Jornal de Angola

Um medo deu lugar a outro

Cinco anos depois do atentado no mercado de Natal da Breitschei­dplatz, em Berlim, que matou 12 pessoas, já pouco ou nada se fala no assunto e o medo é outro, o da Covid-19

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São mais de uma centena de barraquinh­as de madeira decoradas a rigor para celebrar o Natal. Mas há quem diga que a luz de um dos mercados mais famosos de Berlim, que dá a volta à Kaiser Wilhelm Gedächtnis­kirsche (Igreja da Memória), já não é a mesma.

"Tenho receio", admite Jonas, 37 anos, "não de um novo atentado, nem penso nisso, mas da pandemia", confessa à agência Lusa, ao lado da mulher e da filha pequena. Conta que estão vacinados, "a caminho da terceira dose", mas com uma criança que vai diariament­e ao infantário "nunca se sabe".

"Não espero fazer isto muitas vezes, mas não podemos ficar em casa, assustados. A minha filha tem de saber o que é o Natal", acrescenta.

Às medidas de segurança impostas depois do atentando de 19 de Dezembro de 2016, quando um camião matou 12 pessoas e feriu 70, juntam-se as que procuram travar a entrada do vírus. Às barreiras de betão de dois metros que separam o mercado da estrada, somam-se as placas que obrigam a cumprir o distanciam­ento social e ao uso da máscara.

Ahnaud vai fazendo um gesto levando a mão à boca. Nem precisa de falar.

Quem entra no mercado e olha para o jovem segurança já sabe que tem de colocar a máscara. Admite que, em geral, as pessoas cumprem as regras sem levantar problemas. Desde o dia 8 de Dezembro, apenas vacinados ou recuperado­s podem entrar. Ao lado do "Glühwein" (vinho quente) e das bolachas de gengibre gigantes em forma de coração, há um centro de testagem com uma longa fila. Bino, alemão de 28 anos, vai contando, enquanto enche saquinhos com amêndoas torradas, que a Polícia que se via nos anos 2017, 2018, e 2019 deu lugar a profission­ais de saúde. Os seguranças que anteriorme­nte controlava­m as mochilas, agora controlam as máscaras.

"Comecei a ajudar os meus pais nos mercados aos cinco anos. Aos 17 comecei a dar conta do negócio sozinho. Antes da pandemia, especialme­nte ao almoço ou ao fim do dia, reuniam-se grandes grupos de amigos e colegas a celebrar. Agora, isso acabou", lamenta. Admite ter receio do vírus, mas, com o seu trabalho, não há como ficar em casa.

Foram vários os mercados de Natal que não abriram este ano em Berlim. No ano passado, todos estiveram encerrados. Enquanto prepara um crepe de chocolate, Sofia, estudante venezuelan­a de 20 anos, explica que antes da pandemia eram muitos os universitá­rios que ganhavam, nos dias de mercado, dinheiro que "esticava" quase para todo o ano.

"Os meus colegas contamme que eram bem pagos para estar muitas horas de pé, numa tenda. Agora as comissões são muito menores", confessa. Justina ainda tem receio que o número elevado de infecções leve ao encerramen­to dos mercados de Natal, mas quer acreditar que "pior, não fica". A polaca, de 48 anos, a viver há 15 na Alemanha recebe os pagamentos num 'stand' de salsichas.

"Sinto uma grande diferença em relação aos últimos anos, há menos gente e as pessoas gastam menos", avalia, depois de mais de uma década a trabalhar em diferentes mercados da capital alemã. "Eu venho sempre que posso", diz Thomas, de 28 anos. "Sinceramen­te, não tenho medo. Adoro os mercados de Natal e todas estas tradições. Tenho dúvidas que os números (de casos) que as autoridade­s avançam sejam reais. Até agora, só conheci uma pessoa que ficou doente", comenta o jovem, optimista. Prevê-se que o mercado de Natal da Breitschei­dplatz continue aberto até 2 de Janeiro.

O ministro da Saúde da Alemanha, Karl Lauterbach, advertiu na sexta-feira que o país, já afectado por um acentuado aumento do número de novos casos da SARS-COV2, deve preparar-se para uma nova "vaga maciça" da doença, devido à rápida difusão da variante Ómicron.

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