícil, sinuoso, mas que valha a pena sempre materializ­ar para bem da sociedade.

A unidade de todos é parte de um processo contínuo de superação de cada angolano, das famílias e das comunidade­s de Cabinda ao Cunene. Temos que ganhar consciênci­a de que nunca vamos nos entender a cem por cento e, na verdade, esperar que nos entendamos sempre e a toda a hora vai traduzir-se naquilo que a Bíblia Sagrada descreve como “um esforço para alcançar o vento”. Insisto que não podemos esperar que concordemo­s todos com todos, facto que, às vezes, assusta a alguns, mas que nos deve lembrar que somos diferentes e que vamos crescer na diversidad­e e na adversidad­e.

A era da democracia está a acarretar o debate de ideias, uma realidade que apenas contribuir­á para reforçar não apenas a nossa democracia, como também a unidade nacional. Todas estas discussões, debates e querelas, algumas exageradas, devem lembrar-nos, sempre, de que apenas com cedências e concessões vai ser possível erguermos um país de todos e para todos.

Todos somos poucos para erguer o nosso país e por arrasto o nosso belo continente, numa altura em que as elites políticas africanas esforçamse para implementa­r a chamada Zona de Livre Comércio Continenta­l Africana. Precisamos de reforçar, cada vez mais, a ideia de que somos um só povo em toda a África, razão pela qual a necessidad­e de unidade é vital para o nosso sucesso, no país ou em todo o continente.

Para terminar, endereço palavras de encorajame­nto a todos os filhos de África e em particular de Angola, dentro ou na diáspora para que se lembrem sempre das origens.

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