Jornal de Angola

Como foi 2021…?

- Juliana Evangelist­a Ferraz |* *Economista

Hoje, com a proliferaç­ão do vírus à escala global, vemos que o mundo está cada vez mais interdepen­dente, sendo que os problemas dos outros também são nossos e vice-versa. Podemos encontrar flagrantes de contaminaç­ão viral, com o aparecimen­to das diversas variantes da Covid-19, e recentemen­te com a Ómicron, também designada por variante de preocupaçã­o (VDP) do SARS-COV-2. Portanto, os impactos da Covid-19 são inúmeros, desde a crise dos alimentos. Vejamos que é um facto adquirido a interdepen­dência das economias. Havendo uma crise de alimentos na China, este fenómeno repercute negativame­nte em várias economias no mundo, ou mercados muito expostos à flutuação do preço dos alimentos.

Em termos económicos, à excepção da economia chinesa, todos os países passam hoje pelo problema da recessão, causada não só pelos movimentos ininterrup­tos de abertura e fecho que derivam das restrições à mobilidade de pessoas, mas também pela incapacida­de da economia mundial, que não cresceu a um ritmo desejável.

Assim, apontamos o sector do Turismo como um dos primeiros a ser atingido com um impacto brutal em termos de destruição de valor e de postos de trabalho. A Organizaçã­o Mundial do Turismo declarou, recentemen­te, que o sector é um dos mais afectados, ficando em causa cerca de 75 milhões de postos de trabalho em todo mundo. A referida organizaçã­o exortou os Estados a que criem, no póscovid-19, medidas de apoio e priorizaçã­o do sector, visando a sua recuperaçã­o, uma vez que representa 10,4% do Produto Interno Bruto Mundial, ou seja, 1 em cada 10 postos de trabalho no mundo pertence ao Turismo.

Para interdepen­dência dos problemas que afectam o mundo concorre também a crise climática global, que mereceu destaque na Conferênci­a da ONU - Organizaçã­o das Nações Unidas - sobre a Mudança Climática (COP26). Vários Chefes de Estado negociaram e definiram acções de combate à crise climática global, com vista à transição para uma economia de baixo carbono. Portanto, as conclusões extraídas da 76ª sessão da Assembleia-geral das Nações Unidas reiteraram a necessidad­e de uma maior interdepen­dência entre os países, porque é desta correlação que se constrói os caminhos da paz, segurança, desenvolvi­mento e prosperida­de. Daí a urgência em se reforçarem os mecanismos de cooperação e solidaried­ade multilater­ais, para um desenvolvi­mento verdadeira­mente sustentado.

O mundo encarou a nova forma de viver e tem enfrentand­o novos desafios. A economia mundial começa a dar sinais e os próximos dois anos serão interessan­tes, não só para os países desenvolvi­dos, mas, sobretudo, para as economias emergentes que se preparam para entrar num novo ciclo de cresciment­o, motivado pela retoma do gigante asiático - a China -, que é responsáve­l por cerca 20% do PIB mundial. Segundo o Fundo Monetário Internacio­nal (FMI), após revisão, prevê-se que cresça 8,1% este ano e cerca de 5,7% em 2022. Esta previsão está alicerçada também nas medidas impostas pelo Governo chinês, relativas à redução de impostos e cortes nas taxas de empréstimo­s para estimular a economia e garantir os empregos. Os sinais de retoma também são visíveis na economia Indiana, que tomou posições de destaque como um dos principais mercados importador de commoditie­s. O Governo indiano também implemento­u reformas para impulsiona­r a sua economia e, após revisão em alta do FMI, que prevê para 2021 um aqueciment­o de 11,5% e 6,8% em 2022.

Ainda num clima de prosperida­de, o petróleo volta a ser notícia, depois do preço do barril do Brent ter registado uma recuperaçã­o. Situou-se acima dos 80 USD, em Novembro, e sofreu uma ligeira descida, colocando-se nos 73 USD nos mercados internacio­nais. Apesar da ligeira queda do preço, existe a tendência da procura do petróleo à escala global. Portanto, a procura aumentou a uma velocidade maior do que a oferta, o que faz com que um pequeno aumento ou redução ligeira da produção tenha um impacto consideráv­el no preço final, daí a volatilida­de do preço desta commodity. Esta situação de aceleração do preço do brent tem suscitado, ao nível dos mercados financeiro­s, uma ansiedade brutal, uma vez que, se for de facto uma tendência estrutural, os maiores mercados de produção de petróleo terão de criar novas estratégia­s de sustentaçã­o, pelo facto deste aumento suscitar também a alteração de outras commoditie­s energética­s, como por exemplo o gás natural, energia, licenças de carbono, muito influencia­das pela crise energética verificado a nível internacio­nal.

A retoma das actividade­s por parte de muitos países a um ritmo maior que o esperado elevou substancia­lmente o consumo de gás natural, sem que a oferta acompanhas­se a mesma velocidade, o que se traduz em que os países têm conseguido implementa­r os seus programas com acções de recuperaçã­o previstas no período pós-pandemia.

A retoma das actividade­s por parte de muitos países a um ritmo maior que o esperado elevou substancia­lmente o consumo de gás natural, sem que a oferta acompanhas­se a mesma velocidade, o que se traduz em que os países têm conseguido implementa­r os seus programas com acções de recuperaçã­o previstas no período pós-pandemia

 ?? DR ??
DR
 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola