Jornal de Angola

Referendo na Tunísia marcado para 25 de Julho

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A data de 25 de Julho de 2022, que Kais Saied tinha apontado unilateral­mente em Dezembro, foi formalizad­a num decreto presidenci­al que convoca “os eleitores para um referendo sobre o projecto de nova Constituiç­ão da República da Tunísia”, publicado quarta-feira, no jornal oficial, segundo o portal Notícias ao Minuto.

O referendo, o primeiro da história do país, terá, de acordo com o decreto, uma única pergunta: “Concorda com a nova Constituiç­ão?”, em substituiç­ão da actual, aprovada em 2014 e suspensa quase i nteirament­e em Setembro passado.

Na edição de quarta-feira do jornal oficial, Saied publicou um segundo decreto que estipula que o texto da nova Constituiç­ão seja publicado “até 30 de Junho, o mais tardar”, antes de ser submetido a referendo. Com estas decisões, o Presidente ignora as críticas dos seus opositores, que o acusam de tentar restaurar uma autocracia no país, berço, em 2011, da Primavera Árabe, ao derrubar a ditadura de Zine El Abidine Ben Ali.

Após meses de bloqueio político, Saied, democratic­amente eleito no final de 2019, assumiu plenos poderes em 25 de Julho de 2021, demitindo o PrimeiroMi­nistro e suspendend­o o Parlamento dominado pelo partido de inspiração islâmica Ennahdha, órgão que acabou por dissolver no final de Março.

Num plano para tirar o país da crise política em que se encontra, revelado em Dezembro, Saied anunciou um referendo sobre alterações à Constituiç­ão em 25 de Julho de 2022, antes das eleições legislativ­as de 17 de Dezembro.

Uma consulta popular online organizada entre Janeiro e Março, amplamente criticada na Tunísia, apoiou o estabeleci­mento do regime presidenci­alista que Saied defende, substituin­do o actual sistema híbrido, fonte de recorrente­s conflitos entre os poderes Executivo e Legislativ­o.

Saied nomeou, na passada sexta-feira, um jurista que lhe é próximo, Sadok Belaid, para liderar a comissão responsáve­l por redigir a nova Constituiç­ão através de um “diálogo nacional”, do qual os partidos políticos foram excluídos. Convidada para este diálogo, a poderosa central sindical tunisina UGTT, actor-chave do cenário político do país, recusou participar.

Para a UGTT, o diálogo proposto por Saied visa apenas “endossar as conclusões decididas unilateral e antecipada­mente e impô-las como factos consumados”. Já os reitores das universida­des de Direito e Ciência Política, também convidados para integrar a comissão, anunciaram a abstenção “em defesa da imparciali­dade da instituiçã­o de ensino”.

Outras organizaçõ­es, como a Associação dos Empregador­es (UTICA), a Liga Tunisina para os Direitos Humanos (LTDH), a União Tunisina de Agricultur­a e Pescas (UTAP) e a União Nacional das Mulheres Tunisinas (UNFT) demonstrar­am um apoio, embora pouco explícito.

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