Pandemia travou universalidade dos serviços de saúde em Angola
Segundo Franco Mufinda, está previsto que, no princípio de 2022, se inicie o processo de vacinação dos adolescentes, entre os 12 e 17 anos
O secretário de Estado para a Saúde Pública disse ontem que a pandemia da Covid-19 inviabilizou a construção de novas infra-estruturas hospitalares, um dos desafios para a universalidade dos serviços de saúde no país.
Franco Mufinda falava em declarações à imprensa, à margem de um acto de celebração do Dia Mundial da Cobertura Universal da Saúde, que reuniu em Luanda representantes do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS).
O governante sublinhou que há uma necessidade cada vez maior de infra-estruturas em resposta ao crescimento demográfico populacional, para o qual o Governo gizou o Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM), com vista ao surgimento de postos de saúde, centros de saúde e hospitais municiais em alguns pontos de Angola, que vão surgindo.
“Contra esse facto, infelizmente, surgiu a Covid-19 nos finais de 2019, que acabou por abalar todo um projecto, de per si, que era desafiante, que devemos reconhecer que ainda é desafiante a nossa saúde”, referiu.
Segundo Franco Mufinda, os recursos que deviam ser dedicados exclusivamente à construção de novas infraestruturas, para a redução do impacto da malária, da tuberculose, VIH/SIDA e outras endemias da comunidade angolana, “em alguns casos, foram desviados para apoiar esta pandemia”.
“Estamos a conseguir controlar [a pandemia] com o surgimento das vacinas, mas também apelando diariamente a que se observe o uso das medidas de protecção individual e colectiva, vamos colmatando esse facto, reduzir o impacto e repor os recursos a esses cuidados determinados, para se ter cada vez mais a tal universalidade propalada”, salientou. A par das infra-estruturas, Franco Mufinda realçou igualmente o desafio dos recursos humanos, para as tornar mais funcionais, bem como o da tecnologia, nomeadamente o apoio ao diagnóstico e a acomodação das pessoas.
“É nisso justamente que devemos trabalhar e pensar muito”, sublinhou o secretário de Estado para a Saúde Pública, realçando que a promoção da saúde é um desafio que deve envolver cada vez mais a população.
"Quando se fala em saúde é no sentido mais lato, não apenas a ausência de doenças, saúde é a economia, é o bemestar espiritual, bem-estar social, ambiente, habitação, acesso à água, saneamento básico. Se a gente tiver esses elementos todos assentes (… ) acreditamos que podemos evitar mais doenças, aí, sim, poder-se-á falar de saúde. Repito, saúde não é ausência de doença”, disse.
Franco Mufinda defendeu também que é preciso igualmente olhar para o crescimento demográfico e discutir o modelo de financiamento.
“Temos uma saúde tendencialmente gratuita, modelo nosso, social, depois em [19]92 surge o sector privado, dá essa escolha livre à nossa população, também se traz os elementos do que é gratuito, nem sempre há uma disciplina no consumo, pensamos que é outro debate, outra discussão, acaba por ser um desafio”, frisou.
O acesso aos insumos, os medicamentos “ali ao pé do utente” foram também situações apontadas pelo governante nos desafios para a universalidade da saúde em Angola.
“Há todo um trabalho para o surgimento da fábrica de medicamentos que devemos ter aqui, é um apelo que o Presidente da República deixou, devemos ter aqui, fabricar medicamentos essenciais e a especialização dos recursos humanos, esse é também outro desafio, que devemos ter pessoas especializadas para cabalmente abrir as portas e universalizar a saúde”, referiu.
Segunda dose
O secretário de Estado para a Saúde Pública alertou para o número de pessoas que ainda não tomou a segunda dose da vacina contra a Covid19, “com um hiato muito grande” entre as duas tomas. Franco Mufinda disse que o país tem disponíveis muitas vacinas, que têm sido adquiridas pelo Governo e também através de doações.
“Neste momento, temos acima de 19 milhões de vacinas em stock, já imunizámos com a primeira dose 10,5 milhões de pessoas, estamos a falar de pouco mais de três milhões de pessoas que teriam já fechado o processo de vacinação, sendo que há um hiato muito grande entre a primeira dose e a segunda. As pessoas em falta passam de sete milhões”, disse.
O governante fez um apelo à população para aderir aos postos de vacinação e também às brigadas que foram criadas em função da realidade de cada região do país.
Segundo Franco Mufinda, está previsto que, no princípio de 2022, se inicie o processo de vacinação dos adolescentes, entre os 12 e 17 anos.
“Este é o plano que a comissão multissectorial tem e há um pensamento também do reforço da terceira dose. Temos acima de 19 milhões de doses, isso dá azo a que assim se proceda”, afirmou.
Por sua vez, a representante da Organização Mundial da Saúde (OMS) em Angola, Djamila Cabral, reforçou o apelo para o cumprimento do calendário vacinal, a fim de combater a pandemia.
Djamila Cabral, que participou da cerimónia, considerou necessário e imprescindível que a população angolana elegível tome as duas doses da vacina, para sua protecção e da comunidade.
A responsável manifestou igualmente preocupação por se registar um certo abrandamento na procura da vacinação.