China acusa EUA de encorajar a independência de Taiwan
As autoridades chinesas advertem que os Estados Unidos ao prestarem apoio de todo o tipo a Taiwan arriscam-se ao pagamento de um “preço insuportável”
O ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, acusou, ontem, os Estados Unidos de encorajar a independência de Taiwan, ilha que Pequim considera uma das suas províncias, embora seja governada separadamente desde 1949.
Numa entrevista à televisão estatal e à agência de notícias oficial Xinhua, Wang Yi avisou os EUA de estarem a arriscar virem a pagar um “preço insuportável” pelo apoio a Taiwan, que disse colocar a ilha numa “situação extremamente perigosa”.
“Isto não só colocará Taiwan numa situação extremamente perigosa, mas também colocará os EUA perante um preço insuportável”, advertiu Wang, citado pela agência de notícias France-press.
Taiwan foi o refúgio das forças do Partido Nacionalista Chinês (Kuomintang) depois de perder a guerra civil com os comunistas em 1949, que, desde então, reivindicam a soberania daquele território.
A China nunca excluiu a possibilidade de utilizar a força para estabelecer a sua soberania sobre Taiwan e, nos últimos meses, intensificou as incursões aéreas na zona de identificação de defesa da ilha.
Os EUA continuaram a apoiar o armamento de Taiwan e a enviar altos funcionários a Taipé, suscitando críticas de Pequim, que pretende impedir qualquer contacto oficial entre a ilha e os governos com os quais mantém relações diplomáticas.
Wang Yi acusou os EUA de utilizarem “direitos humanos e democracia para caluniar e cercar a China e muitos países em desenvolvimento”.
“Os EUA estão constantemente a provocar novos incidentes para prejudicar as relações entre os dois países”, disse.
Na entrevista, segundo o serviço em inglês da Xinhua, Wang Yi também avisou que a acção de “alguns políticos ocidentais” não impedirá o êxito dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, que decorrem entre 4 e 20 de Fevereiro.
“Atletas de todas as nacionalidades são as verdadeiras estrelas no palco olímpico, aplaudidos por centenas de milhões de fãs do desporto em todo o mundo. As manobras políticas de alguns políticos ocidentais não prejudicarão uns esplêndidos Jogos Olímpicos, mas apenas exporão a sua má intenção”, disse.
O chefe da diplomacia chinesa defendeu que a politização dos Jogos Olímpicos por certos países viola e desacredita o espírito olímpico, que disse reger-se pelos valores da amizade, compreensão mútua, solidariedade e comportamento leal.
“Os Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim promoverão o espírito olímpico, ajudarão a aumentar a compreensão e a amizade entre pessoas de diferentes países, demonstrarão a força da solidariedade e cooperação internacionais, e trarão mais confiança e coragem a um mundo ainda sob a sombra de uma pandemia”, acrescentou.
Boicote dos Jogos Olímpico
O Presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou que não vai enviar uma delegação oficial aos jogos de Pequim, embora envie atletas, alegando que o Governo chinês está a cometer abusos dos direitos humanos na região de Xingjiang.
A este boicote diplomático juntaram-se países como a Austrália, a Bélgica, o Canadá, o Reino Unido e o Japão.
O boicote foi criticado pelo Comité Olímpico Internacional (COI), que se manifestou “firmemente contra qualquer politização dos Jogos Olímpicos e do desporto” numa declaração divulgada em 11 de Dezembro.
Enquanto isso, o Governo da Nicarágua confiscou a antiga Embaixada e “todos os bens” de Taiwan naquele país, na sequência do corte de relações diplomáticas, e defendeu que estes pertencem à China.
O Executivo liderado pelo
Presidente Daniel Ortega rompeu relações com Taiwan este mês, revelando que apenas reconheceria o Governo de Pequim e “uma única China”.
Antes de partirem, os diplomatas taiwaneses manifestaram a intenção de doar a propriedade à arquidiocese católica romana de Manágua, segundo agência de notícias AP.
No entanto, o Governo de Ortega referiu, no domingo passado, que qualquer doação seria inválida e que o prédio, num dos bairros nobres de Manágua, pertence à China.
A Procuradoria-geral da República daquele país da América Central salientou, em comunicado, que a tentativa de doação foi uma “manobra de subterfúgio para tirarem o que não lhes pertence”.
“O reconhecimento por parte de um Estado da realidade de apenas uma China implica o registo imediato de todos os bens imóveis, bens pessoais, equipamentos e meios a favor do Estado reconhecido, a República Popular da China, com titularidade absoluta e irrestrita do domínio”, pode ler-se.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros de Taiwan condenou “as graves acções ilegais do regime de Ortega", acusando o Governo de Nicarágua de violar os procedimentos padrão ao dar aos diplomatas taiwaneses apenas duas semanas para saírem do país.
A mesma fonte condenou a “obstrução arbitrária do Governo da Nicarágua à venda simbólica daquela propriedade para a Igreja Católica” daquele país.
Um dos responsáveis da arquidiocese de Manágua referiu, citado pelo jornal “La Prensa”, que um diplomata taiwanês doou a propriedade à Igreja e que esta se encontrava em fase de registo dos bens.
A Nicarágua anunciou em 9 de Dezembro a ruptura das suas relações diplomáticas com Taiwan e o reconhecimento de “uma única China” dirigida por Pequim.