Um arranque de pré-campanha eclipsado por novos factos
Apostados num arranque em grande da pré-campanha eleitoral, Adalberto Costa Júnior e a UNITA escolheram o município do Cazenga para o comício de abertura, realizado sábado, 21.05. Mas viram logo o impacto mediático da iniciativa ser ofuscado pelos resultados produzidos pela reunião do Comité Central do MPLA realizada na segunda-feira, 23.05, em que ressalta a desistência de Bornito de Sousa e a escolha de uma mulher como candidata a Vice-presidente da República e que deverá acompanhar o presidente do partido, João Lourenço, na disputa das eleições de Agosto próximo.
Actual secretária de Estado das Pescas, Esperança da Costa é o nome aprovado. Mais uma indicação de que o MPLA está a apostar forte na juventude, nas mulheres, e uma surpresa por ser uma figura encontrada fora do habitual núcleo de personalidades cogitadas como potenciais candidatas ao cargo. Por isso mesmo, os comentários à volta do assunto dominaram as abordagens na imprensa e nas redes sociais, relegando para segundo plano os arremessos políticos feitos por Adalberto Costa Júnior no comício de sábado.
Merecem, entretanto, algumas breves notas, a intervenção, no Cazenga, do líder da UNITA. Procurou transmitir a ideia de uma mudança de estratégia em relação à forma como vinha conduzindo as acções de campanha política, apelando os seus apoiantes a evitarem a confrontação física com os adversários políticos e com as autoridades. Mas já vai tarde esse apelo, porque a imagem de recurso à violência já está associada a Adalberto Costa Júnior e à UNITA.
Ela começou a ser construída quando, ao suceder a Isaías Smakuva no comando da formação política, em Novembro de 2019, o novo líder do partido fundado por Jonas Savimbi escolheu como pano de fundo para lançar a sua imagem de marca, os tumultos que tiveram lugar na vila diamantífera de Cafundo em 30 de Janeiro de 2021. Foi na sequência desses acontecimentos, sobre os quais fizeram pronunciamentos de plena simpatia, que Adalberto Costa Júnior, Abel Chivukuvuku e Justino Pinto de Andrade apareceram a falar, pela primeira vez, em conferência de imprensa dada a 18 de Fevereiro, em nome da chamada Frente Patriótica Unida (FPU).
Ao juntarem-se aos também chamados “jovens revolucionários”, o trio de políticos procurou dar outra projecção ao movimento contestatário no país. De lá para cá, outras tantas situações ocorreram que extravasaram os marcos de manifestações pacíficas, como foram os casos dos actos de vandalismo protagonizados a 10 de Janeiro, durante a greve dos taxistas, no Benfica, em Luanda, e, mais tarde, a 21 de Março, em Sanza Pombo, no Uíge.
Toda essa estratégia foi montada com o objectivo de Adalberto Costa Júnior e a UNITA aparecerem como uma força política combativa, sem se importarem com as suas consequências nefastas. Em democracia, para se ser uma força política combativa, não é necessário que se faça apologia da violência. A UNITA e o seu líder fazem agora, entretanto, um recuo, porque estão a colher os frutos amargos dessa opção.
É por isso que Adalberto Costa Júnior aludiu, sábado, a existência de presos políticos, referindo-se aos que, tendo estado envolvidos na destruição de bens públicos e privados, se encontram a responder na Justiça, ou a cumprir o que ela já determinou como sanção. Respondem por actos de vandalismo, por terem provocado danos. Não lhes foi negada a liberdade de expressão, que é basicamente isso que define um preso político.
É evidente o propósito de criar confusão, de criar equívocos, da parte de Adalberto Costa Júnior. Mas o exemplo mais próximo e expressivo que ajuda a esclarecer os factos é o tratamento que as autoridades norte-americanas estão a dar a todos quantos, em Janeiro de 2021, estiveram envolvidos no assalto ao Capitólio, a sede do poder legislativo, por apoiantes do ex-presidente Donald Trump, que, também, está a ser inquirido no âmbito desse processo, devido aos danos patrimoniais, políticos e morais causados. O activismo político não permite tudo.
Portanto, a UNITA só se pode queixar de si própria. Outra nota vai para a chamada Frente Patriótica Unida, que formalmente não existe. Não sendo nem coligação nem partido e, por enquanto, expressão apenas de vontade, não tem os seus contornos definidos. E, por assim ser, não está autorizada a realizar actividade política e não poderá constar como legenda no boletim de voto. Vai a reboque da UNITA e, em situações análogas, é comum resultar em projecto com efémera duração, com sérios riscos para o Bloco Democrático.
Por último, é de realçar que o Tribunal Constitucional não demorou a dar resposta à alegada “batata quente” que a UNITA lhe teria colocado em mãos, ao não reconhecer legitimidade aos requerentes para intentar a providência cautelar em relação à questão do registo eleitoral oficioso, além de considerar que as partes interessadas não esgotaram as vias administrativas para obter os esclarecimentos necessários.
De resto, vimos um Adalberto Costa Júnior a trazer a debate temas já exaustivamente tratados, como a alteração da Constituição, ou fazendo tábua rasa sobre recentes alterações legislativas mesmo em sede do registo eleitoral oficioso.
A UNITA só se pode queixar de si própria. Outra nota vai para a chamada Frente Patriótica Unida, que formalmente não existe. Não sendo nem coligação nem partido e, por enquanto, expressão apenas de vontade, não tem os seus contornos definidos. E, por assim ser, não está autorizada a realizar actividade política e não poderá constar como legenda no boletim de voto. Vai a reboque da UNITA e, em situações análogas, é comum resultar em projecto com efémera duração, com sérios riscos para o Bloco Democrático