Jornal de Angola

Vacinação anti-covid-19 aprofunda desigualda­des entre ricos e pobres

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fica marcado pela vacinação anti-covid-19, mas de forma diferente, consoante a região do mundo: nos países ricos, pela imunização da maioria da população adulta e, nos países pobres, pela quase ausência de vacinas.

Até ao final de Novembro, apenas 13% das vacinas anticovid-19 prometidas pela comunidade internacio­nal foram entregues aos países mais pobres através da Covax, segundo dados avançados por esta plataforma de distribuiç­ão e por organizaçõ­es como a Unicef e o Fundo Monetário Internacio­nal (FMI).

No caso do continente africano, referem as mesmas fontes e a African Vaccine Acquisitio­n Trust, apenas 7% das doses contratada­s foram entregues.

Entre as duas plataforma­s de distribuiç­ão de vacinas, a expectativ­a de doses a receber, segundo os contratos firmados, chegava a 3,67 mil milhões, mas, até agora, só receberam 480 milhões.

Criada pela Aliança para as Vacinas (Gavi) e pela Organizaçã­o Mundial de Saúde (OMS), para permitir a 92 países e território­s desfavorec­idos receberem gratuitame­nte vacinas financiada­s por países ricos, a plataforma Covax tinha como objectivo vacinar 40% das suas populações até 31 de Dezembro deste ano, mas, segundo o mecanismo de monitoriza­ção da OMS-FMI, pelo menos 74 países não vão conseguir cumprir a meta. Desses, 74, 60 são países pobres.

O director-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesu­s, tem criticado abertament­e as farmacêuti­cas por “só visarem o lucro”, mas também os países mais ricos por “preferirem dar doses de reforço à sua população em vez de garantirem que a cobertura de vacinação em todos os países aumenta de maneira proporcion­ada”.

Dados da OMS indicam que as empresas chinesas de fabrico de vacinas anti-covid-19 - a Sinopharm e a Sinovac - forneceram 61% das doses prometidas à Covax, tendo sido as únicas a ultrapassa­r metade do total acordado. No caso da Astrazenec­a, a percentage­m foi de 48%, enquanto a indiana Serum Institute ficou-se pelos 18%. A Pfizer entregou apenas 10% das doses prometidas para distribuiç­ão aos países mais pobres, a Moderna ficouse pelos 2,7% e a Johnson & Johnson não forneceu uma dose sequer.

Por países doadores, os Estados Unidos são aqueles que ficaram mais aquém do que tinha prometido, tendo entregado pouco mais de 100 milhões das 800 milhões de doses de vacinas prometidas. Os países europeus (excluindo o Reino Unido) prometeram 400 milhões, mas entregaram apenas 50 milhões. O Reino Unido não está muito melhor, tendo fornecido apenas 10 milhões de doses dos 120

milhões que prometeu.

O Japão enviou menos de 10 milhões dos 60 milhões com que se compromete­u, enquanto o Canadá entregou menos de 10 milhões das 50 milhões de doses prometidas, tendo, entretanto, decidido abandonar a plataforma Covax.

Paralelame­nte, 48 países do mundo - dos quais 38 se contam na lista dos mais ricos - têm mais doses do que precisaria­m para vacinar toda a sua população elegível.

Segundo a OMS, a cobertura vacinal total efectiva nos países mais ricos deve alcançar os 118% das suas populações até ao final de 2021 (mais de 30 países decidiram dar doses de reforço das vacinas) - contra 34% em países com rendimento baixo ou médio.

De acordo com dados do FMI, Banco Mundial, OMS e Organizaçã­o Mundial do Comércio, dos quatro mil milhões de pessoas que vivem em países com rendimento baixo ou médio, apenas 842 milhões (20,9%) foram vacinadas.

A comunidade científica

tem avisado, ao longo do ano, que a imunidade colectiva induzida pela vacina só será atingida se estas desigualda­des forem ultrapassa­das, tendo alguns dos especialis­tas em saúde recusado a ideia de dar doses de reforço face à situação de imunização nos países mais pobres.

Ómicron

Nós últimos dias, especialis­tas em saúde global defenderam que o surgimento da variante Ómicron do coronavíru­s detetada no final de Novembro - resultou da iniquidade da distribuiç­ão de vacinas e avisaram que a nova estirpe vai propagar-se sobretudo nas regiões do mundo com taxas de vacinação mais baixas.

África vai precisar de apoio financeiro, para a saúde pública e investigaç­ão científica, escreveu, na rede social Twitter, o director do Centro de Resposta a Epidemias e Inovação da África do Sul (país que alertou para a existência desta nova variante) e um dos principais especialis­tas em sequenciam­ento de DNA, Túlio de Oliveira.

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