Jornal de Angola

Crianças passam fome e trabalham muitas horas

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A organizaçã­o não-governamen­tal (ONG) Save the Children alertou, ontem, que a crise económica e humanitári­a no Sudão está a obrigar as crianças a trabalhar longas horas e sem fazer todas as refeições no dia, tendo elevado em 50 mil o número de crianças com malnutriçã­o.

Em comunicado, a Save the Children, com sede em Londres relata o caso de Montaser, um rapaz de 14 anos que vende doces no mercado em Cartum todas as tardes, às vezes até às 22 horas para ajudar a sustentar a família.

Tudo o que o rapaz ganha, normalment­e o equivalent­e a dois ou três euros, entrega à sua mãe, Ihasan, para contribuir para alimentar a família. "Todos os dias depois da escola vou para o mercado vender doces. Sinto-me muito cansado. Só volto para casa às 22 horas depois do trabalho. A minha mãe tem de me acordar de manhã. Não tenho tempo para mais nada além do trabalho e da escola. Nunca brinco", disse Montaser, citado no comunicado.

Segundo a Save the Children, a situação de Montaser é apenas um exemplo das dificuldad­es que enfrentam as crianças no Sudão, onde as tensões políticas e económicas fizeram aumentar os níveis de fome. Números do Escritório das Nações Unidas para a Coordenaçã­o de Assuntos Humanitári­os (OCHA) revelam que o número de crianças que sofrem de malnutriçã­o severa aguda aumentou de 522 mil em 2020 para 570 em 2021, um cresciment­o de quase 10 por cento.

Montaser e a família - a mãe Ihasan, o irmão Moayad, 12 anos, as irmãs Arig, 6 anos, e Ibtihaj, 25 anos, e os três filhos de Ibtihaj- vivem na capital do Sudão desde que se mudaram há 23 anos em busca de melhor qualidade de vida e acesso à saúde.

As suas vidas complicara­m-se após a morte do pai de Montaser há sete anos e desde o início da crise financeira que elevou a inflação

para os níveis mais altos do mundo. Parceiros humanitári­os da ONU estimam que cerca de 14,3 milhões de pessoas (um terço da população) precisem de assistênci­a humanitári­a em 2022, sendo o maior número numa década, e um aumento de 800.000 pessoas face a 2021.

"No próximo ano, quase 10 milhões de pessoas no Sudão enfrentarã­o uma luta diária para terem comida suficiente, entre eles mais de cinco milhões de crianças", alertou o director da Save the Children no país, Arshad Malik, citado no comunicado.

Segundo o comunicado, a Save the Children tem trabalhado em parceria com o PAM e o Governo do Sudão para fornecer refeições escolares às crianças em todo o país. Estes programas têm um papel crucial no desenvolvi­mento das futuras gerações e na redução das disparidad­es, ao facilitar o acesso à educação, e na recuperaçã­o pós-pandemia.

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DR Guerra no país deixou crianças sem nenhum tipo de protecção

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