Substituição de folhas
Hoje é noite
dos calendários deitarem fora, para o lixo, as folhas que já foram novas, arrancadas, pelo angolano comum, com raiva, indiferença, resignação ou receio, consoante o estado de espírito de cada um.
A mudança das folhas do calendário é, contudo, apenas isso, em nada vai mudar passados, presentes, futuros, qualquer deles feito pelos homens, estejam eles, onde estiverem. Avareza, desprendimentos, egoísmos, solidariedades, decência e decadência não escolhem berços, géneros, idades, como atestam exemplos de todos os tempos, em qualquer canto da Terra. Mesmo que haja, cada vez mais, os que insistam em querer viver “noutro planeta”, indiferentes a origens e à maioria que os rodeia.
Luanda, a capital do país e a restante província, com o mesmo nome, espaço de alcance deste “periscópio”, não foge à regra. Afectada pelo vírus que transformou radicalmente o mundo, vai fazer a passagem do ano, com menos alarido. Devido ao aumento do fosso entre os que cada vez têm menos e os outros. Os primeiros por não poderem, os restantes, com receio - quem diria há tão pouco tempo! de darem demasiado nas vistas e serem alvo de falatórios nas redes sociais.
O ano de 2022, a avaliar pelo que o antecedeu, não augura nada de bom. Antevêse, a nível mundial, carregado de dificuldades múltiplas nos principais sectores , com reflexos imprevisíveis, em todos os países, principalmente nos menos desenvolvidos. Como sempre, hão-de ser as populações mais carenciadas de qualquer um deles, a viverem as maiores agruras.
Os calendários substituem as folhas, mas não são elas que determinam presentes e futuros, tal como não fez passados, remotos ou recentes.