Línguas maltratadas
As línguas são todas maltratadas, tanto a nível oral, como escrito, por ignorância ou descuido. Não há, mesmo entre os mais letrados, quem não tenha errado ao falar e escrever, pelo que é falso afirmar que são traiçoeiras.
As línguas, cada uma delas, bem vistas as coisas, não são nada traiçoeiras, pelo contrário são atraiçoadas nas formas na qual são expressas, dando, bem vistas as coisas, razão ao adágio “errar é humano”, algo frequentemente recusado exactamente por alguns dos que se arvoram em infalíveis, bem piores, sublinhe-se, dos que são verdadeiramente desconhecedores das regras que as regem.
O desconhecimento combate-se, apreendendo, adquirindose saberes. Em lutas feitas de dúvidas, em estabelecimentos de ensino, infelizmente, nem sempre com professores dignos desse nome. Ao contrário de décadas não muito distantes. Por alguma razão chamavam-lhes “mestres-escola”. E eram, apesar de se servirem de métodos pouco pedagógicos, principalmente aos olhos dos tempos de hoje.
A verdade é que quem lhes “passasse pela mão” não os envergonhava, nem a família. Mesmo que ficassem pela terceira classe, posteriormente a quarta - as últimas do ensino primário - estavam minimamente preparados para começarem a aprender a trabalhar, principalmente em ofícios pesados para corpos imberbes: mecânicos, carpinteiros, electricistas, serralheiros. A favor deles tinham de saber fazer as quatro operações aritméticas e confirmar os resultados com a “prova real” e “dos nove”. Aparentemente mais leves, os empregos nas lojas de vender tudo. Neste caso, tinham a favor deles em relação a iletrados, a capacidade de manejar balanças e fitas métricas.
Todo aquele aprendizado era, contudo, privilégio de minorias, pois os restantes não se podiam dar a tal “luxo”. Mal começavam a dar os primeiros passos, tinham de ajudar a família a ganhar “o pão que o diabo amassa”.
As meninas ainda tinham pior destino. Na maioria dos casos, nem à escola iam. Para quê se tinham nascido para casar, procriar, cozinhar, lavar roupa, passar a ferro, passajar, acarretar água, tratar dos filhos. Quando muito, aprender a bordar, tricotar. O panorama era semelhante em quase todos os países, inclusive nos considerados actualmente os mais desenvolvidos. Entre nós, por maioria de razão, o panorama era acentuadamente mais sombrio, com reflexos que chegam aos nossos dias.
Em Angola, como em variadíssimos países de todos os continentes, não foram as barreiras ao conhecimento, que conseguiram impedir a sede de aprender, conhecer, saber. No nosso país, por exemplo, atente-se na verdade de a maioria dos poetas e prosadores serem autodidactas, sem passagens por universidades. Uns, felizmente, ainda vivos, outros já não, mas todos com os nomes e obras debruadas a ouro na nossa História. Mesmo que a ignorância petulante os desconheça e vote ao ostracismo.
Elas, as nossas figuras grandes da literatura, que antes de poetas e prosadores de monta, são Mulheres e Homens - assim, mesmo, com maiúsculas - , que, pelos exemplos que deram e dão, tal como da sede de saber que evidenciam, têm sobre cada um deles os olhos de todos os que, a cada dia, também procuram aprender.
Eles, os nossos maiores vultos da literatura, parte significativa, saliente-se, autodidacta, com quem todos podemos aprender a falar e a escrever melhor a língua com a qual a maioria de nós comunica, são exemplos de que, apesar das dificuldades de toda a ordem com que nos debatemos, podemos interagir melhor. Verbal e por escrito. Ai dos que teimosamente insistem na ignorância bacoca. Principalmente dos que a tentam esconder, como se os outros não percebessem.
Em Angola, como em variadíssimos países de todos os continentes, não foram as barreiras ao conhecimento, que conseguiram impedir a sede de aprender, conhecer, saber. No nosso país, por exemplo, atente-se na verdade de a maioria dos poetas e prosadores serem autodidactas, sem passagens por universidades. Uns, felizmente, ainda vivos, outros já não, mas todos com os nomes e obras debruadas a ouro na nossa História. Mesmo que a ignorância petulante os desconheça e vote ao ostracismo