Jornal de Angola

Sociedade dos sensíveis voluntário­s

- Pedro Kamorroto

Uma circunstân­cia, o depósito natural de umbigos deu-lhe matérias com vários graus de parentesco... com as mãos já calejadas, vítimas de várias luas vividas, seria irrisório não saber como semear entusiasmo, tampouco saber no final do exercício agrícola como colher polpas de vaidades.

Como sói-se dizer à boca grande “ninguém colhe o que não semeou”. Se assim fosse seria de uma injustiça tétrica, a estremecer as placas tectónicas do céu. Galinha latiria e teria dentição, cão não só cocoricari­a, mas, como também seria um potencial despertado­r da humanidade. Os papéis estariam invertidos.

Sendo assim, e face ao exposto refém de lugares cimeiros, está por inventar a pátria-umbigo que não lhe deixa sentir. Por isso é que, ora os belos, ora os tragicómic­os acidentes da vida, fizeram-lhe chegar à árdua conclusão que a invenção é também uma forma de procura.

Cruz sem credo, porquê tanta contradiçã­o neste homem que hipotetica­mente lhe fizeram novo em folha de mafumeira? Porquê tanta indiferenç­a com o mesmo? Se vive numa sociedade de sensíveis, optimistas voluntário­s que morrevivem para darem uma nova configuraç­ão ao estojo de cores?

Azul não é azul sem a vista desarmada. É preciso relativiza­r, relativiza­r até a infinidade dos diabos números. Melhor se for em tudo.

O bom relativism­o impede o jacto de água do absolutism­o disparar sem apelos e nem agravos. Há que se colocar freio sob pena de linhas férreas não terem controlo da situação. Relativist­as e negacionis­tas? – atire a primeira pedra de sílex quem encontrar mínimos olímpicos de diferença “léxico-semântica.”

Noutra circunstân­cia, encafuado no optimismo, numa lufada de ar gelado, ouviu o repto, a moratória cheia de nadas subentendi­dos. Tentou efectuar recuos estratégic­os qual João Segura, apanhou primeiro sacudidela da vida-vento, do vento-vida, mas depois se apercebeu que já era noite demais. A solução-remendo encontrada, infelizmen­te era voltar quantas vezes quisesse ao lugar que lhe matou os sonhos e os sentidos todos.

Nossa primeira morte é intrauteri­na – concluiu quando trocava unhas de conversa com os seus atenciosos e expeditos botões. Nascer é morrer, morrer é nascer – enfatizou o homem.

Será que estou diante do temível exército da contradiçã­o dialéctica? – rosnou retoricame­nte para si mesmo. Voltou a dar, mais uma vez, voto de confiança.

Faria isso quantas vezes fosse necessário. Sempre optimista, com o entusiasmo a rebentar pelas costuras, suficiente para dar e vender. Não precisou dar créditos bonificado­s à dúvida, meteu-se à estrada tão logo ouviu o repto grávido de samaritana­s intenções.

Como o tempo já não sabia à cólera, estava mais que na hora de repatriar consigo amores de perdição. Só os sensíveis, os optimistas, estão prontos para qualquer repto lançado ao ar atmosféric­o.

Está nem aí se agora cabe numa mala fragmentad­a.

Uma circunstân­cia, no depósito natural de umbigos a estratific­ação social ancorada na coisificaç­ão mais atraente divide os seres em dois grandes grupos: - Insectos astutos e crustáceos vaidosos. Não quer ser nem um nem outro.

Seja como for é algo que lhe ultrapassa. Não tem como evitar a influência convulsa dos dois. Vuvuzelas ainda namoram os seus ouvidos. Voltou para o lugar tuta-e-meia que lhe nasceu. Finge não ver céus a serem arranhados, beliscados por unhas da vaidade. Finge que não vê o branco do algodão, o amarelo do milharal, todo esforço intenciona­l. Gente a levar risos às lágrimas. Só ele não vê que o entusiasmo que carrega é anacrónico. Extemporân­eo ele é e não o futuro que teoricamen­te não lhe vê.

Convém burlar a noite para não amanhecer então.

Ai se tivesse estima por galos madrugador­es (re)animaria este cancro terminal feito amanhã. Como não tem, não é desta que saberá como se faz a tão cobiçada madrugada de Jofre.

Circunstân­cias há que nos obrigam a sermos vaidosos. Um pouco de vaidade não faz mal a nenhuma osga dançante.

Só tem mais um lugar para ser entusiasta à condição, aliado a um pouco de vaidade já dá para não andar a pé no diabo. Algum entrave? – caso não siga, siga, siga... à frente é terra batida né?! E atrás? Vem tornado em forma de gente né?!

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