As mãos estendidas
Há dias, vi uma peça de reportagem da televisão pública ou TV Zimbo, já não me lembro bem, em que mostravam os sinistrados da Samba que se encontram nos lados da localidade de Caxicane. Acho que estão lá alojados provisoriamente até serem encaminhados para locais fixos, a serem cedidos pelo Estado para autoconstrução dirigida ou já com casas pronto a morar.
Mas o que me leva a escrever estas modestas linhas tem a ver com o facto de as populações alegarem fome, dizendo inclusive que tem havido cenas de violência por causa dos mantimentos que são distribuídos pelas instituições do Estado. Ou seja, algumas famílias estão ali a passar fome, como se disse na referida peça e ocorre-me falar um bocado sobre uma realidade que precisa de ser invertida. Temos hoje um país em que as famílias pretendem todas depender do Estado, invocando fome, falta de meios de subsistência e curiosamente numa atura em que as pessoas podem e devem fazer alguma coisa. No referido centro de acolhimento dos sinistrados da Samba, ali em Caxicane, muitas famílias deviam aprender a fazer alguma coisa, um negócio, lavrar a terra ou dedicar-se a qualquer outra actividade como a venda. Ficar ali apenas a depender dos bens alimentares pode ser temporariamente uma solução, mas no longo prazo é preciso que as pessoas se ajudem também elas mesmas para que as instituições do Estado intervenham com outras iniciativas. Obviamente que em Caxicane há pessoas que já deixaram de lá estar e continuar a depender das instituições do Estado para contarem consigo mesmas. Um pouco por todo o país, parece que virou moda as famílias ficarem à espera que as instituições públicas e algumas iniciativas privadas, por exemplo das igrejas, abasteçam com bens alimentares, vestuário e equipamentos para a prática da agricultura. Esta última até faz parte do que chamo de soluções estruturantes que as populações precisam para gradualmente deixarem de depender do Estado. Por tudo e por nada, é moda as pessoas, mesmo as que vivem nas localidades tipicamente agrícolas, com rios e lagoas à volta a terras aráveis, alegarem que estão a passar fome e que precisam que o Estado as ajude para comer.
É verdade que é tarefa do Estado criar as condições para que as pessoas dependam de si mesmas, mas a narrativa que começa a ganhar corpo é precisamente aquela envolvida na ideia de que o Estado tem de dar de comer às famílias. As instituições do Estado precisam de corrigir com urgência muitas das distorções que ocorrem um pouco por todo o país, relacionado com os bens que são produzidos e chegam a apodrecer, enquanto ali onde os referidos bens sejam necessários existam pessoas a passar fome.
Não consigo entender como é que, por exemplo, o peixe deteriora-se no Namibe, quando no Cunene as pessoas estejam sem peixe seco para comer. O ananás apodrece no Cuanza-sul e a laranja estraga-se no Tomboco, apenas para mencionar estes produtos, escassos em outras localidades do país.