Jornal de Angola

Um dos artífices da relação Angola-moçambique

- Isaquiel Cori

Foi dada a conhecer esta quinta-feira a notícia da morte de Sérgio Vieira, um político moçambican­o da geração da luta pela independên­cia e que desempenho­u importante­s cargos, incluindo o de governador do Banco de Moçambique e ministro da Segurança. Sérgio Vieira foi igualmente director do Gabinete do Presidente Samora Machel.

Esta morte está carregada de simbolismo no que concerne às relações entre Angola e Moçambique, pois Sérgio Vieira era um dos sobreviven­tes da geração de angolanos e moçambican­os que estabelece­ram relações estreitas de camaradage­m no calor da luta anti-colonial e fundaram o mito, que já foi realidade, de que os angolanos e os moçambican­os são irmãos. Enquanto esteve em Argel em representa­ção da Frelimo, entre 1964 e 1967, conviveu intensamen­te com os intelectua­is angolanos, militantes do MPLA, que lá estavam. E logo depois da independên­cia de Angola teve um papel activo no estabeleci­mento das relações entre os dois Estados.

Num depoimento constante de um DVD da Fundação Agostinho Neto publicado em 2012 -“Moçambican­os falam de Agostinho Neto”, Sérgio Vieira fez revelações que deveriam constar da história de Angola. Por exemplo, o facto de a Frelimo ter fornecido armas, incluindo morteiros BM-21, ao MPLA, usadas na crucial batalha de Kifangondo, em 1975; a criação, no dia 12 de Novembro de 1975, de um “banco de solidaried­ade” com as contribuiç­ões de um dia de salário dos funcionári­os públicos moçambican­os, que arrecadou mais de um milhão de dólares que foram entregues ao jovem governo angolano.

Sérgio Vieira dá igualmente a conhecer no seu depoimento que pouco antes da independên­cia de Angola, diante da situação de incerteza que se vivia, o MPLA transferiu “todos os haveres” do Banco de Angola para o Banco de Moçambique. Tais “haveres”, segundo disse, foram devolvidos ao Banco Nacional de Angola logo depois de proclamada a independên­cia.

Sérgio Vieira, membro fundador da Frelimo, nasceu em 1941 na província moçambican­a de Tete. Estudou Direito em Portugal até ao 2º ano, em 1961. Em 1962 frequentou o Collége d' Europe em Bruges. Entre 1962 e 1963 frequentou o Instituto de Estudos Políticos em Paris, onde interrompe­u os estudos no ano seguinte. Licenciou-se com distinção no Instituto de Estudos Políticos de Argel em 1967.

Foi Professor Auxiliar da Universida­de Eduardo Mondlane e investigad­or do Centro de Estudos Africanos da mesma instituiçã­o, a qual dirigiu entre 1987 e 1992.

Entre 1964 e 1967, fez parte da representa­ção da Frelimo em Argel e esteve também no Cairo em 1969 e 1970. Ainda antes da Independên­cia de Moçambique foi secretário da Presidênci­a nas direcções de Eduardo Mondlane, entre 1967 e 1969 e de Samora Machel entre 1970 até 1975. Após a Independên­cia foi director do Gabinete do Presidente da República, 1975-1977; governador do Banco de Moçambique, 1978-1981; ministro da Agricultur­a, 1981-1983; governador da Provínvia de Niassa e vice ministro da Defesa, 19831984; ministro da Segurança, 1984-1987 e deputado. Foi membro fundador da AEM -Associação dos Escritores Moçambican­os.

Enquanto escritor, colaborou em vários jornais e revistas, incluindo este Jornal de Angola. Publicou o livro “Memória do Povo” (1983) e está incluído nas antologias “Poetas Moçambican­os” (1962), “Breve Antologia da Poesia de Moçambique” (1967), “Poesia de Combate” (1977) e “No Ritmo dos Tantãs” (1991).

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