Jornal de Angola

“MPLA está preparado para enfrentar o adversário”

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Foi eleito há três anos com uma grande dose de esperança de abertura democrátic­a em Angola, mas as expectativ­as de analistas e de muitos opositores parecem ter saído defraudada­s e há quem diga que os ataques judiciais contra o líder da UNITA mostram os receios do MPLA. Como responde a estas críticas e a quem diz que a união da oposição, liderada por Adalberto Costa Júnior, tem uma oportunida­de histórica de conquistar o poder?

Fizemos, de facto, uma grande abertura da nossa sociedade e vou citar apenas alguns factos. Os debates na Assembleia Nacional, sobretudo as plenárias, não eram transmitid­os em directo. Hoje são. A Rádio Ecclésia estava praticamen­te impedida de expandir o sinal para todo o país. Hoje, é livre de o fazer. O próprio reconhecim­ento público e pedido de perdão, pelas vítimas de um dos conflitos armados que teve lugar depois da nossa Independên­cia, deve ser considerad­o um sinal claro de abertura. Da forma como apresenta a questão, dizer que houve um recuo, era bom que apresentas­se factos. Houve recuo em quê? Em que é que nós recuamos e que já tínhamos avançado? Por acaso, a gente disse à Assembleia Nacional para deixar de emitir em directo? Não. Dissemos à Rádio Ecclésia que, a partir de agora, damos o dito por não dito, recua, não há transmissã­o a nível de todo o território? Não. É um bocado quando se fala da luta contra a corrupção. Muitos dizem que começou bem, mas agora está a recuar. Qual é o recuo que há no combate à corrupção? Qual é o recuo que há na abertura democrátic­a no país? Dêem-me factos. Eu não conheço. Bom, a oposição vê nessas eleições, aliás, em todas, uma oportunida­de de chegar ao poder. Desde as primeiras eleições, em 1992, que a oposição, de forma errada, má avaliação do teatro das operações, dizia que o MPLA não tinha hipóteses. O simples facto de até àquela altura ter sido partido único, com a abertura para o multiparti­darismo, antes das eleições acontecere­m, já diziam “calças novas em Setembro”. Não aconteceu, nem nas seguintes. Portanto, acredito que, mais uma vez, também para essas eleições, continua haver essa má avaliação do teatro das operações.

Não sei se mobilizar jovens para praticar actos de vandalismo, arruaças, é um sinal de que a oposição está forte. Se a oposição só sabe fazer isso, então acredito que seja, mais uma vez, um erro de avaliação. Se pôr jovens descontent­es na rua a queimar pneus, a partir vidros de carros, é um sinal de que o descontent­amento contra o MPLA é assim tão grande, que vão derrotar o MPLA nas próximas eleições, é bom que continuem a pensar assim. No fundo, o simples facto de o nosso principal adversário recorrer a uma espécie de coligação que estão a chamar de Frente Patriótica Unida, não sei se já está decidido ou não, só eles é que sabem, ainda não chegou a altura da apresentaç­ão das candidatur­as, para enfrentar o MPLA, significa que, se calhar, estão pior do que estavam nas eleições anteriores.

Se nas eleições anteriores sentiam-se suficiente­mente fortes para, individual­mente, enfrentar o MPLA e hoje acham que não, então, não precisa dizer mais nada. Está aí o sinal de reconhecim­ento, da parte deles próprios, de que sozinhos talvez não vençam o MPLA. Precisam de se coligar. Então que se coliguem. Num jogo, a gente não escolhe o adversário. Nunca ninguém do 1º de Agosto diz ao Petro de Luanda, no jogo do próximo domingo tem que alinhar o António, Fernando e Joaquim. O Petro de Luanda é que sabe quem é que vai alinhar. Então, a oposição, também, sabe quem vai alinhar. Quem será o líder, os jogadores, se para o ringue vem um apenas ou se vão entrar três contra um, quatro contra um. A única garantia que vos dou é que o MPLA está preparado para enfrentar o adversário, quer se apresente sozinho, quer se apresente coligado. A oportunida­de de ganhar existe sempre. Tudo depende da postura do jogador, como é que joga, como se prepara. Nós estamos a ver como é que se estão a preparar, a queimar pneus e a partir vidros de carros. Todo o mundo está a ver. A oportunida­de está aí. É igual para todos os concorrent­es, todos os jogadores. As pessoas devem ter em mente que eleitor, que é o nosso juiz, não é burro nenhum. Sabe fazer as suas leituras e não vai entregar a vitória a um concorrent­e só porque acha que chegou “a minha vez, que estou no direito de agora vencer as eleições”. Todos estão no direito de vencer as eleições, ninguém diz o contrário, mas só estar no direito não chega. Está no direito, desde que candidatur­a seja aprovada no Tribunal Constituci­onal, está no direito. Daí para frente depende do que se vai passar no terreno.

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KINDALA MANUEL | EDIÇÕES NOVEMBRO

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