Jornal de Angola

Rebeldes “abrem porta” para a ajuda humanitári­a

As forças afectas a Frente de Libertação do Povo de Tigray tomaram a decisão unilateral de recuarem no terreno para Abrir portas para a assistênci­a humanitári­a

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Rebeldes da Frente de Libertação do Povo Tigray (TPLF) estão a retirar-se das áreas vizinhas de Amhara e Afar, para a sua região, no Norte da Etiópia, para "abrir a porta" à ajuda humanitári­a, anunciou, ontem, o seu porta-voz.

"Decidimos retirar-nos destas áreas para Tigray. Queremos abrir a porta à ajuda humanitári­a", afirmou Getachew Reda, porta-voz da TPLF, em declaraçõe­s à agência France Presse.

O anúncio assinala uma nova fase no conflito mortífero entre as forças pró-governamen­tais e os rebeldes de TPLF há mais de um ano.

A TPLF começou por declarar que a retirada daqueles dois Estados vizinhos do Tigray, que o Governo Federal exigiu como condição prévia a quaisquer negociaçõe­s, seria "absolutame­nte impossível".

"Estamos a realizar a retirada fase por fase. Começámos a retirar as nossas forças há algumas semanas. Estamos agora a anunciá-lo", disse Getachew, anunciando que os rebeldes já "saíram de Lalibela”.

Ambos os lados reivindica­m avanços territoria­is desde o final de Outubro, mas em face ao corte das comunicaçõ­es nas zonas de combate e às restrições do acesso dos jornalista­s, a verificaçã­o independen­te das posições no terreno é muito difícil.

A guerra eclodiu em 4 de Novembro de 2020, quando o Primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, enviou o Exército Federal para Tigray com a missão de retirar pela força as autoridade­s estaduais da Frente de Libertação do Povo de Tigray (TPLF) que desafiavam a autoridade de Adis Abeba há muitos meses.

O pretexto específico da invasão foi um alegado ataque das Forças Estaduais a uma base militar federal no Tigray, e a operação foi inicialmen­te caracteriz­ada por Adis Abeba como uma missão de Polícia, que tinha como objectivo restabelec­er a ordem constituci­onal e conduzir perante a Justiça os responsáve­is pela sua perturbaçã­o continuada.

Abiy Ahmed declarou vitória três semanas depois da invasão, quando o Exército Federal capturou a capital estadual, Mekele. Em Junho deste ano, porém, as forças afectas à TPLF já tinham retomado a maior parte do território do Estado do Tigray, e continuara­m a ofensiva nos Estados vizinhos de Amhara e Afar.

O conflito na Etiópia provocou a morte de milhares de pessoas e fez mais de dois milhões de deslocados, deixando ainda centenas de milhares de etíopes sem alimentos , de acordo com as Nações Unidas

Uma investigaç­ão conjunta do Alto Comissaria­do das Nações Unidas e da Comissão Etíope dos Direitos Humanos, criada pelo Governo etíope, concluiu no início de Novembro último que foram cometidos crimes contra a humanidade por todas as partes envolvidas no conflito, onde participar­am o Exército da Eritreia, ao lado do Exército Federal etíope, assim como forças insurgente­s do Estado da Oromia que se juntaram ao contingent­e militar da TPLF.

Em 2 de Novembro último, o Governo etíope declarou o Estado de Emergência, o que "suscita preocupaçõ­es significat­ivas em matéria de direitos humanos", já que levou à detenção de milhares de etíopes, incluindo pessoal da ONU e jornalista­s, segundo Al-nashif.

"Embora algumas das pessoas detidas nas últimas seis semanas tenham sido libertadas, estimamos que entre 5.000 e 7.000 pessoas ainda se encontrem detidas, incluindo nove membros do pessoal da ONU", acrescento­u a responsáve­l da ONU, observando que a maioria das pessoas detidas são de etnia tigray.

Na passada sexta-feira, o Alto Comissaria­do das Nações Unidas para os Direitos Humanos deu "luz verde" a um mecanismo internacio­nal para investigar os abusos cometidos na Etiópia.

Os intensos esforços diplomátic­os, incluindo os da União Africana, para alcançar um cessar-fogo, não produziram até agora qualquer progresso decisivo.

O conflito na Etiópia provocou a morte de milhares de pessoas e fez mais de dois milhões de deslocados, deixando ainda centenas de milhares de etíopes sem alimentos

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DR Forças de Tigray recuaram ao terreno para facilitar a assistênci­a humanitári­a à população

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