Jornal de Angola

Populações receiam o regresso à guerra

Em menos de uma semana os grupos “terrorista­s” atacaram, saquearam e queimaram várias aldeias no distrito de Meluco, província de Cabo Delgado, Norte de Moçambique

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A intensific­ação dos ataques armados na aldeia Nova Vida, distrito de Macomia, província de Cabo Delgado, Norte de Moçambique, fazem as populações temer pelo regresso da guerra naquela região.

Os ataques, que acontecera­m dias antes da cimeira dos Chefes de Estado da Comunidade para o Desenvolvi­mento da África Austral (SADC), prevista, inicialmen­te para ontem, mas adiada para o dia 12, e que vai decidir sobre a permanênci­a ou não da missão militar regional reacendera­m o clima tenso e de inseguranç­a, numa região que experiment­ou uma estabilida­de, com a presença das tropas estrangeir­as, que combatem o terrorismo.

O ataque ocorreu na noite de quarta-feira, quando o grupo entrou a disparar numa aldeia quase deserta, porque a população passou a pernoitar nas matas, apesar da frequente patrulha militar, contou uma fonte local.

“Um homem apareceu com metralhado­ra e depois de obstruir a estrada começou a disparar, deu umas rajadas de tiros, e com aquele barulho todo de arma, pensávamos que fosse uma guerra completa que entrou na vila”, disse por telefone, Zulficar Abibo, morador da aldeia Nova Vida, sublinhand­o que os disparos não foram fatais porque a população já estava nas matas, onde pernoita.

Abibo, que ainda não tinha regressado ao seu esconderij­o quando ocorreu o ataque, contou que viu várias casas saqueadas e queimadas quando regressou à aldeia ao amanhecer do dia seguinte.

Com uma curta diferença horária, o grupo atacou, na terça-feira, as aldeias Mariria, Muaguide e Imbada, no distrito de Meluco, onde foi capturada a principal base dos terrorista­s em finais de Dezembro pela tropa conjunta de Moçambique e África do Sul.

No domingo, o grupo já tinha destruído com fogo e saqueado uma barraca na aldeia Nangororo, em Meluco, depois de ter matado três pessoas, no sábado, 1, na aldeia Nova Zambézia, no distrito de Meluco.

“Deus existe, eu estive em Meluco sede, eram 16h45 horas, passei Mariria, quando cheguei a Muaguide eram 17h15 horas os terrorista­s estavam a queimar, então fugi, estou aqui em Lindi”, contou outro morador de Meluco.

O morador fez um percurso de 30 quilómetro­s de Muaguide a Lindi de carro, salvando outras várias pessoas que escaparam do ataque que ele descreveu de mais “brutal”, pela forma como “destruíram as habitações em plena época chuvosa”.

O homem, de 43 anos já havia escapado do ataque à vila de Mocímboa da Praia em 2020, quando se encontrava a trabalhar naquele distrito costeiro, tido como o berço dos ataques jihadistas em Cabo Delgado.

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