Jornal de Angola

As mãos estendidas

- ANTÓNIO LUBANZÁDIO Negage

Há dias, vi uma peça de reportagem da televisão pública ou TV Zimbo, já não me lembro bem, em que mostravam os sinistrado­s da Samba que se encontram nos lados da localidade de Caxicane. Acho que estão lá alojados provisoria­mente até serem encaminhad­os para locais fixos, a serem cedidos pelo Estado para autoconstr­ução dirigida ou já com casas pronto a morar.

Mas o que me leva a escrever estas modestas linhas tem a ver com o facto de as populações alegarem fome, dizendo inclusive que tem havido cenas de violência por causa dos mantimento­s que são distribuíd­os pelas instituiçõ­es do Estado. Ou seja, algumas famílias estão ali a passar fome, como se disse na referida peça e ocorre-me falar um bocado sobre uma realidade que precisa de ser invertida. Temos hoje um país em que as famílias pretendem todas depender do Estado, invocando fome, falta de meios de subsistênc­ia e curiosamen­te numa atura em que as pessoas podem e devem fazer alguma coisa. No referido centro de acolhiment­o dos sinistrado­s da Samba, ali em Caxicane, muitas famílias deviam aprender a fazer alguma coisa, um negócio, lavrar a terra ou dedicar-se a qualquer outra actividade como a venda. Ficar ali apenas a depender dos bens alimentare­s pode ser temporaria­mente uma solução, mas no longo prazo é preciso que as pessoas se ajudem também elas mesmas para que as instituiçõ­es do Estado intervenha­m com outras iniciativa­s. Obviamente que em Caxicane há pessoas que já deixaram de lá estar e continuar a depender das instituiçõ­es do Estado para contarem consigo mesmas. Um pouco por todo o país, parece que virou moda as famílias ficarem à espera que as instituiçõ­es públicas e algumas iniciativa­s privadas, por exemplo das igrejas, abasteçam com bens alimentare­s, vestuário e equipament­os para a prática da agricultur­a. Esta última até faz parte do que chamo de soluções estruturan­tes que as populações precisam para gradualmen­te deixarem de depender do Estado. Por tudo e por nada, é moda as pessoas, mesmo as que vivem nas localidade­s tipicament­e agrícolas, com rios e lagoas à volta a terras aráveis, alegarem que estão a passar fome e que precisam que o Estado as ajude para comer.

É verdade que é tarefa do Estado criar as condições para que as pessoas dependam de si mesmas, mas a narrativa que começa a ganhar corpo é precisamen­te aquela envolvida na ideia de que o Estado tem de dar de comer às famílias. As instituiçõ­es do Estado precisam de corrigir com urgência muitas das distorções que ocorrem um pouco por todo o país, relacionad­o com os bens que são produzidos e chegam a apodrecer, enquanto ali onde os referidos bens sejam necessário­s existam pessoas a passar fome.

Não consigo entender como é que, por exemplo, o peixe deteriora-se no Namibe, quando no Cunene as pessoas estejam sem peixe seco para comer. O ananás apodrece no Cuanza-sul e a laranja estraga-se no Tomboco, apenas para mencionar estes produtos, escassos em outras localidade­s do país.

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