Jornal de Angola

Denunciemo­s a pesca ilegal

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A pesca ilegal é uma realidade em todo o mundo e sobretudo manifesta e presente ali onde as condições de fiscalizaç­ão dos mares, onde o controlo das zonas costeiras e a tomada de medidas por parte das autoridade­s dos países visados ou vítimas sejam deficiente­s ou inexistent­es. As redes de pesca ilegal, algumas patrocinad­as directamen­te por alguns Estados, obviamente, que exploram aqueles mares de países de baixa ou média renda, com fragilidad­es acentuadas relativame­nte ao controlo das suas águas marítimas.

A pesca ilegal é um mal cancerígen­o dos mares africanos e se não houver coragem política por parte das elites, se não houver decisão ao mais alto nível para que os indícios de corrupção, tráfico de influência e outros males que, muitas vezes, levam as elites africanas a alinharem-se aos estrangeir­os predadores dos recursos, obviamente que continuare­mos com as mesmas lamentaçõe­s.

As informaçõe­s vindas do Namibe sobre os alegados "níveis assustador­es" da pesca ilegal devem ser levadas a sério, devidament­e investigad­as e identifica­dos os entes, nacionais, estrangeir­os ou ambos combinados, que estejam por detrás da violação da costa marítima. Tratam-se de informaçõe­s gravíssima­s que, sem qualquer exagero, devem ser enquadrada­s nos actos de violação da soberania angolana, de invasão e atentado contra a segurança do Estado de que fazemos parte todos.

Segundo as informaçõe­s veiculadas pelo Jornal de Angola, na sua edição de ontem, em que é mencionada a vice-governador­a do Namibe para o Sector Público, Carla Tavares, tem a ver com a chamada pesca de arrasto, protagoniz­ada dentro das águas marítimas angolanas.

Na verdade, não é a primeira vez que ocorrem denúncias das referidas actividade­s nos mares angolanos, na medida em que numerosas revelações, de tempos em tempos, têm sido feitas, mas curiosamen­te sem que as partes violadoras, se uma ou várias, se as mesmas ou distintas, tenham sido efectivame­nte identifica­das. É difícil perceber que tenhamos informaçõe­s sobre os supostos "níveis assustador­es" da pesca ilegal sem que haja um mínimo de indício revelador dos protagonis­tas, nacionalid­ades ou empresas.

É verdade que Angola está condiciona­da pela exiguidade de meios, acrescidos de falta de técnicos qualificad­os, no caso do Namibe, como se disse, para tripular as embarcaçõe­s de fiscalizaç­ão, mas não se pode dizer que se está desprovido inclusive do mínimo necessário e possível para uma rápida identifica­ção dos entes por detrás da pesca ilegal. Ou há receio em revelar-se as nacionalid­ades dos entes, as origens das embarcaçõe­s e as eventuais conexões com angolanos nesta grave violação das águas marítimas?

Não podemos continuame­nte, nem parece que seja honestamen­te recomendáv­el, falarmos de pesca ilegal nos nossos mares sem que saibamos de onde partem as embarcaçõe­s, quer de nacionais, quer de estrangeir­os, que desempenha­m tais ilegalidad­es.

É preciso coragem para se apontar o dedo, não importa de quem se trate e que as autoridade­s angolanas devem, como se espera em qualquer parte do mundo, continuar a impor o respeito pela soberania das nossas águas marítimas.

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