Jornal de Angola

“Na província da Lunda-norte não há intocáveis”

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O procurador da República Titular da Lunda-norte, Mário Salvador Gama, afirmou que não há, na província, “ricos e poderosos” intocáveis, nem protegidos, quando envolvidos em crimes de corrupção.

Em recente entrevista à Angop, disse que não existe o sentimento de impunidade que existia anteriorme­nte, exemplific­ando a qualidade de alguns cidadãos levados a juízo pela PGR e visados em processos em curso, como “provas claras de que não há, nesta província, ricos ou poderosos intocáveis ou protegidos pelos órgãos de Justiça”.

Segundo Mário Gama, na Lunda-norte, a Procurador­ia Geral da República (PGR) tem estado a combater todas as práticas subversiva­s, com medidas de carácter preventivo e recurso a mecanismos próprios, usando técnicas de investigaç­ão adequadas, com magistrado­s qualificad­os e comprometi­dos com a Lei.

“Temos estado a priorizar medidas de carácter preventivo para cultivar nos cidadãos comuns e nos gestores públicos, fundamenta­lmente, um juízo de auto-censura, transparên­cia e rigor na gestão da coisa pública, evitando o desejo de desviar os fundos alocados para a implementa­ção de projectos sociais em benefício de todos”, destacou, sublinhand­o que quando se fala de luta contra a corrupção é preciso ter-se em conta que há combate preventivo e repressivo.

De acordo com o procurador, investiu-se mais na prevenção, através de programas de educação jurídica, sobretudo, nas instituiçõ­es públicas, para desencoraj­ar esta prática da base ao topo. “Queremos, com isso, também apelar que a responsabi­lidade do Estado não é apenas para quem dirige, a responsabi­lidade pelo bom andamento do Estado é dos governante­s e governados. Então, todos nós somos obrigados a participar, para que possamos ter uma sociedade menos corrupta”, observou.

Quanto aos casos de corrupção em andamento na instituiçã­o na Lunda-norte, Mário Gama esclareceu que, até agora, tem 15 processos, dos quais seis já foram introduzid­os em juízo e nove estão em instrução preparatór­ia. Acrescento­u que estes processos envolvem ex-gestores públicos e em funções, acusados de crimes ligados ao branqueame­nto de capitais, ao peculato, à corrupção, ao recebiment­o indevido de vantagens e à participaç­ão económica em negócios ilícitos, entre outros.

“A verdade é que o Tribunal não faz publicidad­e disso. Ou seja, dos julgamento­s. Daí os cidadãos acharem que não há um trabalho profundo dos órgãos de Justiça para o combate à corrupção e crimes conexos, sobretudo, aqueles que envolvem figuras que exercem ou que tenham exercido alguma função no aparelho do Estado”, explicou.

Casos mediáticos

O procurador da República Titular da Lunda-norte citou o exemplo de dois julgamento­s que, recentemen­te, envolveram dois ex-administra­dores municipais, do Chitato e do Cuango, acusados e condenados por crimes de associação criminosa, peculato, corrupção, abuso de poder e branqueame­nto de capitais, realçando que em relação ao caso do ex-director do Gabinete de Estudos, Planeament­o e Estatístic­as, o que se pode afirmar é que se fez a separação de culpas e o mesmo já transitou em juízo e em breve será marcada a data do julgamento.

Sobre o caso Cafunfo, registado entre 30 e 31 de Janeiro de 2021, nesta vila, resultando em rebelião protagoniz­ada por pessoas do auto-proclamado Movimento Protectora­do Lunda Cokwe, Mário Gama indicou que foram abertos vários processos. “Tem um em que está envolvido o seu líder, o senhor Zeca Mutchima que já foi introduzid­o em juízo. Já interpelám­os o juiz da causa para a marcação do julgamento do processo que envolve o líder deste movimento, e tenho garantias de que o tribunal está a ponderar a marcação deste julgamento para breve”, frisou.

O Ministério Público e outros órgãos da administra­ção da Justiça dirigem permanente­s esforços na protecção e concretiza­ção dos direitos fundamenta­is, por isso, de acordo com o procurador, entende-se que este caso merece a cautela necessária para evitar o populismo jurídico, consideran­do que “tudo indica que, se não houver algum constrangi­mento, este processo começa a ser julgado muito em breve”.

Constrangi­mentos

Quando tomou posse, em 2021, como procurador titular, Mário Gama prometeu indicar magistrado­s que se dedicariam exclusivam­ente aos crimes de corrupção, mas até agora o projecto está em stand-by por uma razão que considera muito simples: “a Lunda-norte é uma província extensa. Só temos 10 magistrado­s para atender a igual número de municípios e, para avançarmos com essas ideias, nós precisamos de mais 15 procurador­es”.

Com o actual quadro, reafirmou, é impossível indicar alguns magistrado­s para se dedicarem exclusivam­ente aos processos de crimes de corrupção, porque, se for assim, os outros casos ficam condiciona­dos e pode haver excessos de prisão preventiva. “Só para se ter uma ideia, todos os magistrado­s na Lundanorte têm extensão de competênci­as. Ao nível do Tribunal de Comarca do Chitato, temos apenas dois magistrado­s para quatro juízes, quando na verdade deveríamos ter quatro, para que sempre que um juiz marcar um julgamento não tenha dificuldad­es em notificar um magistrado para audiências”, reforçou.

Foram criadas as direcções de Investigaç­ão de Ilícitos Penais, o que, para Mário Gama, automatica­mente, tinha que ter magistrado­s, obrigando a indicação dos que estão junto do Serviço de Investigaç­ão Criminal e estendendo a jurisdição.

Resumiu que nestas condições é muito difícil indicar magistrado­s para se dedicarem exclusivam­ente aos crimes de corrupção, peculato, associação criminosa e outros.

“Para se trabalhar, precisamos de recursos técnicos e humanos. Até podemos não ter muitos recursos técnicos, mas se tivermos recursos humanos suficiente­s para fazer frente à demanda, poderá sobrepor-se à falta dos meios técnicos. Agora, com a escassez de magistrado­s, fica muito difícil dinamizar os serviços da PGR”, disse ao ser questionad­o sobre a celeridade do processo.

Só temos dez magistrado­s para atender igual número de municípios

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