O MPLA, o reforço da coesão interna e os desafios da nossa democracia
Às portas das eleições gerais de 2022, o MPLA acaba de realizar o seu VIII Congresso Ordinário, com o foco centrado na vitória eleitoral e consequente reeleição do seu candidato a Presidente da República, por um lado, mas também com os olhos postos no alargamento da base de apoio.
Do congresso, realizado de 9 a 11, uma das conclusões a que se pode chegar é que o reforço da coesão interna do partido emergiu como um dos assuntos que era preciso abordar e que o presidente João Lourenço cuidou de dar tratamento com o merecido relevo.
A política de combate à corrupção empreendida pelo presidente do MPLA, desde o início do seu mandato na Presidência da República, em Setembro de 2017, teve repercussões internas. O tema dividiu militantes. Como consequência, uma das questões levantadas era a de saber que MPLA teríamos nas eleições de 2022.
O VIII Congresso Ordinário trouxe a resposta, que era aguardada com alguma expectativa, porque, em meio a uma pandemia sufocante, que atrofia o exercício da governação, ao desafio da afirmação de que o combate à corrupção é para ser levado a sério, e à urgência com que são colocadas as preocupações em relação às necessidades básicas, o MPLA consegue reinventar-se e encontra espaço para garantir que continua a ser a força política capaz de realizar as mudanças que o país reclama.
O alargamento do Comité Central, de 497 para 693 membros, a criação de um conselho de honra (novo órgão do partido de que fazem parte figuras históricas) e o reconhecimento público do papel desempenhado pelo ex-presidente José Eduardo dos Santos, na conquista e salvaguarda da paz em Angola, são factos novos, que nos permitem concluir que o MPLA vai, em 2022, apostar numa actividade político-partidária mais intensa.
Foi, aliás, o que João Lourenço deixou claro no acto de massas realizado no Estádio 11 de Novembro, no dia 11.12, por ocasião dos 65 anos do MPLA e para encerramento do VIII congresso, no qual falou também da responsabilidade dos militantes do partido que servem o Executivo, para quem a única desculpa aceitável para o não cumprimento das suas tarefas só pode ser a falta de recursos.
No outro extremo da política nacional, a UNITA também realizou, de 2 a 4 de Dezembro, o seu XIII Congresso Ordinário, ao abrigo do que foi decidido pelo Acórdão 700/2021 do Tribunal Constitucional. Um congresso em que, como já era esperado, Adalberto Costa Júnior foi confirmado como o líder da formação política e reiterou o desejo de lutar para que haja alternância no poder no país.
Do discurso proferido por Adalberto Costa Júnior, no encerramento do conclave da UNITA, é de reter a promessa de desenvolver esforços para o diálogo com o Presidente da República. Apesar das clivagens entre as duas maiores formações políticas, e contrariando as posições mais radicais, a UNITA enviou um representante ao VIII Congresso Ordinário do MPLA: o deputado Liberty Chiaka. Em democracia, não é aconselhável que os partidos políticos enveredem pela ruptura total do diálogo. Se a UNITA se fez presente foi porque, como é óbvio, houve um convite que lhe foi formulado pelo MPLA.
As duas formações políticas têm responsabilidades históricas na conquista e preservação da paz no país. Mas essa responsabilidade não se resume à construção e manutenção da paz. A edificação da nossa democracia é um processo ao qual todas as forças activas, toda a sociedade, devem aportar contribuições. Pelo peso que têm, ao MPLA e à UNITA, com maior ou menor responsabilidade, cabe a tarefa de pavimentar o terreno por onde a democracia angolana irá trilhar.
As abordagens feitas na précampanha eleitoral estenderam sobre o espectro político nacional um manto de tensão que não augurava bons ventos para a democracia no país e, em particular, sobre o ambiente que deverá marcar a realização das eleições de Agosto do próximo ano.
Razão por que, no comício de sábado, João Lourenço dedicou uma boa parte da sua intervenção a referir-se ao passado, aos erros cometidos, e a exortar a juventude, as novas gerações, a não se deixar levar para os mesmos labirintos, que fizeram o país resvalar para o longo conflito de três décadas, que consumiu enormes recursos nacionais e fez Angola regredir económica, social e até politicamente.
Vamos esperar, pois, que os bastidores da política sejam capazes de produzir entendimentos que garantam que as eleições serão encaradas como em qualquer democracia normal: com todos os actores a exercerem o seu papel e os resultados a serem aceites com fair play.
Vamos esperar, pois, que os bastidores da política sejam capazes de produzir entendimentos que garantam que as eleições serão encaradas como em qualquer democracia normal: com todos os actores a exercerem o seu papel e os resultados a serem aceites com